Cutuco

Hoje aprendi uma frase sábia de minha avó Silvana. Quando alguém estava passando por problemas com alguém da família, ela dizia: “Ligue não. Toda família tem um cutuco”, querendo dizer que toda família tem alguém que dá trabalho, ou que é do contra, ou que é chato, ou tudo isso junto.

Hoje fiz a peregrinação pelos familiares da minha avó. Boa parte dos filhos das irmãs dela mora num povoado chamado Lagoa do Saco. Romana me levou até lá, fui recebido do jeito de sempre (“mas é o vô dele todinho!”). Levei um caderno e fiquei feito um doido anotando o nome de cada pessoa, e em que galho da árvore genealógica se aboletava. Uma das primas do meu pai mostrou uma foto da minha avó com as irmãs e o único irmão (o outro já devia ter morrido; originalmente eram 6 irmãs e 2 irmãos). Pelo que entendi, era um povo muito unido: viviam visitando e ajudando uns aos outros. Minha avó, descobri, era chamada de “Tia Menininha”. Por quê? Sabe Deus.

Belarmino, que é casado com uma das sobrinhas da minha avó, contou que meus avós davam festas lá na Silgueira e recebiam todos muito bem. “Era gente muito boa, respeitosa, decente”. O Belarmino ia com a namorada, porque lá era bom para namorar. “Tinha um banco grande lá, a gente ficava lá horas…”. Perguntaram quem era essa namorada. “Essa princesa aqui”, disse ele, apontando para a esposa, Francisca, que fez uma cirurgia no joelho, está usando um andador e tem um acesso venoso no braço.

Lá pelas tantas, chegou o Valdeci. Levei um susto: Valdeci é a cara do meu pai, fala balançando a cabeça como ele fazia, faz gestos largos. Quando vai contar uma história divertida, começa a rir antes da parte engraçada. Igualzinho. Chamei ele de Lindauro Genérico.

Meu caderno está cheio de anotações. Como já tinha acontecido em Estância em 2007, terra da minha avó materna, vejo minha família aumentar de repente. Isso é um tesouro muito grande. Se tem alguém lendo isto aqui, recomendo que você visite a terra dos seus antepassados. Contei para a Edite, prima do meu pai, que estava me sentindo muito bem aqui em Monte Santo, como se estivesse em casa. “É o sangue”, ela disse. “É muito forte.”

Voltei à cidade feliz, pensando na família incrível que tenho. Meu pai, que já foi, minha mãe, meus irmãos… Nenhum deles é um cutuco! Que sorte, a minha!

Mas aí pensei um pouco mais e acho que preciso atualizar a sabedoria de Dona Silvana: “Toda família tem um cutuco. Se você acha que a sua família não tem, é provável que o cutuco seja você”.

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