MST

Sim, a invasão da fazenda do presidente foi abusiva. Nisso todos concordamos, até o Lula disse isso. Só acho ridículo o Fantástico dar destaque ao telefone quebrado. Vocês viram o telefone? É aquele preto de teclas grandes, que se pode comprar por 25 reais em qualquer loja. E ninguém garante que o tal telefone vagabundo já não estivesse quebrado. Mas tudo bem. Os sem-terra que invadiram a fazenda exageraram. Isso não torna ilegítimo o MST. A organização não pode controlar o que faz cada um de seus membros, e não pode ser responsabilizada por tais atos. Por exemplo: Se o Inocêncio Oliveira é um safado, sem-vergonha, ladrão e corrupto, como todos sabemos que é, ninguém tem coragem de sugerir que o PFL seja extinto. E vejam que estamos falando de um dos caciques de um grande partido político, e não de meia-dúzia de peões que, empolgados pelo fato de estarem na sede da fazenda do presidente, resolveram direcionar sua vingança cega para o lado errado.
Ah, e não é que o rico não seja preso no Brasil. É preso sim, mas a polícia vai até a casa dele, espera que ele tome seu banho e pegue umas roupas, e vão conversando com ele até a delegacia. Como vimos no caso do Jáder Barbalho, mesmo quando isso acontece, até juiz trabalha de domingo pra soltar o cara. Onde já se viu, um rico na cadeia? Ser criminoso ou não é o de menos, o cara é rico e poderoso, onde estamos! Mas quando são uns miseráveis que ousam levantar a cabeça por um momento, pronto: Deita no chão vagabundo, rasteja na lama, pobre tem que andar de cabeça baixa, será possível que você ainda não aprendeu isso? E eu sei que tem muita gente que viu aqueles sem-terra deitados no barro e achou bonito.
Bom, resumindo meu pensamento, apelo para Bertold Brecht:
Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário. E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence.
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legítima defesa. Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.

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