(I Samuel 13)
Outra guerra contra os filisteus? Pois é, outra. Na última guerra, o autor de I Samuel deu a entender que os filisteus teriam sofrido uma derrota vexaminosa. Neste capítulo vemos que provavelmente a grande derrota narrada ali foi só um pequeno percalço. Só assim se explica a situação em que Israel se encontra neste capítulo: estado vassalo da Filistia, não podia sequer contar com ferreiros em seu território. Para evitar que os israelitas tivessem espadas e lanças, os filisteus os proibiram de trabalhar o ferro. Quando algum israelita precisava amolar suas ferramentas, tinha que levá-las até os filisteus, que cobravam pelo serviço. Uma situação humilhante, que fazia de Israel quase uma colônia filistéia.
Resumindo: A Filistia fazia aos israelitas mais ou menos o que Israel hoje faz aos palestinos.
— Anti-semita! Anti-semita!
Ué, os palestinos também são semitas. Não me torrem. E voltemos à história.
Saul já estava em seu segundo ano de reinado, e percebia que não passava de figura decorativa. Disposto a reverter a situação, escolheu três mil homens para serem seu grupo guerrilheiro. Dois mil ficaram sob seu comando em Micmás e nas montanhas de Betel, enquanto os outros mil ficaram sob as ordens de seu filho Jônatas, em Gibeá. O primeiro ato terrorista não tardou a acontecer: Jônatas matou o comandante filisteu em Geba (não confundir com jeba, por favor), o que emputeceu os filisteus, claro.
Orgulhoso do heroísmo de seu filho, Saul foi até Gilgal e de lá enviou mensageiros por todo o país, convocando os homens para a guerra contra os filisteus. Em pouco tempo, uma multidão vinda de todo o Israel veio juntar-se aos guerrilheiros. Milhares e milhares de israelitas imbuídos do mais puro orgulho cívico.
Sabendo da movimentação em Israel, os filisteus apressaram-se em organizarem seus exércitos, e acamparam em Micmás, do outro lado da fronteira. Tinham trinta mil carros de guerra, seis mil cavaleiros e incontáveis soldados. Vendo-se cercados por tal exército imponente, os patriotas israelitas deram uma grande demonstração de coragem: uns esconderam-se nas cavernas da região, outros em buracos, no meio das rochas, em poços. Alguns, mais medrosos ainda, atravessaram o Jordão e foram se esconder em Gade e Gileade. Um vexame sem tamanho.
Saul via a autoridade lhe escorrendo entre os dedos conforme a debandada aumentava. Havia recebido instruções de Samuel: deveria esperar o velho profeta para que ele oferecesse sacrifícios, e então iria combater os filisteus. Passaram-se sete dias e nada de Samuel, então Saul entrou em desespero. Olhou em volta e viu seu exército consideravelmente diminuído. Pensou um pouco e deu a ordem:
— Tragam os animais para o sacrifício.
Os homens entreolharam-se, em dúvida. Os sacrifícios só deveriam ser oferecidos pelos sacerdotes ou, na falta deles, por uma autoridade religiosa, como Samuel. (Havia um sumo-sacerdote, na verdade, como veremos no próximo capítulo. Mas era descendente do velho Eli, e portanto totalmente desacreditado).Era uma ordem do rei, porém, então eles acharam melhor obedecer. Trouxeram os animais, e Saul ofereceu os sacrifícios. E é claro que Samuel logo apareceu. Saul foi cumprimentá-lo, mas o velho ignorou a mão estendida.
— Que merda você está fazendo, Saul.
— Er… Hum. Então. Os filisteus acamparam em Micmás, meus homens ficaram com medo e começaram a fugir. Você não chegava nunca. Eu pensei: “Os putos vão vir nos atacar, e eu ainda nem tive como pedir a ajuda de Javé”. Então achei por bem oferecer eu mesmo os sacrifícios.
— Ah, claro! Oferecer os sacrifícios! Que bobagem!
— É, né?
— CLARO QUE NÃO! O QUE VOCÊ FEZ FOI UMA LOUCURA!
— …
— Você foi leviano com as coisas sagradas. Se você obedecesse a Javé, sua descendência reinaria em Israel para sempre. Como não obedeceu, porém, Deus vai escolher outro homem para assentar-se no trono.
— Trono? Que trono? Nem palácio eu tenho! Pô, Samuel, alivia essa…
Mas o velho já havia se retirado, resmungando impropérios. Saul tinha outras preocupações, entretanto, e não podia ficar pensando no que Samuel dissera. Tratou logo de juntar seus homens e ir com eles até Gibeá, para encontrar Jônatas. Lá chegando, pai e filho contaram seus soldados e desanimaram: tinham com eles seiscentos homens ao todo, um quinto do que tinham antes. Não dava mais para voltar atrás, porém: os filisteus já se preparavam para o ataque, e uma simples desistência seria a esculhambação definitiva para Israel. Então Saul, Jônatas e seu exército foram até Jeba, digo, GEBA, e ali acamparam. Enquanto isso, continuando sua estratégia de pressão psicológica, os filisteus dividiram-se em três grupos de patrulha: um ficou em Ofra, outro em Sual e o outro no monte acima do vale de Zeboim, frente ao deserto.
Era muito difícil a situação dos israelitas: eram seiscentos homens assustados cercados por milhares de filisteus. Devido às imposições de seus opressores, os hebreus não tinham espadas nem lanças (com exceção de Saul e Jônatas, cada um com sua espada). Do outro lado, os filisteus tinham um exército muito bem equipado e treinado. Para piorar tudo, parecia que nem com a ajuda de Javé os israelitas poderiam contar. Guerra perdida? Veremos.
Lá vem o Might Tor de Israel…
Antes de conhecer David, Jônatas ia com o pai dele até Jeba, digo, GEBA.
Depois de conhecer David, Jônatas passou a ir até Geba, digo, JEBA.
Vejo que antes de encontrar o David o Jonatas já conhecia jeba, digo, GEBA.