Estava na livraria Cultura ontem caçando algo para ler, e acabei encontrando um livro que me pareceu interessante: “A Pré-História da Mente”, de Steven Mithen. O autor se propõe a fazer “uma busca das origens da arte, da religião e da ciência”. Abri o livro, li uns trechos ao acaso, e me detive um pouco no prefácio à edição brasileira, escrito por um certo Walter Neves. As primeiras palavras do prefácio do Sr. Neves me irritaram. Vejam:
Como vivemos num país onde os novos paradigmas das “ciências” humanas aplicadas demoram décadas para chegar (e, às vezes, quando chegam, são implacavelmente “fritados” pela inteligentsia local), a pedagogia entre nós ainda apresenta forte tendência piagetiana
Três motivos para minha irritação: primeiro esse “ciências” assim, entre aspas. Depois que ele começa pela abordagem errada, já que não se trata de uma obra de pedagogia (eu arriscaria dizer que o livro trata de psicologia evolutiva). E o que mais me irritou: a forma desdenhosa como ele fala do Brasil. Oras, onde já se viu coisa igual? Comprei o livro, mas já saí da loja indignado com o tal Walter Neves, que eu nem sei quem é. Comprei o livro, apesar do prefácio.
Pois bem: saí e fui direto para a outra loja da Cultura, essa especializada em livros técnicos e científicos, à cata de publicações sobre meu hobby predileto: Neurociência. Subi ao mezanino, encontrei a prateleira correspondente e comecei o garimpo. Decepção: os bons livros eram todos edições americanas, luxuosas e caríssimas. As edições nacionais eram quase todas coisas do tipo “Como fazer seu cérebro trabalhar para você”, “Como ganhar dinheiro com o lado direito do cérebro”, “Aumentando a capacidade de sua memória”, “Exercite seu cérebro”, “Como fazer amigos, influenciar pessoas e explorar o potencial dos lobos parietais sem fazer força”. Bom, os títulos não eram bem esses, mas algo nessa linha. Mesmo os livros “sérios” sobre o assunto restringem-se quase que totalmente às obras de Oliver Sacks. (Sacks é um dos neurocientistas mais respeitados da atualidade, mas como escritor popular de ciência é uma negação. Subestima a inteligência do leitor, o pior pecado que qualquer autor pode cometer).
Vendo o contraste entre as publicações nacionais sobre Neurociência e as estrangeiras (não apenas americanas), tive que ceder um ponto ao Sr. Walter Neves. Como é possível que num país tão populoso não haja um número suficiente de pessoas interessadas no funcionamento do cérebro a ponto de justificar a edição de livros sobre o assunto? Quando eu li Fantasmas no Cérebro, de V. S. Ramachandrian (já citado aqui), pensei que comprometeria todo o meu orçamento a partir de então com livros de neurociência. Qual o quê! O excelente livro de Ramachandrian (lançado pela Record) é uma exceção incompreensível: é científico, denso, e ao mesmo tempo fascinante e acessível. Eu pensava que encontraria outras publicações de mesmo nível, mas não: o que se encontra por aí são manuais de instrução do cérebro, livros com muita preocupação utilitária e quase nenhuma verdadeiramente científica. E isso se aplica não só à neurociência, é claro: tente você encontrar qualquer tipo de boa literatura científica. Nem precisa tanto, tente achar alguma boa literatura.
Indignado com esse estado de coisas, comecei a pensar em algo que observo desde criança: aqui no Brasil, ser inteligente não é considerado de bom tom. Pode parecer estranho eu dizer isso, mas apenas olhem ao redor. Pessoas bonitas não têm o mínimo pudor de se afirmarem como tal (e nem deveriam). Mas vá você dizer que é uma pessoa inteligente. Os outros vão olhá-lo com espanto, asco, reprovação. Ninguém quer ser feio, e isso é compreensível: ser feio é uma desvantagem e tanto, creiam em mim. O problema é que, por aqui, ninguém parece se importar muito em ser burro. Há até algum charme numa burrice despreocupada, numa ignorância graciosa. Claro que o Brasil tem sérios problemas em educação e saúde, mas não é esse o problema de que trato aqui: pessoas que estudaram nos melhores colégios, bem nutridas na infância, cultivam com o mesmo orgulho (e cinismo, sempre) suas ervas-daninhas de burrice.
É desesperador. É triste observar as pessoas no metrô e notar os olhares bovinos (e o comportamento bovino, quando as portas se abrem na hora do rush). É triste ver os livros com que as poucas pessoas que lêem ocupam seu tempo: coisas esotéricas, auto-ajuda. Ninguém quer ser inteligente. Faça o teste: chame alguém de inteligente, à queima-roupa. Ninguém gosta desse elogio. Os poucos conscientes (e um tanto orgulhosos) de sua capacidade mental buscam cercar-se de pessoas com capacidade semelhante, salpicando a paisagem de burrice geral com nódoas de inteligência aqui e ali.
Posso prever os comentários do tipo “ae mew ce é mó nerd huahuahuahuahua vai comer alguem flw!!!”. É triste, muito triste. Eu queria entender por que isso acontece. Queria estudar o cérebro das pessoas e descobrir que área dele está adormecida nos brasileiros. Mas não é possível, é claro. PORQUE NÃO SE ACHAM BONS LIVROS DE NEUROCIÊNCIA NESTE PAÍS, CARALHO!
Ô Maco, estou com um livro aqui que vc iria amar, o primeiro sobre fito/ontogênese, de mil novecentos e sessenta e seis, do Renato Balbi. Vc lê italiano? Te empresto, se quiser.
Beijos.
ooops, fiLo e não fiTo.
typo.
Bj
Marco, a parte do cérebro que está adormecida nas pessoas, é a parte que funciona. E pelo andar da carruagem, em um pais que essas mesmas pessoas trocam um bom livro por revistas de fofoca, sei nao…
me irrita mais aquela atitude de “falei errado mermo. Sou da periferia e nois fala do jeito que nois qué…” ou frases correlatas.
Parece que não sou só eu que me espanto com a quantidade de livros da Zíbia Gasparetto e Paulo Coelho no metrô. Amém.
Marco, quanto às pessoas inteligentes… acho que acontece o mesmo com as bem sucedidas financeiramente, não é?
Quanto ao meio “inteligente”, veja bem, não acredita também que há o fechamento em “guetos”? Uma pessoa que tenta se chegar num grupo mais, digamos assim, evoluído, pode se assustar os que tentam aprender . Num é não?
Justamente porque no Brasil parece ser quase herético ser inteligente que os autores preferem escrever “livros de auto-ajuda” – categoria que costuma ser bastante desprezada pela inteligentzia nacional – do que livros “sérios”.
No Brasil fica rico quem é bonito, não quem é inteligente. A beleza “tropical” é que é valorizada.
Eu entendo seu mau-humor, compartilho dele.
ô marco
leio seu blog faz tempo, e de longe esse é o melhor post. muito bom mesmo… nunca tinha pensado numa coisa dessas, a sociedade realmente te critica se voce fica por aí falando que é inteligente, acaba virando “insuportável”, “nerd” ou até mesmo “grosso” aos olhos dos outros.
mas basta declarar a própria burrice, para ganhar simpatia instantânea, muitas vezes em forma de piada.
aliás, pode parecer de muito mau humor meu, mas sempre achei que as piadas são um grande mal da sociedade. em busca de aceitação do grupo as pessoas acabam fazendo qualquer coisa por uma piada. chateiam outras pessoas, falam errado, falam bobagem, até chegar a alguns limites, como trote de faculdade….
se as pessoas nao valorizassem tanto o “engraçadinho” da turma talvez as coisas fossem diferentes…
fugi um pouco do assunto; me empolguei. muito bom o post !
do blog, nem vou falar. vc pode se acostumar mal com os elogios 😉
valeu
luciano
“Queria estudar o cérebro das pessoas e descobrir que área dele está adormecida nos brasileiros” : terás dois problemas, aqui – achar bons livros sobre o assunto, e cérebros. Não me peça ajuda, por favor – estou no Marrocos, e temo que mesmo o meu esteja meio danificado … é a idade, sabe ?
É verdade que não temos bons livros científicos, mas se você encarar de forma diferente, isto é só uma boa razão para que você pesquise e escreva seu próprio livro sobre o assunto…
Marco, você leu minha mente… eu estava falando sobre isso ontem ainda, mais precisamente com minha terapeuta… Ser inteligente é um estigma. Claro que ser bonito, ou feio, também é uma marca (pois representa a cultura do ‘só a casca, nenhum conteúdo’). Mas ser inteligente correntemente representa ser agressivo às outras pessoas… então é uma característica que muita gente prefere esconder, ou à qual é preferível simplesmente renunciar. É bem mais fácil viver não sendo inteligente, eu creio.
Pra ilustrar um pouco, reproduzo aqui um diálogo real, verídico e verdadeiro que aconteceu de verdade há cerca de um ano, entre duas pessoas. Vamos chamá-las de Adriana e Leila (nomes reais omitidos para proteger a identidade dos envolvidos):
As bixetes Adriana e Leila tinham acabado de se mudar para Franca e combinavam alugar uma casa e montar uma república.
Adriana: Você é de onde?
Leila: Eu sou de Guaíra, SP.
A: Minha veterana é de lá!
L: Ah, é? Quem é ela?
A: A Liziane, faz Relações Internacionais.
L: Eu conheço ela… ela é tão inteligente, não é?
A: (indignada) Não! Ela é muito legal, viu?
Concordo inteiramente com você. A inteligência foi relegada ao terceiro, quarto planos, por uma idéia imbecil de algum ignorante mor de que “inteligente” é sinônimo de “nerd”. Queria enfiar um ferro em brasa no brioco de quem inventou essa história.
Concordo, mas acho que não é só aqui não, Marco. Assista a cinco minutos de Friends, Will and Grace ou qualquer outra sitcom (e eu tô falando das boas) ou série séria (ai) americana : os personagens inteligentes, os interessados em algo além de moda e fofoca de celebridades são menosprezados pelos bonitinhos cheios de hype, e considerados uns coitados, uns “losers” – ô giriazinha nojenta -, nerds, virgens e outras besteiras do tipo. Aliás, acho que pra homem, um bom jeito de filtrar as mulheres em quem vale a pena investir é perguntar qual seu personagem masculino preferido em Friends. Se não der Ross, nada feito…
marcurélio, põe o cryon de volta no cérebro que tudo volta ao normal…
Acho que o problema eh cultural, mesmo. O potencial ate existe, ele so nao eh exercitado.
O problema da ignorancia tambem me irrita profundamente. Principalmente porque essas pessoas nao tem senso critico, nao sabem se defender, acreditam em tudo que lhes dizem e sao altamente manipulaveis. Nao examinam o que lhes eh dito com a razao. Triste, muito triste.
Quanto a exaltar qualidades proprias, acho meio chato, seja beleza ou inteligencia. Elogios sao gestos que recebemos dos outros e nao de nos mesmos. Elogios de nos mesmos perdem um pouco o sentido. So porque estamos falando do assunto vou comentar que fiz um teste de QI um tempo atras e deu 129. Legal, ne? Meus amigos tem, em boa parte, QIs proximos ao 130, alguns bem alem. Isso confirma o que vc disse, que as pessoas inteligentes andam juntas, assim como as estupidas. Mas QI pode ser aumentado (ou diminuido) durante a vida, depende de como vc exercita o cerebro. E isso nao quer dizer ler, quer dizer usar o sendo critico, pensar diferente. E isso pouquissima gente faz. Da muito trabalho.
É uma nação de filhos de Sócrates (não o jogador, o filósofo). Todos brilhantes (até os nossos japoneses são mais criativos que os dos outros), gênios (pergunte pela formação profissional de Débora Secco), porém humildes. Não acuse um brasileiro de inteligente. Não importa a religião, isso vai soar como uma espécie de pecado. Humildade Marco, humildade… a auto-ajuda é só pra disfarçar…
Se vc chegar para alguem e falar que é bonito, vai causar o mesmo espanto!
Porque você não lança algo como “Neurociência Para Leigos”? Quem sabe mais gente se interessa.
ae mew ce é mó nerd huahuahuahuahua vai comer alguem flw!!! Dzáim!!!
Foi mal, brincadeira, só pra limpar a mente.
Pra começar uma discussão mais interessante eu pergunto, o que é inteligência pra você?
É verdade, ser inteligente é pecado. Diversas vezes fui discriminada por usar alguma “palavra difícil”, ou abordar um tema não muito usual. Mas é assim, parece que existe um certo charme em ser “inguinorante”, e nosso país não incentiva muito ao hábito da leitura, o que agrava o problema. Pense pelo lado bom, eu te entendo! 🙂
Hm, rapaz, noto mudanças em você? Que maravilha o processo evolutivo, huh?
esse seu interesse por neurocinência advem do fato da sua caixa craniana estar presente em dois fuso-horários??
primeirão!
Essa vai anônimamente apenas pra confirmar o seu conceito de que ser inteligênte nessa país é um problema. Sou considerado super-dotado intelectualmente pelos métodos tradicionais (QI, etc…) e tenho que esconder isso porque pra quem quer que eu conte, em troca recebo um nariz torcido e a partir deste ponto, um preconceito generalizado…
Todos nós (povão) temos “pobremas” demais para nos preocuparmos com a ienteligência.
Fala sério vai, inteligência é uma obrigação e não uma qualidade.
“ae mew ce é mó nerd, vai comer alguem flw!!!”
Poxa, complicado definir o que é ou nao é inteligente, o que faz com que suas leituras sejam melhores, alinhais, seria uma conclusão precipitada a de que “ler sobre neurociência faz ficar inteligente e ler Paulo coelho faz emburrecer”, que é a mensagem mais forte aí do texto…
Sei nao, isso de classificar implica no bom e velho e terrível julgamento de valor…e é um problema. Sempre fico tentando evitar esses julgamentos, essas pretensões minhas, mas como é difícil!!!
Ah, amo seus textos, querido (e tbm vou tentar me defender dizendo que detesto livros de auto-ajuda, hehe)!
Bjos mil
Renata http://objetoabjeto.blig.ig.com.br/
Eu acho que nem tudo está perdido. Vai dizer Marco, que a sua namorada não acha o máximo ter ao seu lado um homem que escreve textos como esse?
E sobre QI: Isso ainda existe? Para mim essa “coisa” já saiu de moda.
O foda é que realmente pra ser bem sucedido e respeitado no Brasil, você precisa ser bonito ou ser jogador de futebol, de preferência famoso, enquanto pessoas inteligentes, algumas com doutorado ou até pós doutorado tem que ficar se fudendo pra pagar o aluguel e serem chamadas de arrogantes.
Em terra de cegos quem tem um olho é rei, meu rei !!
Então não esquenta a cuca não !!
Isso vai levar séculos para mudar !!
Quem mandou nascermos na época errada; eu queria ter nascido em 2678 ao invés de 1978 !
É no ano passado precisei fazer uma cirurgia no cérebro, e antes de operar saí caçando coisas à respeito do tumor, ou de seria esse tipo de cirurgia, e não conseguir encontrar coisas que conseguissem explicar muito bem.
Eu agradeco a Deus pela quantidade de bons sebos que existem nas redondezas de Dallas… excelentes livros em boas condicoes por 2,3, 5 dolares. O preco dos livros no Brasil eh um absurdo. Eu, em 10 meses nos EUA, comprei mais livros (e com menos dinheiro) do que comprei em 18 anos no Brasil. O custo de um bom livro no Brasil eh ultrajante.
Se for questão cultural, não adianta espernear. Como mudar uma sociedade que é toda baseada em beleza física?!
Temos ótimos cientistas, mas realmente a população está longe ainda (senão eles não seriam ótimos cientistas, ué). Acho que a diferença entre o meio acadêmico e o povão é até maior que a má distribuição de renda.
Que tal ir morar na Noruega?
Oi Marco, engraçado vc falar do Walter Neves, ele foi meu professor, e apesar de um tantinho pedante ele é muito bom, um grande especialista em evolução, e tbm entendende bastante da psicologia evolutiva. E no final, no convivio pode ser alguém bastante agradável e acessivel.
Se vc se interessa por neurociências, foi publicado um compêndio do assunto ano passado de autores brasileiros, parece que foi feito um trabalho bastante interessante. Procure tbm coisas do Fernando Capovilla, ele trabalha incessantemente na área e tem vários livros publicados. De qualquer forma, pra achar essas coisas vc tem que procurar nos livreiros especializados, nas faculdades mesmo, de psicologia, biologia e medicina é o mais fácil.
Bjos
gostei da pergunta: o que é ser inteligente? isso é, de fato, muito relativo…
mas sobre o post, marcurélio, é real: ser inteligente é quase doença. mas eu acostumei e tenho fé que isso mude. é como quando eu tinha peitão e isso não era moda, era foda conviver com os “amigos” dizendo “hoje em dia tem cirurgia boa pra reduzir peitos, menina, quase nem fica cicatriz!”. eu quase entrei nessa, fui salva por uma médica decente. agora que virou moda ter peitão, todo mundo acha o máximo. mal comparando, façamos assim: vamos ficar felizes com nossa inteligência, sem ligar pro “resto” e qualquer hora alguém descobre que ser inteligente é legal 🙂
beijoca.
Posts grandes = Comentários grandes!
Marco, estava na aula de filosofia, e o professor ainda expos um dado interessantíssimo, Somos uma país de 198 milhões de pessoas (nem sei mais quanto é certo), ee só temos 3 milhões de jornais editados diariamente? CARA, ISSO CHEGA A SER UM ABSURDO! Alguem pode até falar: CARA, JORNAL? O QUE É JORNAL?.
Se pensarmos assim, vamos continuar sendo mediocres, a leitura das grandes obras, começa pelas menores.
Um vez disse o papa: O Brasil precisa de santos.
SANTOS É O CARALHO! O BRASIL PRECISA DE LEITORES! ISSO JÁ BASTA UM TANTO!
Se bem que leitura, não é sinônimo de inteligência ou status, mais é um caminho…!
Mau humor desgraçado meeesmo. 😉
Concordo com Warren, primeiro tem que ser discutido o conceito de inteligência…Seu post me lembou “Admirável Mundo Novo”…onde as pessoas eram divididas em classes (beta, alfa, gama…) e tomavam um comprimido para manter-se num estado “alienado”…Atualmente esses comprimidos são representados pela mídia, as tais revistas de fofocas já mencionadas, e todo o pão e circo possível para manter uma pessoa alienada da realidade atual. Pior é que a alienação é voluntária, talvez por ser menos doloroso e triste discutir o que vai acontecer no próximo capítulo da novela das oito do que discutir a atual conjuntura nacional…
Às vezes ignorância é uma opção de vida…Apenas sinto pena da covardia.
Marco, procure o livro de Neuroanatomia Funcional, do Machado. Vai aprender bastante…usei este livro um tempo atrás na faculdade de medicina.
Concordo plenamente com você Marco, e acho que o Giggio fez uma abordagem muito boa sobre as causas desta ignorância geral. Tudo isso é meramente cultural, também penso. Mas creio que seja algo muito recente, pois, se olharmos para o passado veremos muitos gênios pelo nosso Brasil, já tivemos sim uma época em que o Brasil produziu muita arte, literatura e conhecimento. Mas de uns tempos pra cá, fomos surpreendidos por crises econômicas, crises na nossa liberdade, crises no governo, golpes… Sofremos de fato, grandes transformações sociológicas, algo muito complexo. Junte a essas crises com uma boa dose de globalização(coisa que ainda não estavamos preparados) e BUM… Hoje temos Kelly Key, Darlene, Axé e putaquepariu… Nossos poetas morreram, nossos escritores morreram, nossos VERDADEIROS artistas morreram… Enterrados pela burrice, sufocados pela ignorância… O que nos resta é a tentativa de erguer um novo iluminismo neste país. Resgatarmos o humor de verdade, a arte de verdade , a música de verdade… Mas logo desisto, pois, como disse Chico Buarque: O que não tem governo, nem nunca terá. O que nao tem vergonha, nem nunca terá. O que não tem juízo…
Éh Marco, você é uma “bença”, este seu post está uma “bença”. Glórias sejam dadas ao seu post. Você é um brasileiro inteligente, motivo de orgulho para nós… É uma excessão na regra. Halaláia, Terra!
Gente, vamos orar caralho!
É porque lá a psiquiatria, psicologia e quetais são eminentemente behavioristas, e eles ainda acreditam que é o cerébro que resolve alguma coisa…
Aqui o papo é outro…
Bem… Eu concordo com o que vc falou sobre as pessoas não aceitarem bem serem chamadas de inteligentes. Mas será que só por que a pessoa lê auto-ajuda ela é burra? Não sei, não penso por aí. Muita gente acha que auto-ajuda é só Paulo Coelho e não é. Dalai Lama tb é considerado auto-ajuda e tem coisas muito interessantes pra falar sobre convivência, não esquentar a cabeça com coisas bestas e se reconhecer como pessoa inteligente que é. Entende o que eu quero dizer? Depende muito do ponto de vista, com certeza. E do conceito de “inteligência”, “auto-ajuda” e até mesmo de “mau-humor”. 🙂 Até mais.
É triste ter de aguentar pessoas que quando te ouvem dizer que toca Tuba, perguntam se isso é parente do saxofone (Sim, um cara chamou minha Tuba de sax uma vez), assim como as músicas dominantes nos milhares de pitboys semianalfabetos que desfilam como animais no cio tentando atrair o sexo oposto.
Concordo com quem disse antes de mim que ser inteligente dá trabalho e reforço que ninguem é incentivado a esse trabalho. Nos é imputado o comportamento bovino justamente para que sejamos melhor controlados.
Qual a parte adormecida do cérebro do brasileiro? Todas, talvez?
Poxa… Paro pra pensar agora e me assusto: É vergonhoso ser inteligente então? Particulamente me orgulho de ser taxado como tal. Concordo que existe uma orda de estúpidos que considera esse elogio sinônimo de chatice ou superioridade. Mas, por qual motivo não querer ser superior também? Inteligência não é privilégio. É característica humana. Acho que não existem partes adormecidas no cérebro do brasileiro não Marco. Creio que falta incentivo para fazer o cérebro trabalhar.
Eu gosto de NEUROLINGUISTICA! Eh MA-GA-VI-LHO-SO (uiaaaa!!).
Serio mesmo, Programacao Neurolinguistica é bom pacas, mas como vc mesmo disse…pouquissimas publicacoes no estilo…e quase todas as “pouquissimas” sao traducoes de cientistas americanos.
Bahh!
Na minha nada inteligente opinião, um dos sintomas da inteligência é a humildade.
“Queria estudar o cérebro das pessoas e descobrir que área dele está adormecida nos brasileiros. ”
Quem pode te ajudar nesta empreitada são os responsáveis pelo tal adormecimento: a turma dos 21 anos de ditadura militar. Pergunte a eles… Seja lá o que fizeram, o serviço foi muito bem-feito.
Não que fôssemos uma população de PhDs na era cenozóica, digo, Pré-Ditadura, mas pelo que os mais véios que eu (sim, existem!!!) contam, o povo não era tão alienado como é hoje.
A melhor definição para inteligência que vi até hoje é a de plasticidade cerebral. O organismo é mais inteligente quanto mais plástico seu cérebro é.
Marco, eu estudo Psicologia e pretendo fazer mestrado em Neurociência. Tomei essa decisão há pouco tempo, ainda estou me inteirando do assunto, mas penso que poderíamos dialogar sobre o assunto.
Escuta, há um livro muito interessante chamado “O Cérebro Emocional”, do autor Joseph Le Doux. O livro se centra na análise do medo, mas apresenta uma introdução geral da área da neurociência e relata experimentos MUITO interessantes. Sugiro que o procure.
É isso aí. Abraço.
PS: E a biografia do Raul? Algum avanço na idéia?
O brasileiro gosta de ser burro e falar errado, o livro do Seu Creysson, por exemplo, chegou a ser o livro mais vendido por um tempo! As pessoas que falam errado é que são as legais e engraçadas por aqui, acho isso ridículo.
Bem Marco, aqui na França é o exato inverso. O pessoal se preocupa TANTO em ser inteligente, que vira um excesso de esnobismo cultural. Nada contra ser intelingente, pelo contrário.
Mas o que mata aqui é que o pessoal esquece de viver, finge-se de ser inteligente. E as francesas não são nem um pouco bonitas (ops… quero dizer, gostosas)! rs
Eu reparei bem nisso que você falou, quando estive no Brasil em fevereiro. Não se preocupam muito com a cabeça.
E aqui, você é relativamente mal visto se diser que faz, nem que seja um pouco, de exercício físico para manter a forma. Franceses vivem a base de regime, não de exercícios. Emfim…
Um ditado daqui diz:
“A cultura é feito manteiga: quanto menos se tem, mais se espalha.”
Bom, abraço!
O desprestígio de ser inteligente realmente é algo cultural. Politicamente você ter muitos seres pensantes não é um bom negócio. Criar bois é muito mais vantajoso. Ter conhecimento, fazer uso dele para produzir ou despertar outros conhecimentos dependendo da área e do tema é tratado muitas vezes como algo sem importância nenhuma. Por exemplo, fazer ciência, que é apenas uma das formas de expressar a inteligência, no nosso país é como combater em um verdadeiro campo de guerra. Imagine, falo isso de dentro de uma das maiores universidades do país! Trabalho intelectual não é nada valorizado. E se você escolheu a área de humanas, sua situação é ainda pior. Para publicar nossas pesquisas é preciso dinheiro e um bom lobby. Sem dizer que seu tema tem que estar na moda. Ah! e não ter sido avacalhado pela mídia com argumentos de senso comum que ajudam a criar falsas polêmicas e a vender muitos exemplares. Enfim, saindo deste meu mundinho acadêmico, de uma forma mais geral eu sinto às vezes que é como se não houvesse a necessidade de se provar que é inteligente, mas sim de brigar para poder ser inteligente e fazer uso dessa inteligência.
os caras vendem o q o povo quer comprar, de lair ribeiro pra baixo, essa nova onda de programação neurolinguística fajuta, o pior é q lêem essa meia dúzia de bobaagens e saem porae alardeando suas sandices fantasiosas, ser ignorante é muito mais fácil mesmo.
Eu acho que ser inteligente é opção. E aqui uso “inteligência” como sinônimo para uma abordagem crítica e racional do mundo. Não é necessária, não é especial, não é particularmente útil… É uma questão de opção, pílula vermelha ou pílula azul. Eu fiz a minha. Mas não acho que ela deva servir pra todo mundo. Claro que do ponto de vista social seria mais justo se as pessoas fossem inteligentes. Mas é mais útil que elas não sejam. E vivemos num mundo utilitarista, não justo.
Se não me engano, a Scientific American Brasil lançou uma edição especial sobre o cérebro humano mês passado. Ainda deve estar pelas bancas desse “brasilzão de meu deus”, e me pareceu interessante. Pelo menos é uma publicação séria, e as últimas edições têm sido bastante boas.
Tem até linkzinho pra revista que eu citei ali:
http://sciam.uol.com.br/sciam/estatica_edicoes_especiais_04.aspx
Marco, é preciso se ver as origens do problema. O Brasil tem uma boa porcetagem de analfabetos e um sistema de ensino público péssimo. Não é a toa q as vezes as pessoas tenham essa atitude. No Brasil tambem existe aquela cultura do “malandro”: que brasileiro tem q ser esperto, “dar um jeitinho” em tudo, jogar futebol e gostar de bunda. Ai um cara que cresce ouvindo essa filosofia vê um “nerd” e acha logo que o cara é otário e “não curte a vida”! A única forma de mudar essa situação seria remover esse aspecto cultural e dar um jeito na educação pra que pelo menos o povo tenha acesso à essa cultura. Afinal não podemos esperar que pivetes de rua e favelados venham nos aparecer com “Guerra e Paz” ou “Dom Casmurro” na mão!
foi mal aí, não resisti… bromco é um personagem meu, ele é a personificação da falta de intelecto, grande, quexudo e tal… mas na realidade é extremamente culto, sabe um monte de coisa, só que prefere viver na tosquera, pq convenhamos, o conhecimento estraga as coisas, a ignorancia é uma benção, se vc fosse mais burro acreditaria em deus cegamente e teria uma vida feliz com a experança de uma vida eterna, ou não…
Do Sacks eu só li “O dia em que confundi minha mulher com um chapéu”, isso mostra as sutilezas do cérebro humano, pelo qual eu também tenho grande curiosidade. Estou lendo um livro bem bacana, é uma edição de 500 exemplares de “Um Caso Tenebroso” de Kafka de 1967 que encontrei num sebo ainda com as páginas cerradas (daqueles que vinham as páginas grudadas de 4 em 4)…adoro esses livros com cheiro de mofo…hehehe
Caro Marco
O problema é mais de natureza sociológica que de neurociência. Não é o cérebro do brasileiro, mas um contexto cultural que valoriza algumas coisas em detrimento de outras e não me parece que lá fora seja muito diferente hoje em dia (em Londres todo mundo lê no metrô… tablóides sensacionalistas…).
Rodrigo
Curitiba
“Na minha nada inteligente opinião, um dos sintomas da inteligência é a humildade.” Mr Birdman –
Nao acredito q se haja vergonha em ser inteligente. Ainda mais pq os q são inteligentes bradam q o são. Se coçam p/ responder perguntas. Gostam de ser desafiados. Minha irmã é muuuito inteligente. É linda também (mas nao vem ao caso). Também, num mundo onde se cultuam os belos, ser e se divulgar inteligente é a tentativa de se criar uma nova divindade.
Mas como diz o post q copiei acima, a humildade é algo muito sábio. Se me dizem “vc é inteligente!”,eu agradeço -mas se me perguntam se sou inteligente, humildemente, e cheia de curvas e voltas, respondo que compreendo e questiono muitas as coisas. Gosto de saber um pouco de tudo pq é um prazer poder me comunicar com todo tipo de pessoa, desde o mano até vc, por exemplo.
Acredito q existem diversos tipos de inteligência e todas baseadas na experiência e emoção.
Diria que inteligente é aquele que busca sempre o saber e persiste nas coisas até coompreendê-las ou concluí-las. É aquele q sabe lidar bem com as situações da vida.
Agora, tolo é aquele que não faz questão de saber, de conhecer, é aquele q tá sempre engrossando com tudo.
Q mais nós temos p/ fazer neste mundo, gente? Nossa vida aqui é ver, conhecer, amar e ir pro saco!
O conhecimento se leva por toda a vida e p/ todos. é algo q se pode dividir. Vaidade….ah, o resto é vaidade.
Boa sorte e boa vida p/ todos.
Verônica
Acho que a questão é o que é ser inteligente para nós?Acho que o brasileiro considera inteligência o “ser malandro” e não o ser culto.E pra malandragem não precisa necessariamente ser letrado.
Mas o preconceito exite tanto do “burro” para o “cult”, como do “cult” para o “burro”,e como somos um país de maioria desprovida de oportunidades de estudo e tudo mais, quem se fode é o “cult”;fora a questão da auto-estima do brasileiro ser lá embaixo,grudado na sola do sapato junto ao chiclete e a merda do cachorro que o cara pisou na calçada, então ele teme quando alguém provido de mais cultura se aproxima,e como bom malandro quer continuar por cima da situação, e quer deixar a entender que sua ignorância é a verdadeira inteligência.Acho que essa sequela só tende a piorar,não só por aqui,em todo mundo, seja no 1º ou no 3º,
mas não pense que sou pessimista,sou malandro e me preparo para opior, pra no final estar por cima.
ei! eu tive umas aulas com o Walter Neves na facu, numa matéria de evolução, mas devo confessar que sentia muito sono e não freqüentei muito… mas pagavam um pau pra ele!
Oi Marco. Brilhante abordagem.
Bem, eu faço cursinho e veja bem, como todo vestibulando, assunto no ônibus com os colegas de sala só rola sobre vestibular, matéria, literatura e cultura. (Quer dizer, isso quando vc pega ônibus com alguém interessado sobre) Mas o mais interessante é, enquanto a conversa rola, olhar ao redor e ver aquelas “caras” de nada te olhando como alien, como se falasse outro idioma. Aí vira um ‘oba-oba-que-quer-azarar-no-cursinho-e-nao-estudar’ e fala: Ái seus nerds, para com esse assunto. – e a galera em volta respira fundo de alívio pq foi dito exatamente o que passava nas respectivas “mentes”. Você vai à academia e comenta que passa o dia estudando. Vixe. Te tomam de louco, estranho. Estudar pra que? Ter cultura pra que? Dá um trabalho danado… tem que ler muito… e quanto mais vc lê, mais descobre que não leu nada ainda. Po, meu prof. essa semana mesmo fez um comentario sobre o filme “O Nome da Rosa”. Clássico. O conhecimento é como a Rosa que a cada pétala que vc tira, tem outra abaixo e assim segue infinitamente. Ora, adquirir algo que nunca vai ter fim é perca de tempo… (!!!)
Bom Marco, como já dizia o seu herói Dostoiévski, na pele do Raskólhnikov (to sem o livro aqui pra conferir o nome, é complicado…) que estamos cercados de idiotas e que nada fazem para aprender… e que isso é solitário… foda pra caralho mesmo.
Olá Marco,
eu sei bem o que é a carência bibliográfica na área de neurociências no Brasil. Durante 2 anos estive no Mestrado de Neurociências da USP e posso dizer que 99% da bibliografia estudada foi em outras linguas que não o português. Há várias razões para isso, as que você levanta são bastante consideráveis, mas também há o fato da pesquisa em neurociências no Brasil ainda ser incipiente, sendo a maior parte dela voltada para processos bem básicos. Alguns dos trabalhos mais interessantes na área, feitos no Brasil, estão nas escolas de engenharia(?), coisas envolvendo IA e questões ligadas ao processo cognitivo no geral.
Mas, tentando ajudar, aí vão umas dicas de livros e sites em português. É possível que você conheça alguns deles (ou todos) – se não, bom proveito!
– J. Eccles e K. Popper: O Eu e o cérebro, da Papirus
– H. Gardner: Estruturas da mente, da Artes Médicas
– John Le Doux: O cérebro emocional. Os misteriosos alicerces da vida emocional, da Objetiva
– M. Lira Brandão: Psicofisiologia: as Bases Fisiológicas do Comportamento, da Atheneu
– M. Bonden: Dimensões da Criatividade, da Artmed
– D. Dennet: Tipos de mentes: rumo a uma compreensão da consciência, da Rocco
– J. Khalfa: A natureza da inteligência, da Fundação Editora da Unesp
– H. Maturana: A ontologia da realidade e Cognição, ciência e vida cotidiana, ambos da Editora da UFMG
– H. Maturana e F. Varela: De máquinas e seres vivos: autopoiese – a organização do vivo, da Artes Médicas
– J. Searle: A redescoberta da Mente, da Martins Fontes e Mente, linguagem e sociedade, da Rocco
– Bear, Connors & Paradiso: Neurociências – desvendando o sistema nervoso, da Artmed
– R. Lent: Cem bilhões de neurônios, da Atheneu
– Martins de Oliveira & Rocha do Amaral: Princípios de Neurociência, da TecnoPress
– P. Lavie: O Mundo Encantado do Sono, da Climepsi
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/
http://www.pubmedcentral.nih.gov/
http://www2.uol.com.br/sciam/
http://www.epub.org.br/cm/home.htm
Olá de novo,
só um comentario sobre Piaget. No Brasil a figura e a obra de Piaget ficaram indelevelmente associadas a pedagogia – mas Piaget não era pedagogo e sim biólogo – isso acontece porque esse pensador desenvolveu toda uma teoria sobre o desenvolvimento da inteligencia na criança, o que obviamente é largamente usado por educadores.
Mas Piaget é essencialmente um cientista dos processos mentais, ele foi um pioneiro ao trazer para a discussão sobre o conhecimento, o aspecto biológico/evolutivo do desenvolvimento da inteligencia a partir da interação organismo-meio.
Recomendo a qualquer pessoa que queira se aventurar na discussão sobre os processos mentais, cognição, conhecimento e inteligencia, que leia Piaget. Muito do que ele escreveu pode ser questionado hoje, mas boa parte da sua obra ainda serve de sustentáculo para se compreender os processos tipicamente humanos de construção do conhecimento, especialmente nas crianças.
Pois é, como dizia o velho poeta, “Se o cérebro humano fosse menos complexo, seríamos tão burros que não conseguiríamos compreendê-lo.”
Acho que me desviei do assunto…