(Números 22:1-21)
Depois de toda a carnificina, o povo de Israel partiu e acampou nas planícies de Moabe, a leste do Jordão, na mesma latitude de Jericó, que ficava do outro lado do rio, já na Terra Prometida. Quando o rei de Moabe — Balaque, o nome dele — soube que os israelitas estavam em seu território, cagou-se de medo. Ele, é claro, já sabia da destruição causada por aquele povo no território dos amorreus. Naquela época os moabitas estava aliados aos vizinhos midianitas, então os líderes se reuniram para decidirem o que fazer:
— Nós estamos fodidos. FODIDOS!
— Caaaaaaaalma…
— CALMA O CARALHO! Com esse povo aí não tem conversa, eles chegam matando, não querem nem saber.
— Ah, mas isso foi com os amorreus. Aliás, cê soube que os amorreus mudaram de nome?
— Mudaram?
— É. Agora são os já morreus. PESCOU? PESCOU? JÁ MORREUS!
— Calaboca, porra! A gente aqui nesse perrengue e você me vem com piadinha sem graça? Esse povo aí vai fazer com a gente o que o boi faz com o pasto!
— Tá bom, Balaque. Então o que é que você propõe?
— Sei lá, sei lá! Os amorreus eram mais fortes que nós e se foderam na mão desses caras. Imagina só o que eles vão fazer com a gente… Acho que o jeito é apelar pra mandinga.
— Porra, não é pra tanto.
— Estamos desesperados, admita!
— É… Estamos. Então o que você quer? Que chamemos o…?
— Sim senhor. Só Bambalalão pode nos ajudar.
— Balaão.
— Que seja.
Muito bem, então o jeito era chamarem Balaão. Balaão era um profeta sergipano, e repentista nas horas vagas. Morava na cidade de Petor, perto do Rio Eufrates, na Mesopotâmia. Para vocês terem uma idéia do desespero de Balaque (e da fama de Balaão): o território de Moabe era um pedaço da atual Jordânia, perto da fronteira com Israel e com a Síria. Balaão morava onde hoje fica o Iraque, cerca de mil quilômetros a leste de onde morava Balaque. Mesmo assim (e sendo provável que houvesse vários outros profetas em Moabe e nos territórios vizinhos), Balaque mandou mensageiros a Balaão, lá na casa do caralho. Depois de alguns dias de caminhada, chegaram à casa de Balaão:
— Ô de casa!
— Ô de fora!
— Podemos entrar?
— Não reparem a bagunça.
— Seu Bambalalão?
— Balaão, um seu criado.
— Ah, desculpe.
— Tudo bem, seu menino. Todo mundo confunde.
— Imagino. Pois então, Seu Balaão.
— Precisa me dar senhoria não, rapaz. Queisso! Me chama só de Balaão. Ou de Bala.
— Então, Balaão. Viemos da parte de Balaque, rei de Moabe. Conhece?
— Já ouvi falar.
— Pois então. Ele manda dizer que um povo inteiro saiu do Egito e está espalhado por todo canto. Pior: agora foram morar perto da gente. E estamos com medo deles.
— Sei, ouvi falar desse povo aí. Hebreus. O deus deles é gente boa.
— Você conhece o deus deles?
— Claro! Rapaz, eu sou um profeta arretado de bom, não sou aqueles mequetrefes que vocês têm lá em Moabe não! Conheço tudo quanto é deus que tem por aí, inclusive o dos hebreus, Javé. Meio nervosinho, mas uma boa companhia. Ele vem pra cá, a gente conversa um bocadinho, ele senta ali na rede, fica fumando um baseado, eu fico aqui tocando minha violinha, ele pede umas músicas. Gente boa mesmo.
— Bom, acho que isso facilita as coisas. Porque, como eu dizia, estamos com medo dos israelitas.
— Sei, sei. Mas o que vocês querem que eu faça, se mal lhes pergunto?
— Queremos que você vá até lá e amaldiçoe os israelitas.
— Amaldiçoar, é?
— É. Sabemos da sua fama, Balaão. Sabemos que se você os amaldiçoar teremos uma chance.
— Sei. E tem um dinheirim nisso aí?
— Claro, claro! Tá aqui, ó.
— Deixa eu ver… Hum… É, dá pras despesas da viagem e pra um licorzinho de jenipapo.
— E então, Balaão? Você vai com a gente.
— Olha, rapaz, vamos fazer o seguinte: vocês passam a noite aqui comigo. Hoje à noite Javé deve vir aqui, fiquei de entregar pra ele uma garrafada de catuaba com capim-santo. Aí eu falo com ele a respeito, talvez nem precise ir com vocês.
— Tá bom então, Balaão.
Os mensageiros de Balaque ficaram por ali. À noite, deus foi à casa de Balaão.
— Ô de casa!
— Ô de fora!
— Tudo bem aí, Balaão?
— Tudo daquele jeito, Javé.
— Fez minha garrafada?
— Fiz sim. Tá aqui, ó. Não vá exagerar, um golinho por dia já tá bom demais.
— Beleza… Tá com visita, é?
— Pois é, rapaz… Moabitas, midianitas, aquela gente lá.
— Vixe, vieram de longe. Que que eles querem?
— Querem que eu vá com eles pra amaldiçoar um povo que saiu do Egito e está por lá agora.
— Que povo? Os israelitas?
— Esses aí.
— O MEU povo, Balaão?
— É.
— E você vai fazer o que eles pedem?
— Pois é, isso é que eu queria perguntar pra você. O pagamento é bom, olha só. A gente pode repartir meio-a-meio…
— Sei não, Balaão… Trabalheira do cão conduzir esse povo por quarenta anos pelo deserto, para agora entregá-lo assim? Justo agora que estão tão perto do objetivo? Sei não… Vai ficar parecendo o time do Santos.
— Sei como é, Javé. Então o melhor é eu não aceitar a oferta deles?
— É isso aí.
— Então estamos conversados.
— Você é um bom homem, Balaão.
— Não por isso.
Na manhã seguinte Balaão serviu um café reforçado para os mensageiros (com inhame e tudo mais), devolveu o dinheiro e comunicou sua decisão. Abatidos, os mensageiros voltaram para Moabe e avisaram a Balaque que Balaão não quisera ir. Balaque, o Cagão, ficou mais desesperado ainda.
— Ai caralho! O cara não vem? Como assim, não vem???
— Pois é, majestade. Não quis vir não.
— Ô MERDA! Mas também, mandei uns zé-manés pra falar com o cara, claro que ele não se impressionou.
Então Balaque mandou outros mensageiros até Petor, dessa vez em maior número e importância.
— Ô de casa!
— Ô de fora!
— Balaão, viemos da parte de Balaque, rei de…
— Rei de Moabe, tô sabendo. Ele mandou outros sujeitos pra cá dia desses. Só que os carros deles não eram importados não…
— Er… Pois é, Balaão, é que Balaque quer MUITO que você venha nos ajudar, por isso nos mandou, os principais líderes de Moabe, para que falássemos com você.
— Sei. Mas eu já não disse que não vou, rapaz?
— Disse, disse. E respeitamos sua decisão! Mas não custa nada negociar, não é mesmo?
— Se você diz…
— Pois Balaão, o rei manda dizer que vai te pagar quanto você quiser, desde que você faça o favor de nos acompanhar até Moabe e amaldiçoar os israelitas.
— Rapaz, rapaz… Mesmo que Balaque me desse toda a riqueza de Moabe, eu não poderia fazer nada. Javé, o deus dos israelitas, me proibiu de amaldiçoar seu povo. E não sei se vocês sabem, Javé é um sujeito pedra noventa, mas o melhor é não contrariar ele. Vira bicho!
— Então tá, Balaão. Vamos voltar para nossa terra para sermos todos mortos.
— Ê, rapaz, pra que tanto drama? Olha, vamos fazer assim: hoje Javé vem aqui pra me trazer umas cordas pra viola que ele comprou na feira de Caruaru. Então passem a noite aqui e vamos ver no que dá.
Sem botarem muita fé, mas também sem alternativa melhor, os líderes ficaram na casa de Balaão. E naquela noite Javé veio de novo, e Balaão explicou pra ele o que acontecia.
— Eita, Balaão. Esses caras não desistem, né?
— Pois é, Javé. Pense nuns cabras desesperados! Me ofereceram tudo o que eu quiser como pagamento.
— Tudo o que você quiser?
— É.
— Rapaz, o tal Balaque tá mesmo com o cu na mão. Hum… Faz o seguinte: Se arruma e vai com eles pra Moabe. Mas só faça o que eu mandar, beleza?
— Tudo bem.
No dia seguinte Balaão comunicou sua decisão aos moabitas, que quase explodiram de felicidade. Só não o fizeram porque a moda dos homens-bomba ainda não havia chegado ao Oriente Médio. Brindaram ao sucesso de sua missão com licor de cupuaçu e começaram a se aprontar para a viagem de volta. Balaão também se aprontou, preparou sua jumenta e partiu com eles.
Balaão e sua jumenta protagonizarão um dos momentos mais engraçados e absurdos desse livro engraçado e absurdo que é a Bíblia. Mas fica para o próximo capítulo.
Eu nunca tive paciência prá ler essas coisas… Quando vc lançar um livro me avisa, que daí lei ode cabo a rabo.
Ui, de cabo a rabo’…….
Rapaz, agora eu tou curioso . . .
pode crer, é umas das partes mais comicas da biblia, até que Deus tem imaginação…
mal posso esperar o proximo capitulo
Eu queria descrever como estou ansioso pelo próximo capítulo mas não encontro palavras, ícones ou onomatopéias que cumpram essa função.
oProfeTa!
Garrafada de catuaba com capim-santo, fala sério!!!! AHAHAHAHA!!! Ótimo capítulo, quero só ver o próximo!!!!!
cara, na minha opiniao, q se foda a cor e tal do blog, o q importa é o conteúdo, e como o emotionrélio voltou ao normal, e o fale com deus tb, q se foda o resto
eu digo FODA-SE
essa chicotada é só pra salvar meus dados, foi mal!!!!
Balaão e sua jumenta…bem sonoro,não? Dá funk!
Muito bom, o Bambalalão nordestino em sua jumenta!!!
Por isso que eu to gostando viu, muito abrasileirada essa sua versão da Bíblia! E eu insisto: vai publicar quando terminar, ô se vai!
E não deixa de combinar o bat-encontro na sexta, fiquei afim de ir!
Abre um chat aí, Marcu, tá muito chato o lab aqui hj…
ufa!!! consegui terminar de ler o texto… muito bom por sinal… falow marcorelha…
Tudo bem, esquece meu comentário do outro post. Você se recuperou do trauma causado pela morte do Arão. Mandou muito bem nesta. Detalhe curioso: sabe qual outro personagem bíblico é repentista nordestino? O Jó! O livro de Jó é quase todo um duelo de viola!!!
Rodrigo, vocÊ escapou por pouco de levar uma traulitada inesquecível. Da próxima vez, tente ler os capítulos ORIGINAIS e veja o quanto é difícil tornar alguns trechos minimamente interessantes.
Cara, eu tava quase desistindo de ler este blog, mas esta voltando a ser muito bom!!!
…que é prá menino não andar nu, de tudo que hai no mundo tem na feira de Caruaru. Amei, muuuito que totalmente the best.
Beijim.
E o licor de cupuacu…ai, ai. Sodade arretada!
Esse capítulo está perfeito…
Maravilha! Estou ainda engasgado de tanta sapiência e amendoin.