Você alimenta um sentimento, ou a outra pessoa alimenta um sentimento por você, ou, com muita sorte, vocês o fazem simultaneamente. Não importa: todos os amores vão para o caralho, e um dia esse de vocês também irá. E isso nem é pior: que um sentimento morra, tudo bem, estamos acostumados. O ruim mesmo é agüentar o velório.
Porque aí não há mais possibilidade de convivência normal entre você e o outro. Vocês até tentam emendar uma conversa qualquer, mas o sujeito deitado no meio da sala com algodão nas narinas os impede com o peso de sua presença defunta. Você tenta dizer algo casual e besta, mas é forçado a se interromper no meio da frase, porque o finado começa a cheirar mal, o maior dos embaraços. E você tem que tapar o nariz e exclamar “Que horror!”.
Até que o morto é enfim levado para sua sepultura, as janelas são abertas e o chão, varrido. Você olha para a outra pessoa e vê em seus olhos o mesmo alívio que você experimenta. “Quer café?”, você pergunta, e vão para a cozinha, já conversando animadamente sobre o tempo, ou fofocando a respeito da vizinha gorda, ou contando piadinhas. Porque, sem a presença opressiva daquele amor que morreu, vocês enfim são livres.
Sentimentos morrem todos os dias: são assassinados, suicidam-se, morrem de velhice ou nalgum acidente estúpido. Vem o velório em seguida, e esta é a pior parte. E é uma sensação e tanto quando ele acaba, e nos vemos livres daquele cadáver atravancando a sala.
Apresentei seu blog pra minha colega e vc já colocou o comentério dela. Aline te pego depois (brincadeira amiga, já estou morrendo de saudades de vc, quero te ver no ITA)
Besta.
Nossa, que texto foda, Marco.
*
Muito, muito foda. Um beijo pra vc, menino talentoso.
Era isso o que estava me faltando, mas já mandei “pro caralho” e, ora bolas, que alívio! Agora só falta fazer o café e fofocar sobre o vizinho (vizinha gorda é deprimente).
ah, marco aurélio.
amor que acaba não é amor, já dizia nelson rodrigues.
Não vejo a hora de sair do velório na qual me encontro há um bom tempo! Obrigado pelo texto!
Marco, o texto caiu como uma luva pra mim. Veio na hora certinha, em que a ingrata largou o que nunca tivemos. Obrigado por iluminar!
às vezes não morreu. às vezes é apenas coma. resta decidir se se deve desligar os aparelhos ou dar uma chance ao pobre-diabo.
Po, bicho…
Eu to no primeiro dia de velório. Não tive a identificação com o seu texto. Ainda amo.
E – numa boa? – voce tem um talento ímpar de esculhambar essa doce sobrecarga de endorfinas e serotonina que se chama amor.
Coisa de corno ressentido.
No que me diga respeito, amei, amo e amarei quantas vezes e pessoas me for permitido.
Não esculhambo o amor, Paulo. Você que é meio burrinho: eu só disse que, quando o amor morre, é bom a gente se livrar logo do defunto, até para preparar espaço para algum amor futuro.
Sensacional. Fantástico mesmo. Estava com saudades dos seus textos mais pessoais. Não é a toa que você se tornou o meu “webwritter” predileto.
Parabéns…
E desculpe a “babação de ovo”…
Devo dizer três coisas:
1. Eu tenho lido constantemente seus textos e devo dizer que vc ultrapassa as raias dos textos literários mais belos da história. E não estou falando de suas paródias da Biblia, estou falando de seus pensamentos. Intimistas, belos, ácidos e perspicazes.
2. O amor, quando morre, doe mais do que a morte de alguém querido. Chico, em sua santa sabedoria, já disse que o amor perdido é igual a “arrumar o quarto do filho que já morreu”. Ele associou isso à saudade, mas tb podemos usar para amores mortos.
3. Eu não li o Codigo Da Vinte. Mas li André Vianco e se ele seguir a linha de Vinaco em termos de escrita, pelo amor de deus! devemos temer o mercado literário mundial ou as tradutoras!
Parabéns por sua perspicácia marco Aurélio!.
forte abraço.
Vc consegue ser pessoal sem se expor.
Simplesmente fantástico esse texto.
E olhe, foi só por causa daquele primeiro post, sobre os amores que vão para o caralho, que eu li “O Amor nos Tempos do Cólera”. Nem preciso dizer que virou um dos meus livros prediletos.
O problema é quando o defunto é cataléptico (logo, não é defunto). A gente quer enterrar o desgraçado, mas ele acorda do nada e põe todo mundo pra correr…
Meio down, mas excelente.
Assim como com as pessoas, com o amor: morreu, faz uma prece. E deixa ir embora.
Um beijo.
Pode somar mais um ponto no placar de elogios rasgados ao texto. Abração.
Tudo o q acaba é pq nunca começou, mas que seja eterno enquanto dure…
*aplausos de pé*
discordo do Tandrilion,tudo que começa tem um fim e não “tudo que acaba é porque não começou”.
concordo com todos os elogios acima,acredito ter sido,sem dúvida,um dos melhores textos que li aqui.
Releia o post Autocrítica. Sério. Eu espero.
Leu ? Ahhh tá…
Agora vê se para de frescura !
Falta de inspiração… tisc tisc tisc
🙂
Mmm… Em bons casamentos, quando o amor acaba, sobra o companheirismo, a amizade. Não se jogam fora anos e anos de convivência, de confiança, de cumplicidade. Acho que o próprio ser humano se cansa de sair por aí procurando um outro amor. Só porque o atual não queima como antes, deve-se descartar a pessoa que o causava?
O negócio é encontrar alguém que não esteja mais disposto a sair por aí procurando outro amor.
Cara, vc conseguiu mandar a mais pura verdade nesse texto, e mandou bem pra cacete. Realmente faz a gente para pra pensar. Abraço!
Ah, tá…
Mal aê…
É que eu sou assim desde pequeno…
De qualquer forma, abluééééé!
Não acho que sentimentos morram,acho que se transformam…
O velório que você diz é porque ele não morreu por completo. Sei lá, quando um sentimento morre dentro de mim, velório e enterro passam desaparecebidos e é uma sensação horrível, porque ele não se transformou em nada… não sobrou absolutamente nada.
Puts… Quanta gente participando de velórios viu! E aqui vem mais um. E o pior é que experimentei um cataléptico (como dito por Lilian) e espero agora poder enterrar definitivamente o “presunto”.
Cara, não te elogiarei! Todos já o fieram por mim!
T+
marcão, sua insofismável lição de vida foi sepultada no Copy & Paste.
meus pêsames.
caralho! é a segunda vez que leio algo teu que me sacode irrevogalvelmente. a primeira foi aquela vez do texto da casa, saiu no cpy&paste também… salvei-o nalgum arquivo que nem me atrevo a procurar porque a responsabilidade de encontrar-me perdida num labirinto doméstico com alguém e agora mais o desnudado defunto.. ah… isso incomoda, seu fdp!
Não consigo deixar meu amor ser enterrado… E isso ainda vai acabar me matando.
Seu blog continua sendo um espelho para mim, mesmo tendo vindo aqui bem pouco.
Sempre li seu blog e nunca fiz comentários…mas eu vou ter que fazer essa pergunta. Você sabe qto tempo leva para acabar o velório? Eu quero sentir essa sensação de liberdade…e logo!
Parabéns pelos seus textos!!
Quanto tiver um livro pronto me avisa tá? 😉