Já repararam no quanto a história humana se complica com o passar do tempo? Pensem em como era na pré-história bem pré-histórica mesmo: acorda. Sai da caverna. Corre pra pegar umas frutas na árvore mais próxima. Corre de volta pra caverna com medo do mamute. Reúne-se com o clã para uma animada catação de piolhos, o que de quebra fornece proteínas. Faz sexo sem saber bem por quê. Dorme. Pronto: assim são todos os dias dos 14 anos de vida do homem pré-histórico.
Durante milênios, mesmo com a evolução do cérebro humano e de suas técnicas cada vez mais complexas, o roteiro básico permaneceu muito semelhante: arar a terra, plantar, torcer pela chuva, colher, construir um barraco para a família, entrar em guerra com a tribo vizinha, um tédio só.
Então o que aconteceu? De repente ficamos complexos e interessantes demais, e tudo começou a acontecer mais rápido e de formas mais surpreendentes e mesmo harmônicas. O que houve?
Eis a minha tese: por muitos milênios, Deus foi o único roteirista de nossa história. Mas sabem como é Deus: o negócio dele é construir as coisas, ou destruí-las eventualmente. Um trabalhador braçal, pois (embora a construção do universo tenha sido toda na base do “haja isso”, “haja aquilo”. Ainda bem que ele não ficou impaciente com nada no meio do processo a ponto de dizer “haja saco”, porque não sei como seria o mundo. Ok, ok, parêntese longo, já volto). Como eu dizia, um trabalhador braçal, sem grandes pendores artísticos. Então escreveu lá um template de roteiro, achou que estava bom e pronto. Com o tempo os atores começaram a improvisar, para surpresa do autor, mas nada que fugisse muito ao script original.
E então o homem inventou a escrita. Inventou e, como acontece com quase tudo que cria, ficou um tempão sem saber bem o que fazer com a invenção. Mas gosto de pensar que o negócio lá em cima começou a mudar com a morte de Homero. Chegou por lá, preencheu os formulários de praxe, e foi chamado por Deus para um particular.
— Heráclito…
— Meu nome é Homero, ó grande Zeus!
— Mané Zeus! Meu nome é Javé!
— Javé? Peraí. O deus daquele povinho bunda, os hebreus, é o verdadeiro Deus?
— Pois é, rapaz! Piada boa, né? Então, mas não te chamei aqui para discutir teologia. Assunto besta. Queria era te pedir um favor.
— Um favor, Javé?
— É, é. Há um tempão que eu escrevo a história do povo da Terra sozinho. Você não quer me dar uma força com isso não?
— Hum. Como são os prazos?
— Mané prazos! Isto aqui é a eternidade, rapaz. Vai escrevendo aí e a gente vai enfiando na história lá embaixo.
— Então tá.
Gosto de pensar que Homero começou a história da colaboração dos escritores mortos nos roteiros de Deus. Iam morrendo, e o batalhão de roteiristas ia aumentando. Ésquilo, Virgílio, Dante Alighieri, Shakespeare, Cervantes, todos eles. E Vitor Hugo, e Dostoiévski, e Tolstói, e Machado de Assis, e outros escritores que jamais cometeriam a fealdade de separar itens numa enumeração com a conjunção “e” após a vírgula. Não é à toa que todo o século XX foi como foi: boa parte de sua história ficou a cargo de Julio Verne e H.G. Wells. Queriam o quê?
Por isso é que eu não quero mais estar por aqui quando morrer o Marcelo Mirisola.
O que precisa ser levado em consideração são os critérios que ele usa para escolher seus roteiristas e pensando bem, pode ser Hitler e Charles Chaplin que estão fazendo o roteiro por agora.
Impressionante sua estória, fico admirado com o que a falta de sono pode fazer a pessoa!!!Hehehe
E o Paulo Coelho, hein?
hahahahahahahahahahaha
Psionante! Amigo, você é o máximo, o Aleph e o Omega, vous êtes le phenix des hôtes de ce bois, je t’aime, etc e tal. Continue assim, que eu gosto de rir com os neurônios. Ah, falar nisso, vejo que a cacetada não afetou muito teu miolo, né?
Beijos da tia Dal.
hahahaha credo, Marco!
Deixa de ser pessimista! 😛
Fantástico! Adorei a parte do “haja saco”.
Acho que o roteiro da minha vida foi escrito por Álvares de Azevedo.
Que Dan Brown viva pelos séculos e séculos.
E o que me dizem? E qdo o Marcurélio morrer? kkkkkkkkkkk
Já que é pra chicotear, vamos fazer o negócio direito!!
coisa linda esse pensamento
**pobre marco…
ainda esta delirando!
nhá! Não existe vida após a morte…
Ésquilo era amigo do cóelho e do serélepe?
Isso quer dizer que quando o Paulo Coelho morrer, o mundo vai ser a coisa mais sem sentido em sem graça já existente? Torçamos pra que ele, como um bom membro da Academia Brasileira de Letras, seja um imortal. Senão, fodeu. Ah… e se o Michael Moore morrer, fodeu é pros EUA, acho… Aumentando (e piorando) o comentário: onde vamos parar quando morrerem as pessoas que escrevem aquelas porcarias que vendem nas bancas, com os nomes de “Sabrina”, “Júlia”, essas encrencas?
Melhor nem pensar…
Aê, Marco, que bom que vc tá bem, e que sua escrita nada sofreu com a pancada. Esse post está muito bom. Eu tava engasgando de rir já na introdução, aobre a vida do homem pré-histórico!!!
Aê, Marco, que bom que vc tá bem, e que sua escrita nada sofreu com a pancada. Esse post está muito bom. Eu tava engasgando de rir já na introdução, aobre a vida do homem pré-histórico!!!
Quanta imaginação. De onde vc tira essas histórias tão engraçadas?
Parabéns!
Bjos e sucesso.
É, acho que essa sua tese é meio furada. Interessante até, mas se Shakespeare tivesse escrito parte da nossa história todo mundo tinha morrido no fim. E José de Alencar, então? Não dá para ler o que ele escreve de tão chato, imagine viver então. Mas o que mais me dá medo é o que iria acontecer se morressem Paulo Coelho, Jô Soares e Mário Prata. Será que eles iriam brigar com Umberto Eco, Cortazar e mais? Quem decide quem escreve o quê? Porque acho que não daria certo se Tolkien ou J. K. Rowling quisessem dar seus palpites.
Enfim, só uma opinião. Mas a vida seria muito mais legal se fosse escrita por Guimarães Rosa, isso sim.
Guimarães Rosa deve ter escrito o episódio da Torre de Babel.
Guimarães Rosa deve ter escrito o episódio da Torre de Babel.
será que no inferno também é assim? se for não vejo chance de escaparmos de paulo coelho…
Massa o texto…….mas tem previsão pra tua morte??????? quero estar vivo pra morrer de rir com o que vai rolar quando vc pegar na caneta do divino
Já pensou, Mirisola escrevendo a história da humanidade?!!! Fuquei só imaginando a loucura que ia ser. Adoro o Mirisola.
bom… no comentario do Ivan Vignola Zurawski, eu sinceramente acho que os tais escritores de bancas ja morreram, por isso o mundo anda tão sem noção.. hehehe parabens pelo texto!
Não gostei deste site,porque brincam muito com a palavra, e o nome de Jesus.A hora que Deus tocar o dedo em voçes,não precisa nem tocar a mão só o dedo dele,irão ver que ele é um Deus de poder.No tempo de Noé, muitos zombavam de Deus,depois veio o diluvio já era tarde demais.O senhor da tanto livramentos a voces, que nem sabe que é Deus que a livrou e é assim que agradecem.
Filosofia pura (risos). Ainda bem que Deus não vai escolhendo qualquer hum para redator. Mas, gostaria bastante de viver algo escrito pelo Paulo Francis. O que será que ele anda fazendo lá, que não mete o bedelho nessa história?