Tenho pensado em voltar a escrever aqui, mas sempre desisto. Só consigo pensar em escrever sobre meu pai e a falta que ele me faz, mas não quero. Não quero gente opinando sobre isso, como se alguém tivesse idéia do que estou passando nos últimos meses.
Pensei em voltar com o blog antigo, continuar tirando sarro da Bíblia, que se foda. Tenho tentado acreditar em Deus, mas não consigo. Nenhuma revelação acontece, é claro, e os argumentos de quem acredita soam ingênuos, infantis ou claramente desonestos. Só que não quero tirar sarro da Bíblia. Meu pai gostava muito da Bíblia, lia todo dia. Não vou fazer pouco de algo que era tão importante para ele, que era o lastro da vida dele.
Então não quero escrever nada. Foda-se.
Ta certo…
Respeite seu tempo e a falta q ele faz, nao tem como ser diferente…
Cara, não sou seu amigo nem seu conhecido, mas é impossível não se deixar conhecer através daquilo que escrevemos. Tive também uma puta perda pessoal há alguns anos, que posso dizer de cadeira, me aleijou por dentro. Deixei de fazer um monte de coisas que apreciava, e isso não me fez melhor. Escrever é pra você, pelo que se pode deduzir de muitas de suas postagens, uma parte essencial do que te define como pessoa. Não pare. Seu pai jamais se incomodou com o que você escrevia antes; certamente, sua fé estava muito acima de qualquer tipo de consideração externa. Não conheci seu velho, mas li o que escreveu sobre ele, e certamente ele não gostaria de vê-lo menos você do que você sempre foi. Siga em frente por ele.
-Senhor meu e mestre. Meu filho estava brincando entre as flores e tropeçou numa serpente que se enroscou no seu braço. Ficou logo pálido e silencioso.
Não posso aceitar que ele deixe de brincar ou que deixe o meu colo. Senhor meu mestre, dá-me um remédio que cure o meu filho.
O Iluminado respondeu:
-Sim irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti, se puderes consegui-la, porque os que consultam os médicos tomam o que lhes é receitado.
Procura uma simples semente de mostarda preta, porém só deves receber de uma casa onde nunca tenha entrado a morte, onde não tenha ainda morrido pai, mãe, filho nem filha, nem irmão, nem irmã, nem escravo nem parente.
Aflita, Krisha Gotami foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam, porém, quando ela pergunta se já tinha morrido alguém naquela casa, lhe respondiam:
-Ah! Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor.
Agradecida, ela lhes devolvia a mostarda e dirigia-se a outros que lhes diziam:
-Aqui está a semente, porém já morreu nosso escravo.
-Aqui está a semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e a colheita.
E não encontrou nenhuma casa onde não tivesse morrido alguém.
Krisha Gotami voltou chorosa para o Iluminado dizendo-lhe:
-Ah! Senhor, não pude encontrar mostarda em casa onde não tivesse havido morte. Então, entre as flores silvestres, na margem do rio, deixei meu filho que não queria mamar nem sorrir, e volto para ver teu rosto e beijastes pés suplicando-te que me digas onde encontrar essa semente, sem deparar ao mesmo tempo com a morte, pois, apesar de tudo não posso crer na morte de meu filho, como todos me disseram e temo tenha acontecido.
O mestre respondeu-lhe:
-Minha irmã, procurando o que não podes encontrar, achaste o amargo bálsamo que eu queria dar-te. Sobre teu seio, o ser que amas dormiu hoje o sono da morte. Agora já sabes que todo mundo chora uma dor semelhante à tua. O sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num só.
Marco, acompanhei o JMC desde o comecinho e nunca vi zombaria no que você escreveu. Vi, sim, carinho, e uma vontadezinha de continuar crendo naquilo que costumava ser confortador – acredito que ambos involuntários, mas nem por isto menos reais. Digo isto pra que você pense bem e não se diminua ao ponto de se considerar um “detrator” da Bíblia. Li a Bíblia “original” de capa a capa algumas vezes, mas li tudo o que você escreveu muitas e muitas – e não creio ter sido o único.
Cresci dentro da igreja evangélica e conheci algumas pessoas queridas que penso terem sido parecidas com seu pai. Se tiver razão, tenho certeza que ele viu nos seus escritos a mesma coisa que eu, e por isto não se sentiu desrespeitado ou ofendido.
Tudo isto pra “palpitar” que você continue escrevendo – por todos nós e principalmente por você mesmo. Quando fazemos uma coisa única, como você fez, não temos como saber onde vamos chegar com ela ou que resultados, intencionais ou não, vamos alcançar.
Marco, eu leio seu blog a muito tempo, e me lembro que a maior parte dos seus posts, nem foram sobre religião, incluindo o meu favorito (ganhando a independencia financeira com o cara que nem era gay), então se vc não quiser escrever sobre a biblia, não escreva,afinal esse site não e o JMC, e o blog do Marcúrelio e quem visita e porque quer saber de assuntos do dia-a-dia do Marcúrelio que sempre fez os seys fieis rirem
Abraço marcão!
Eu não sinto que acredito em Deus. Minha inquietação quanto ao assunto é referente à pós-vida; se existe ou não existe. Já conversamos sobre isso. Acho que nossa cultura coloca Deus como um tipo de super-pessoa, um amigo imaginário, e isso tudo acaba por cair no aspecto ingênuo, como se fosse uma história de conto de fadas. Eu mesmo concordava com ateísmo até uns 20 anos de idade (em alguns dias, completo 30), mas certo dia percebi o seguinte: esse argumento científico que limita a realidade ao que pode ser comprovado por acadêmicos é a verdadeira igenuidade. A realidade não é limitada às evidências científicas. Limitada é a capacidade de comprovação da ciência. Hoje em dia ouvimos falar de Richard Dawkins, mas alguém sabe dizer quais feitos esse cara tem como cientista? Porcaria nenhuma. O maior mérito dele é uma medalha de prata da sociedade de zoologia da Inglaterra. Avalie esse tema nos estudos de cientistas como Brian Josephsson, prêmio Nobel de física em 1973, ou Francis Collins, cientista que decifrou todo genoma (antes de Craig Venter), ou um que descobri há pouco tempo, Bruce Venter. Quanto à Bíblia, não acho que satirizar seja necessariamente fazer pouco; muitos estudiosos apontam ao humor encontrado nos textos religiosos, como a famosa Carta de Laudicéia, “seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito”. Humor é a maneira mais eficaz de transmitir mensagens, por toda retórica que sustenta essa arte. Como diz o chavão, “a maldade está nos olhos de quem vê”.
Antes do Dawkins começar a criticar a religião, ele fez a fama justamente como cientista. Seu livro “O Gene Egoísta” foi um enorme sucesso na década de 70, é citado em cursos das áreas Biológicas até hoje e é leitura quase obrigatória para quem começa a estudar a área. Existem outros livros dele sobre evolução menos famosos, mas que também merecem atenção.
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Sobre a vida pós-morte, seria ótimo, mas entra num campo totalmente improvável, especulativo e fantasioso. Exigiria explicações que estão muito além do que podemos supor. É um tiro no escuro, sem alvo, depois de uma bebedeira; o que cai justamente no campo religioso.
Mas que seria mto bom, seria…
*Bruce Lipton, não Bruce Venter. O Melhor mesmo é Brian Josephsson, mas esses são alguns de muito cientístistas que são menos ingênuos pois entendem que a ciência é nada mais que uma tentativa humana de entender a realidade. Como diz a frase de Schopenhauer, “Toda verdade passa por três estágios. Primeiro, é ricularizada, em seguida é contestada violentamente, e finalmente é aceita como evidente.”
Dawkins é general das tropas no segundo estágio, mas vamos em frente.
muito triste….
Nossa, tem nego fazendo fila aqui nos coments pra te converter Marco
Desculpe a sinceridade, mas concordo contigo: se você não quer escrever, não escreva. Sigo seu trabalho faz um porrolhão de tempo, não somente porque é muito bom, mas porque tudo que você publica me “soa” verdadeiro. Adoraria ler mais textos seus, mas com a mesma vibe de sempre, não pela necessidade de manter uma página atualizada. Sinto muito pela sua perda e entendo, de certa forma, o seu silêncio. E acho que você deveria escreva quando quiser, sobre o que quiser escrever. Sempre!
Volta com o JMC. Suas tirações de sarro não eram desagradáveis. Levavam mais evangelho do que muito pseudo pastor pentecostal por aí.
Ab, Allende
Sua tristeza é nítida. Manifesta-se na tua aversão em continuar com o projeto que, talvez, nunca tenha recebido uma crítica explícita do teu pai, mas que é provável que, no teu íntimo, você sabia que o desagradaria.
De tudo o que li, posso dizer que tratou sempre com o respeito que se espera de uma sátira. Brinca, provoca, mas não ofende. Pelo contrário, me pareceu muito mais eficaz para tratar dos ardilosos temas bíblicos do que as aulas de escola dominical.
Cabe aqui o respeito – e a admiração – pelo teu sentimento ao teu pai. E o desejo que esse sentimento possa se tornar, um dia, tolerável.
Marco, respeito sua dor…
eu achava o maior barato o sarro que vc tirava da Bíblia, inclusive aprendi muita coisa ali – como por exemlo a relação entre Abraão e Isac e Jeová apóso quase sacrifício do primogênito.
Embora presbitero de uma igreja pentecostal e tradicional, consigo ver humor nas coisas e ensinar que muita coisa não é bem assim como se parece…
Quanto á fé – é um exercício… quanto mais vc a exerciatr tanto maior ela ficará
Lá vai uma:
“O garoto voltou da escola dominical e a mãe perguntou sobre o que foi a aula. O moleque disse que foi sobre Moisés e a saída do Egito. A mãe pediu pro moleque contar pra toda a familia, durante o almoço, a historia que aprendera:
– Pessoal tinha um cara chamado Moisés que foi libertar seu povo que tava tudo escravizado por um tal de faraó. Ele foi com um exército de quase 200 mil soldados, invadiram o Egito, mataram tanta gente que o rio ficou cheio de sangue e veio vermes comer os cadáveres… veio inseto de todo canto pra jantar… então ele consegue num super-esforço tecnol[ogico construir uma super-ponte sobre o mar vermelho, por onde dá fuga pro pessoal, e toda vez que o exercito do Egito vinha pra perto deles ele soltava uma puta-mini-bomba atomica, que fazia um fumac~ero desgraçado. E o povo fugiu pela ponte, aí quando o exercito do egito tava sobre a ponte perseguindo o povo do Moisés, ele detonou a ponte e morreu todo mundo:
– Que é isso filho, a história não foi bem assim
– Eu sei mãe, mas se eu contasse o que a professora contou, vcs nao iam acreditar e ainda diriam que eu tava doido”
Abç
e boa recuperação…
faz 11 anos que perdi o meu e ainda sinto uma puta-falta
Rui
Cara, é seu o direito de mandar tudo se foder. Se você mudar de idéia, muitos ficarão felizes. No meu caso, eu lembrei hoje do seu site JMC pq estou lendo um livro chamado “os judeus, o dinheiro e o mundo” (escrito por um judeu, frise-se). E ele também faz um relato do antigo testamento. Mas o seu relato, que eu lembre, era mais legal.Pena que não pude tirar a prova dos nove.
São dois.Não consigo esquecer meu doce e lindo xodó…..Qto a DEUS, Foda-se ele. Já cansei de fantasminhas. O gasparzinho pelo meno é mais útil e me alegra um pouco
Não é fantasioso, posto que existe a Lei da Conservação das Massas, em que “…na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Já mediram o peso (21 gramas?) que desaparece do corpo no momento do falecimento. Se dentro de um quark já identificam 500 milhões de planks, quanto então caberia em 21 gramas? Bastante, não é? Se não existe vida pós-morte, não só é provável como também inevitável que a tal da evolução chegue num ponto avançado em que ela existirá, certo? Nada é mais concreto que nossa conciência, o acúmulo de nossos aprendizados e experiências individuais. Acho difícil registrar a possibilidade de que tudo que acumulamos na vida simplesmente deixe de existir. Nada nunca ‘deixa de existir’. Sei que é complicado, e como Marco Aurélio definiu bem, não somos capazes de entender. Também não entendo, mas acho mais difícil não acreditar na vida após a vida. Não sou religioso, e chego nessa conclusão por lógica. É um assunto interessante, e por ele tenho inquietação há uma década. Digo que tenho 99.999% de certeza que existe vida pós-morte. Gosto muito de discutir isso, mas é um assunto sem comprovação pra nenhum dos lados e isso sim é fato, por enquanto.
Fala seu ateu 🙂
Estarei aqui, esperando. Quando estiver pronto volte.
*consciência com ‘sc’, baralho! E faltou um ‘c’ também em ‘plank’; o certo é planck.
Acredito que não houver uma leitura piedosa de quem vc é… Certamente achará que vc está tirando um sarro da Bíblia. No entanto, tenho a impressão que vc acaba relatando como um cara hoje relataria um culto pentecostal.
Na verdade por detrás desse cara meio marrento. Existe um baita coração de um cara que quer se encontrar… Que fala o que pensa… Mas, que é legal de ler. Vc ainda vai se encontrar. Que Deus traga conforto a você, muito embora não mais creia Nele, contudo ainda assim Ele existe e te ama.
Abraço,