Pete Towshend, guitarrista do The Who, conta que uma vez, lá pelos anos sessenta, ligou para a casa de Eric Clapton. “Eric, estou deprimido, preciso conversar com você”. Foram os dois a um cinema e Towshend desabafou: “Eric, tem um neguinho tocando aqui em Londres que veio para acabar com as nossas carreiras”. O deus da guitarra achou que o amigo estava exagerando, até presenciar a performance de Jimmi Hendrix no palco e ficar preocupado também.
Outra historinha parecida: Diz a lenda que num dos primeiros shows de Gilberto Gil, Vinícius de Moraes levantou-se da platéia, bêbado, e gritou para o palco, meio de gozação e meio preocupado de verdade: “Tirem esse crioulo daí, ele vai tirar nossos empregos!”.
A que vêm essas duas historinhas? É sempre bom tomar muito cuidado ao chamar alguém de gênio. Além de Hendrix e Gil, eu classificaria como tais Machado de Assis, João Gilberto, Chico Buarque, Mané Garrincha, Ricardo Cerdeira… O quê? Quem é Ricardo Cerdeira? Oras bolas, é o Fleury. Não, não sei de onde veio o apelido, nós o chamávamos assim na escola e pronto. E qual é o talento que torna Ricardo Cerdeira um gênio? Bom, além de campeão inconteste de cabo-de-guerra (uma vez o vi puxar praticamente sozinho todo um time adversário, quando sua equipe já estava quase toda no chão), esse cara é um dos maiores escritores que eu conheço, sem exagero. Seu texto é elegante, direto, tem um senso de humor fino e agradável. Há mais de dez anos leio o que ele escreve, e ele sempre consegue me surpreender. Escrevemos um livro juntos em 1993, “A Serpente”. O livro é uma bosta, mas os capítulos escritos por ele (em folhas de caderno com sua caligrafia que beira o ilegível) são irretocáveis.
Dada minha condição de admirador nada secreto do Ricardo, vocês podem imaginar minha alegria quando soube que ele deciciu começar um blog. Entrei lá para ser surpreendido novamente. Visite você também o Quarta Via e deleite-se com um blog que, além de genial, muda de cor.
(Trecho: Assim, “A Quarta Via” me pareceu a escolha adequada, já que me dará a liberdade de flutuar facilmente em várias questões, não me prendendo especificamente a uma corrente. Quem tiver a paciência de ler minhas mensagens, poderá perceber que transito do PSTU ao PPB com freqüência.
Não sei quanto tempo o Quarta Via vai durar. Talvez acabe em uma semana, talvez dure anos… o importante é que cumpra sua função enquanto existir.)