Samuel governou Israel durante muitos anos, sendo sempre muito respeitado. Também, com aquele mau humor todo, ninguém tinha coragem de desrespeitá-lo. Foi ficando velho e cada vez mais rabugento, até o dia em que percebeu que estava na hora de treinar alguém para assumir seu lugar quando morresse. Escolha natural: seus dois filhos, Joel e Abias. Botou os dois para serem juízes em Berseba. O resultado foi desastroso: os filhos de Samuel tinham um conceito um tanto brasileiro do termo “juiz”, então aceitavam subornos e não davam a mínima pelota para a justiça. O povo de Israel, porém, não era o povo brasileiro, e começou a reclamar. A situação foi se complicando, e os líderes israelitas decidiram ir falar com Samuel em Ramá, e expor a ele uma idéia que já estava na cabeça de todos havia muito tempo. Samuel, mais ranzinza que o Ariano Suassuna, não os recebeu muito bem. Eles acharam melhor não ir direto ao assunto:
— Seu Samuel, é por nada não, mas o senhor já está ficando velho…
— Ficando velho o cacete. Eu estou velho FAZ TEMPO. Oras. Não comecem com frescura.
— Pois então… O senhor está velho e seus filhos não seguem seu exemplo.
— Não seguem meu exemplo??? Se fosse só isso estava muito bom! Aqueles estrupícios que Deus me deu como filhos são uns meliantes, uns larápios, uns gatunos. Não seguem meu exemplo, essa é boa… Chega de eufemismos, os senhores façam logo o favor de me dizerem que diabos vieram fazer aqui. Tenho mais o que fazer além de ficar ouvindo meia dúzia de velhos babões. Isso aqui tá parecendo um baile da terceira idade ao qual as velhas reumáticas faltaram.
— Er… Então. Nós… Quer dizer, o povo de Israel… Os… Os israelitas, sabe? Eles… Eles querem um rei. Como nos países vizinhos, sabe?
— Um… UM REI??? Oras, vão todos às putas que os pariram! Sou um homem ocupado, não posso dar ouvidos a tal sorte de bazófias!
Escorraçados, os líderes se picaram dali. Samuel foi falar com Javé:
— Viu só o que aconteceu, Javé? A canalha agora resolveu que quer um rei.
— Ah, é? Pois quer saber de uma coisa, Samuel? Dê-lhes um rei.
— COMO É QUE É?
— É isso mesmo. Eles querem um rei, não querem? Pois atenda o pedido deles.
— Mas Javé, assim eles estão me rejeitando!
— Não, Samuel. É a mim que eles rejeitam, como têm feito desde que eu tirei esse povinho bunda lá do Egito. Às vezes se arrependem e vêm chorando e fazendo sacrifícios para me agradarem, mas na maior parte do tempo o negócio deles é mesmo seguir os costumes das nações vizinhas. Adorando seus deuses, rejeitaram a mim. Agora, pedindo para serem governados por um rei, como nos outros países, rejeitam a mim e a você. Tem jeito não, Samuel. Atenda o pedido, dê-lhes um rei.
— Mas assim, de mão beijada?
— Não, não. Você vai explicar pra eles detalhadamente como é que o rei vai tratá-los. Se ainda assim eles não desistirem da idéia, paciência.
Samuel passou a noite toda preparando seu discurso, pois queria convencer os israelitas a desistirem de suas idéias monarquistas. No dia seguinte, convocou os líderes e disse a eles:
— Vocês tiveram a cara-de-pau de virem aqui para me pedirem um rei. Tudo bem: falei com Javé e ele concordou com a idéia.
— Que beleza, que beleza!
— Calma, ainda não terminei. Quero dizer a vocês como o rei os tratará. Ele tomará seus filhos para serem soldados de infantaria e cavalaria, como generais e capitães. Cultivarão as terras dele, farão suas colheitas, forjarão suas armas e fabricarão os seus equipamentos de guerra. As filhas de vocês farão os perfumes de Sua Majestade, serão suas cozinheiras e padeiras. E não é só isso! Ele tomará de vocês as melhores terras e plantações, entregando tudo a seus funcionários de confiança. Cobrará impostos de vocês, para manter o luxo de sua corte, tomará de vocês os servos, o melhor gado e os melhores jumentos, para que trabalhem para ele. Vocês serão escravos do rei que pediram, e quando isso acontecer chorarão amargamente, mas Javé não ouvirá as suas queixas.
— Sei, sei… Que mais?
— Er… Era isso mesmo, acho.
— Só isso?
— ACHAM POUCO??? AINDA ASSIM VOCÊS QUEREM TER UM REI?
— Hum… É, queremos sim.
— COMO É QUE É?
— Tudo bem, ué. Queremos que Israel seja uma nação moderna. Esse negócio de ser governado por juízes é muito antiquado, Seu Samuel, com todo o respeito. É preciso que Israel avance, mas para isso precisamos de um rei, de uma dinastia que nos guie na direção do futuro.
— ESSE É O MAIOR MONTE DE BOSTA FUMEGANTE QUE JÁ OUVI NA MINHA VIDA!
Samuel saiu pisando duro, e os líderes foram embora. Pelo jeito teriam que esperar pela morte daquele anacrônico juiz, para aí sim começarem a tecer seus planos para a instauração da monarquia. Eles não sabiam que Javé, de certa forma, estava ao lado deles:
— Faça o que eles querem — disse ele a Samuel. — Dê um rei a eles.
— Mas, Javé…
— Ah, Samuel, não torra!
Pelo jeito, Javé começava a simpatizar com a idéia de ter um rei em Israel. A Samuel, portanto, nada mais restava do que obedecer. Como, porém, seria escolhido o primeiro rei? Logo veremos.
Marcaurélio, tem gente que não aprende nem apanhando mesmo.
Estou começando a achar que o seu Lunga, lá do Ceará, descende do Samuel.
Bom, pra começar…Estou lendo todos os seus textos postados aqui, acabei de conhecer sua página e estou achando tudo “Bom pra caramba!” ! Valew e inté intão!
Escolher um rei… hmmmm… Pelo jeito, é nessa parte da história que o Roberto Carlos faz a sua estréia, né? (O cantor, né!) Ou seria o Pelé?
Nós já tivemos nosso reizinho: Itamar, itapior, Frango!
ISSO AKI É DEMAISS!!!!! nunca ri tanto!!!! hahahaahahhaha!! vou recomendar pros meus amigos… bjao