O ídolo da minha geração

Minha geração inteira era louca por ele, escutava o tempo todo, só eu era indiferente. Foi uma febre na minha época, e posso dizer que passei incólume.

Acho que fui um adolescente chato, sei lá. Metido a besta. Só queria saber dos americanos, dos ingleses. Meus pais diziam que eu devia valorizar o produto nacional, e eu nem dava bola.

Não sei explicar o porquê. Talvez o jeito dele de ficar parado recebendo o amor da multidão, o olhar num ponto fixo do espaço. Talvez da voz, que eu achava dramática demais, meio ridícula. O estilo dele também não me agradava. Talvez minha implicância viesse das pessoas na plateia: rapazes de olhos brilhando, meninas aos gritos e prantos. Achava tudo aquilo uma histeria, uma bobagem, por um cara que nem era lá essas coisas.

Fiquei triste quando ele se matou, sim. Um cara na idade dele meter uma bala na cabeça, é triste mesmo. Mas isso não me fez mudar de opinião. Não é porque o cara morreu que eu vou começar a gostar dele. Muitos amigos começaram até a relativizar: diziam que ele tinha se afastado da proposta inicial, traído o movimento, que o sucesso tinha subido à cabeça. A mim, era indiferente: não gostava antes, não passei a gostar depois.

Mas antes disso, meu Deus, que inferno! Como único a não ser picado por esse bichinho, eu me sentia excluído. Quando ele fez a turnê pela Europa, vários amigos meus foram na onda. Tem um que jura até hoje que acompanhou o cara em todas as cidades. Ninguém acredita, mas ele insiste. É patético.

A turnê foi aquela loucura que todo mundo lembra. Polônia, Áustria, Tchecoslováquia (naquela época ainda era Tchecoslováquia). Minha esperança era que ele fracassasse na França. Franceses são nacionalistas e blasé, jamais aceitariam produto estrangeiro assim. Para meu desespero, até os franceses se renderam.

Bom, mas aí aconteceu tudo aquilo que vocês sabem, ele deu um tiro na cabeça e encerrou a carreira prematuramente. Os fãs foram deixando ele de lado, tinham até vergonha de seu entusiasmo adolescente. Agora, tantos anos depois, vejo um revival daquela idolatria. Acho uma bobagem. Ele era ridículo naquele tempo; o é muito mais agora. Sempre preferi os americanos, os ingleses. Roosevelt e Churchill eram os caras.

Esse papo de Führer nunca me convenceu.

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