Empresinha safada

A tal de Ticketmaster se vende como prestadora de um serviço que facilita a vida das pessoas. À primeira vista, até parece verdade: antigamente, você precisava ir até o local do espetáculo ou evento que queria assistir, enfrentando trânsito e filas para conseguir seus ingressos. Agora basta entrar em um site, ou telefonar, e rapidamente você compra os ingressos, que serão entregues no conforto de seu lar. Lindo, não? Pois é.
Meu ódio pela empresa começou há alguns anos. Queria assistir a um show com venda exclusiva pelo site. Geek convicto que sou, achei o máximo: resolver problemas online é a grande alegria de minha vida. Comecei a me irritar quando vi o termo “taxa de conveniência”. Não se tratava de frete, taxa de entrega, nada: além do valor extorsivo do ingresso e do dinheiro extra pago para que ele fosse entregue em minha casa, ainda precisava pagar mais essa taxa inexplicável, conveniente apenas para os atravessadores da Ticketmaster. Tudo bem, não havia outro jeito, concordei com o pagamento. Depois, lendo as regras do serviço prestado, outra surpresa: o ingresso só seria entregue a mim ou a uma pessoa especificada no momento do cadastro, mediante apresentação de documento de identidade e fatura do cartão de crédito. Para quê, meu Deus? Concordei, passei raiva, recebi meu ingresso e, se bem me lembro, o show não valeu o sacrifício.
Desde então, tenho me recusado a utilizar os serviços dessa empresinha safada. Compro meus ingressos na bilheteria ou nos postos autorizados, desprezando internet e telefone, por mais que isso vá contra minha natureza. Mas eis que anunciam show de João Gilberto. Bom, vocês sabem (ou deveriam saber) de minha idolatria por João Gilberto. João é Deus, João é tudo. A venda dos ingressos ia começar hoje pela manhã, então preparei uma seqüência de planos:

  1. Entrar no site logo cedo para comprar os ingressos
  2. Se não desse certo, comprar por telefone
  3. Se não funcionasse, pegar o carro, estacionar na Fnac (que fica do lado do trabalho) e comprar os ingressos por lá
  4. Se não conseguisse, passar a manhã tentando comprar pelo site e por telefone
  5. Se desse errado, ir até o local do show (Ibirapuera) na hora do almoço e comprar os ingressos na bilheteria
  6. Se isso também falhasse, voltar ao item 4
  7. Se nem isso desse certo, sentar e chorar

Eu lhes digo que deveria ter ido logo ao item 7, pelo menos pouparia energia. De manhã, tentei fazer a compra pelo site, que travava por excesso de tráfego. O número de telefone estava constantemente ocupado. Na Fnac, me informaram que desta vez a bilheteria deles não era posto autorizado. No trabalho, fiquei tentando no site e pelo telefone. Quando consegui entrar na página de compra dos ingressos, fui recompensado pela mensagem “Consulte disponibilidade em outros canais”. O plural alimentou um pouco minhas esperanças, mas durou pouco: liguei para a bilheteria do Auditório Ibirapuera e me informaram que não venderiam os ingressos por lá. Ou seja, os tais “outros canais” resumiam-se a:

  1. Telefone
  2. Sentar e chorar

Então fiquei ligando, ligando, ligando. Depois de muito tempo, consegui ser atendido. Uma gravação. Tecle isso, tecle aquilo. Outra gravação. “Todo mundo tá ocupado, güentaí”. Musiquinha. “Digite o número de seu cartão de crédito”. Oba, agora vai. “Güenta mais um pouco, trouxa”. Musiquinha. Musiquinha. Musiquinha. Depois de uns vinte minutos, uma puta qualquer me atendeu só para dizer que os ingressos (de 30 e 360 reais) para os dois dias estavam esgotados.
Vejam que maravilha: os caras monopolizam a venda de ingressos mas não têm infra-estrutura para atender todo mundo. É claro que eu podia ter começado a tentar de madrugada, ou ficado dependurado no telefone, ignorando o trabalho. Mas o negócio é que eu nunca tive que sacrificar meu sono nem arriscar meu emprego para ver um show. Vi João ao vivo diversas vezes, queria ver de novo, não deu. Que se fodam os atravessadores. Em breve eles serão desnecessários. Todo mundo tem telefone celular, é mera questão de tempo para os organizadores de espetáculos perceberem que não precisam de uma empresa sem-vergonha como essa para fazer seu negócio: o nego paga com o celular, recebe o ingresso no celular, entra na casa de espetáculos usando o celular. Ou um cartão com chip. Ou biometria: impressão digital, íris, pregas do cu. A Ticketmaster é como o fax, já nasceu obsoleta. Vai falir logo e eu vou rir bastante.
E você, João?

Bléeeeeeeeeee

Bléeeeeeeeeee


É isso aí.

25 comments

  1. Bom,
    Eu sempre digo que João Gilberto está para a música mundial como o Sol para a via láctea…
    Entrei no site as 8 da manhã e comecei a tentar, ainda que soubesse que as vendas começariam as 10.
    Entre 10 e meio-dia tentei comprar por todos os canais. Não consegui. Sou carioca, moro em Fortaleza e estou em Caruaru a trabalho. Iria para São Paulo apenas para isso.
    Dia 14 começam as vendas para os shows do Rio. Vou passar pelo sofrimento de novo.
    Depois venderão para o único show em Salvador, no Teatro Castro Alves. Lá eu nem tento: única apresentação e um bando de exibicionistas que vão para o show de João Gilberto porque é “chique”…
    Agora é sentar, chorar e esperar pelo próximo show, em Nova Iorque…

  2. Cá na brasilândia é tudo assim, meia-boca mesmo. Lembra a confusão que foi na época do show do U2? Lá fora as coisas funcionam mais direitinho. Comprei via internet ingressos para um show e a taxa foi de 3.90 euros (pra um ingresso de mais de 60). O ticket vem em arquivo .pdf, a gente imprime e apresenta no dia, sem estresse. O site funciona e é rápido. E era, pasme, da Ticketmaster. Por aqui é esse inferno que você descreveu…

  3. ahh, não consigo mais. agora todo post seu eu vou imaginar como se fosse em vídeo e vou ficar com as suas sobrancelhas ultra expressivas na cabeça para todo o sempre amém.
    rs
    quero mais vídeo stand up! sei que não é o objeto do seu blog mas vc tem talento!! vc e suas sobrancelhas.. rs

  4. Cara, eu tenho suspeitas de que essa empresa é na verdade uma milícia que tira foto de uma arma apontada pra cabeça de um familiar dos artistas e diz: “Vendas exclusivas comigo e ninguém se machuca”.
    Absolutamente *ninguém* gosta desses caras, todo mundo reclama, são caros, incompetentes, mas é sempre exclusivo com eles?
    Ou então são os mesmos sócios dos dinossauros das gravadoras! Vão acabar com a lucratividade dos shows assim como acabaram com a dos cds.

  5. o show de chico em recife näo tinha ticketmaster, mas foi ainda melhor.
    ingresso: só na porta do teatro
    fila: quilométrica
    compradores: cambistas
    chega a sua vez: ingressoas esgotados
    =)

  6. “Eu sempre digo que João Gilberto está para a música mundial como o Sol para a via láctea…”
    hahahahahahahahaha. Isso pq o cara diz que é fã!
    Bom, sobre o texto, não entendi uma coisa. Você achou que só você ia querer entrar no site pra comprar? Ué, eram só 800 e poucos ingressos, tá todo mundo querendo, é claro que iam vender em minutos e o site não ia aguentar tanto acesso, e as linhas iam estar todas ocupadas… Pensa assim: se fosse uma bilheteria normal, seria pior. Só iriam conseguir os ingressos os que acampassem lá. Você perderia bem mais tempo de pé numa fila pra não chegar nem perto do guichê…
    Eu gosto da Ticketmaster. Também acho absurdo o valor da taxa de conveniência, e a burocracia com aquela merda de mostrar fatura de cartão, mas vá lá… Por não precisar ir numa bilheteria pegar fila, tá valendo.

  7. Também acho esse negócio de taxa de Conveniência ridículo. Os ingressos pra show – principalmente internacionais – já são uma facada, e ainda cobrarem mais não sei quanto porcento da tal taxa é uma exploração sem tamanho. Mas como sempre tem quem paga…

  8. “Marcorélio”…você disse tudo e um pouco mais do que eu penso a respeito dessa empresinha de merda!
    Eu, como irmã da Zel, não pude deixar de ser fã do “Jão”, mas no dia eu tentei comprar ingresso a qq custo, inclusive acessando a droga do site pelo celular (meu único recurso no trabalho) e, claro, acabei como você: sentei e chorei.
    Já estava p da vida por essa empresinha ser o único recurso, pois já desembolsei 80 reais para assistir um espetáculo de 80…ou seja, 160 reais.
    BOICOTE A ESSA EMPRESINHA MEDÍOCRE!!
    Abraços.

  9. Há esperança ainda? Bom, ontem entrei aqui no seu blog por acaso e até fiz graça anoninamente num post teu. E vi esta sua reclamação a respeito da ticket…. Não me saiu da cabeça, aí hoje ouvindo a rádia Jovem Pan, atentei para uma nota que dizia que o Procon, encontrou irregularidades na venda dos ingressos. Se tiver interesse e a fofoca não for velha, segue o link:
    http://jovempan.uol.com.br/jp/media/online/index.php%3Fview%3D16019&categoria%3D11&page%3D0
    Dá-lhe Chicote! (Hum, isso pode ser sua saudação de despedida nos video-posts.)kkkk

  10. Não gosto de João, não curto a música, não vou com a lata dele. Lá por dentro eu fico até feliz por ser um a menos a estar dando dinheiro para o sujeito.
    Entretanto, como apreciador e incentivador de espetáculos vou me solidarizar e gritar contigo “morram atravessadores”

  11. Marcurélio, esse pessoal da TicketMaster é uma quadrilha. Criminosos, mesmo.
    A única vez em que cai na esparrela de comprar ingresso na mão deles foi para um show em homenagem à memória do Senna, não me lembro em qual estádio de futebol aqui de Sampa.
    Na FNAC, me mostraram os lugares dos dois ingressos (meu e da patroa) que comprei como sendo na frente, bem posicionados.
    Chegando lá, os funcionários não sabiam indicar onde seriam nossos lugares, a princípio. Uma pequena multidão de vítimas da Ticket já estava zumbindo em volta do pessoal da “organização” do evento como um enxame de abelhas africanas enfurecidas.
    Meia hora depois, finalmente localizaram o setor que nos estava reservado. Um ponto quase ao fundo do estádio, bem no alto, mas saindo do fundo para a lateral apenas o suficiente para que o palco ficasse fora do nosso campo visual, atrás das pilastras.
    Só víamos uma borda do telão e uma das colunas laterais do palco.
    Isso com meio estádio vazio, então parte do grupo que comprou ingressos pela IdioTicket EmbroMaster pegou um funcionário da organização pelo colarinho e só soltou quando conseguiu que fossemos transferidos para lugares vazios um pouco menos piores.
    Além dos preços abusivos e das taxas extorsivas, ainda agem de má-fé e não se comunicam com a organização dos eventos cujas entradas comercializam. São uns ordinários da pior espécie.
    Se você odeia a TicketMaster, bem vindo ao clube!

  12. Nunca comprei no Ticketmaster mas ja passei sufoco semelhante quando fui ver Winton Marsallis no Municipal de São Paulo, eles não vendiam ingressos pra platéia, so para Foier e balcão e pra o lugar que chamo de “puleiro das galinhas” lááááááá em cima no teatro, mas confortável ver o palco pulando de para-quedas de tão alto que é. E quando fui assistir, o teatro estava com a plateia vazia, pois era os lugares reservados para os “patronos” (patrocinadores) do teatro, que pelo visto não deram os ingressos nem para as amantes deles….

  13. Repita comigo:
    “Nenhum artista ou show vale a minha dignidade”.
    De novo:
    “Nenhum artista ou show vale a minha dignidade”.
    Mais três vezes. Isso. Agora repita isso toda vez que estiver em processo de tentativa de aquisição de ingressos para shows mal organizados. Você perceberá que em pouco tempo não se dará mais a este tipo de rebaixamento. Vai te poupar MUITO tempo na vida.
    Convença mais algumas pessoas a passar pelo mesmo processo, ensinando-lhes este mantra, e quem sabe assim ensinemos ao público brasileiro a deixar de ser burro e ovelhinha e a boicotar espetáculos a preços extorsivos, forçando os grupos de organizadores a oferecerem serviços melhores e a rpeços masi realistas. Temos que tentar!

  14. O pior é quando você compra com a opção de retirar o ingresso na bilheteria do local do evento e ao chegar descobre que a fila pra quem comprou pela internet é maior do que aquela destinada a quem vai comprar na hora.

  15. Só tentei comprar pelo site da ticketmaster 1 vez, quando li sobre a taxa de convêniência (a bagatela de 45 reais na ocasião) mandei um sonoro “VSF” e fui comprar no posto de vendas mais próximo.
    Ticketmaster = cambista de luxo

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