(II Samuel 16)
Tendo enviado Husai de volta a Jerusalém, Davi continuou sua fuga. Depois de passar para o outro lado do Monte das Oliveiras, foi surpreendido pela presença de Ziba, empregado de Mefibosete, neto do finado rei Saul. Ziba trazia dois jumentos carregados de víveres: duzentos pães, cem cachos de passas e outros cem de frutas frescas, um odre de vinho. O rei chegou perto e perguntou:
— Eita, Ziba! O que você vai fazer com tudo isso?
— Enfiar no cu do curioso. Porra! Os jumentos são para você e sua família, a comida e o vinho são para a viagem.
— Puxa, fico até comovido.
— Bah, não enche.
— Cadê o Mefibosete, seu patrão?
— Ah, aquilo é um filho-da-puta traidor! Ficou em Jerusalém, diz que agora o trono será devolvido à família de Saul, quer dizer, a ele mesmo.
— Aleijado filho de uma quenga!
— De uma quenga e daquele veado do Jônatas…
— COMO É? VOCÊ CHAMOU O JÔNATAS DE VEADO?
— Veado? Quem falou em veado? Eu falei foi finado.
— Hum. É bom mesmo. Bom, você é grosseiro e desagradável, mas pelo menos é leal. Eu sempre soube. Eu sou assim: olho na cara de um sujeito e já sei se ele tem caráter ou não.
— Sei, sei… Foi o que o senhor fez com Mefibosete, Absalão, esses caras?
— NÃO VEM AO CASO! Deixa eu continuar: tudo o que era de Mefibosete agora é seu.
— Quem disse?
— EU disse! Eu, o rei!
— Ah. Mas o rei agora não é Absalão?
— POR ENQUANTO!
— Se você diz… Bom, vou seguir meu caminho. Até logo.
Fazendo uma mesura irônica, Ziba afastou-se, e Davi continuou seu caminho, acompanhado pela comitiva. Quando chegou à cidade de Baurim, foi interpelado por um certo Simei, filho de um tal Gera, parente de Saul. Simei parou na frente do jumento do rei (vocês entenderam) e começou a berrar:
— FILHO DE UMA QUE-RONCA-E-FUÇA! MORDE-FRONHA! CORNO! FILISTEU! CORINTIANO!
O rei tentava contemporizar:
— Opa, peraí, que que há, também não é assim…
Mas Simei continuava gritando seus impropérios:
— ASSASSINO! MATOU TANTA GENTE DA FAMÍLIA DE SAUL, E AGORA JAVÉ TÁ TE CASTIGANDO, SAFADO! O REINO ESTÁ NA MÃO LÁ DAQUELA BICHA CABELUDA QUE É SEU FILHO, E VOCÊ TÁ NA MERDA! AHA, UHU, DAVI TOMOU NO CU! TODO MUNDO COMIGO!
— Aha, uhu, Davi t…
— Calaboca, Itai. Ô, Simei, acalme-se…
— NÃO TÔ TE OUVINDO! — tapou os ouvidos — LALALALALA-LA!
— Vai deixar, majestade? Vai deixar? IIIIIIIIIH, eu não deixava!
— Fica na sua, Abisai.
— Mané o quê! O cara tá te xingando e vai ficar por isso mesmo? Se você der permissão, eu vou lá e corto a cabeça do puto.
— Ah, é? E quem garante que não foi o próprio Javé que mandou esse mequetrefe vir me xingar? Acho que Deus não gosta mais de mim, e deve ter lá suas razões. Além do mais, o meu próprio filho quer me matar; o que esperar de um parente do falecido rei Saul? Deixa o cara gritar, tá no direito dele. Talvez um dia Javé tenha dó de mim e troque essas maldições por bênçãos.
Assim Davi continuou sua jornada, e por um bom tempo foi seguido por Simei, que jogava pedras, terra, e xingava. Davi, que até poucos dias antes fora soberano absoluto sobre todo o Israel, nunca passara por tamanha humilhação. Além do mais, a situação era muito embaraçosa para aqueles que o acompanhavam: o rei perdera seu trono e agora fugia sem rumo, desancado por um zé mané qualquer. Foi, portanto, com cansaço mais moral do que físico que a comitiva chegou ao rio Jordão.
Enquanto isso, Absalão transpunha as portas e entrava em Jerusalém. Husai, o espião enviado por Davi, foi encontrá-lo:
— Salve, majestade! Que beleza de cabelo, hein? E que túnica!
— Ué, ué! Que porra é essa, hein? Que porra é essa? Cadê a fidelidade ao seu amigo? Foi só o bicho pegar que você abandonou o cara?
Husai sentiu nojo ao ouvir Absalão referindo-se assim ao próprio pai, mas conteve-se:
— Mas não tinha outro jeito, majestade! Isto aqui é uma teocracia, é ou não é? Então! Eu fico do lado daquele que Javé escolhe. Eu servi o senhor seu pai durante muitos anos, e agora quero servi-lo. Bom, se o senhor quiser, é claro.
— Ué, ué! Pode ficar, oras. Pode ficar. Só não me atrapalhe.
— Fico muito grato, majestade.
— Tá, tá. Vá puxar o saco de outro. Aitofel! AITOFEL! Cadê esse putão safado?
— Aqui, majestade.
Com a chegada do conselheiro, todos se calaram. Aitofel fora respeitadíssimo durante o reino de Davi, havendo quem dissesse que tinha sobre o rei ascendência maior ainda do que a de Joabe. Para o rei deposto, as palavras de Aitofel eram como palavras do próprio Deus.
— Aitofel, aqui estamos. Entrei na cidade. Entrei na porra da cidade! Sou o rei! Viva o rei!
— VIVA!
— Mas, venha cá… Eu tenho que mostrar a esse povo quem é que manda, sabe? Não quero ouvir nego cochichando por aí que o outro era melhor e coisa e tal. Entende?
— Entendo, claro. O senhor está meio inseguro, é normal no começo…
— INSEGURO? Quem está inseguro? Eu sou o rei, tá sabendo? EU MANDO NESTA PORRA TODA! Inseguro, humpf. Sou o rei. O REI!
— Sim, sim. Desculpe, majestade, me expressei mal. Enfim, o senhor me pergunta o que fazer para demonstrar sem sombra de dúvida que é o chefe agora. É isso?
— Exatamente.
— Pois é fácil: durma com as concubinas de seu pai.
— Como é que é? Eu peço um conselho e você me manda comer as amantes do velho???
— É, ué. O senhor pode vir morar no palácio, assentar-se no trono, fazer caminhadas pelo terraço, nada disso vai adiantar muito: sempre poderá haver alguém que pense na possibilidade de Davi voltar. Mas se você tiver relações com as concubinas dele, vai ficar bem claro que agora é tudo seu mesmo, sem discussão.
— Hum… Acho que entendi. Comendo as mulheres do meu pai, deixo bem claro que rompi de vez com ele, que não o respeito. É isso?
— Isso, isso!
— Ah, nunca achei que seria tão fácil. Vou lá para o harém agora mesmo começar meu serviço.
— Er… Aceita uma sugestão?
— Usar camisinha? Nem precisa dizer!
— Não, não é isso. Seguinte: o negócio tem que ter impacto, sabe?
— Pô, Aitofel, eu me garanto!
— Eu sei, conheço sua fama, majestade. Mas eu tava pensando era num jeito de tornar isso um grande acontecimento. Peraí, já volto.
O conselheiro saiu e voltou com meia dúzia de servos.
— Ei, que é isso? Não preciso de ajuda não!
— Calma, majestade. Trouxe esses homens para montarem a tenda.
— Tenda? Que tenda?
— A tenda onde o senhor vai passar na cara as concubinas de seu pai.
— E vão armar essa tenda onde?
— No terraço do palácio, que é pra todo mundo ver.
— Aitofel?
— Sim, majestade.
— Você é um tarado, o maior pervertido que já conheci.
— Obrigado.
E foi assim que Aitofel acumulou uma pequena fortuna: vendendo ingressos para quem quisesse ver o novo rei dar demonstrações de seu vigor juvenil. A cada concubina que fodia no sentido literal, Absalão sentia como se estivesse fodendo mais um pouco seu pai no sentido figurado. Coisa triste de se ver, mas poderia ser pior: imaginem se fosse o contrário…
Aitofel filmou tudo e ganhou mais dinheiro ainda com a venda das imagens em lojas especializadas e pela internet. Enfrentou problemas com pirataria mais tarde, mas isso já foge à nossa história.
A crise acabou ???
Sinto te dizer isso… tá no teu sangue! Escrever, escrever, escrever! Seja bem vindo novamente e que se acendam os holofotes!
Se me permite, um abraço!
Putz, devia ter uma mulherada velha pacaralho la! Tudo chamando Absalão de “meu filho”…
Mas nesse aqui vc se superou. Tá piorando, benhê!!!!! Vou ali no banheiro senão eu faço pipi na roupa (mulher não mija,né?) na frente dos outros.
Tu é pela-seco mermo! Diz que tá em crise e depois escreve mais um capítulo. Agora vai ter que fechar! Vou chamar a SUNAB, quero meu dinheiro de volta! 🙂
Desculpe, quis dizer pela-saco!
Tirar férias te fez bem, Marco Aurélio! Te fez bem! Nada de pressa para acabar!
Desde o começo eu achei que esses diálogos pareciam briga de puta na zona.. O final confirmou minhas suspeitas.
(brincadeira, melhorou, melhorou….)
Cara, esse post tá foda.
Os diálogos voltaram mais inteligentes.
E com trocadilhos mais oportunos.
Você voltou com classe A.
Beijundas!
Clap, clap, clap…
E no princípio era a sacanagem.
Dalhe, Garoto!!!!
Acertou a mão denovo…parabéns.
[]´s Marcelo