O Homem Que Copiava

Esta semana finalmente fui assistir a O Homem Que Copiava. Estou batendo a cabeça na parede até agora por ter adiado tanto: o filme é tão bom que até o Polzonoff gostou.
Confesso que ao ver o trailer senti-me totalmente desestimulado a ver o filme. “Parece filme americano”, lembro-me de ter pensado. Pois essa é justamente a principal qualidade do filme: nada de cenas como aquela do moleque morto no trilho do trem ou do mercado de órgãos em Central do Brasil, ou aquela das crianças armadas em Cidade de Deus, ou a do cara que vai vender os filhos pra comprar comida em Deus é Brasileiro, ou ainda aquela do cara morto dependurado nas grades em Carandiru. Essas cenas têm em comum a visão que a elite brasileira (cineastas inclusive) têm da miséria do país: algo exagerado, quase uma miséria rococó. E é isso que eles querem vender para o exterior. Não que no Brasil não exista gente vendendo os filhos, ou policiais matando garotos, ou crianças armadas: a questão é a naturalidade com que os outros personagens reagem a esses acontecimentos. Como se por aqui isso tudo já estivesse mesmo intistucionalizado. Oras, pelamordedeus! Se um cara vier me dizer que está indo vender os filhos, arrebento-lhe a cara, ou pelo menos mostro-me chocado. Não vou dizer “Oh, que coisa” e depois ir filmar longas e tediosas cenas de paisagem para vender para os gringos.
Bom, mas voltando ao filme: O Homem Que Copiava parece americano ao ignorar essas questões e encarregar-se apenas de contar — de forma primorosa — uma boa história. Meu mestre supremo, Stephen King, sempre diz que devemos falar do que conhecemos, por isso suas histórias se passam todas no Maine, seu estado natal. Jorge Furtado mostra que sabe muito bem disso ao ambientar sua história em Porto Alegre, em vez de tentar um dinheirinho do governo pra passar umas férias nas praias do Nordeste enquanto finge que faz um filme (alguém aí falou em Cacá Diegues?). O roteiro é excelente, sem preocupações excessivas com a verossimilhança (a vida nem é tão verossímil assim, então pra que se preocupar tanto?). Lida com as três formas de ganhar dinheiro fácil com que todos sonhamos. Não vou falar quais, pra não estragar o filme, mas uma delas é fazer dinheiro, como já está dito no título.
O elenco é excelente. Lázaro Ramos é um gigante, além de ser engraçado vê-lo lutando contra o sotaque baiano. Já repararam em baiano tentando fazer sotaque de paulista ou gaúcho? Sempre exageram nos “erres”, fica legal. Eu me apaixonei por Leandra Leal ao ver o filme, mas isso se deve à minha facilidade para me apaixonar ultimamente. Luana Piovani (Ah, Luana…) surpreende com uma atuação muito boa. E tem o Pedro Cardoso. Porra, que que eu vou falar do Pedro Cardoso??? O cara é deus! EU AMO PEDRO CARDOSO!
Pronto, passou.
Se você ainda não viu o filme você é bobo e feio. Vá correndo.

17 comments

  1. Eu achei que tiveram poucos deslizes com a fala, principalmente porquê não ficaram tentando imitar a fala do “gaúcho” apenas, mas pegaram as sutilezas da fala portoalegrense.
    Teve alguns deslizes, é claro, mas nada ficou forçado.

  2. Ótimo filme! Você acha que vai dar merda o tempo inteiro… É sensacional! Fora as sacadas audiovisuais.
    A propósito, (você já deve saber), lembrou-se do Ilha das Flores em algum momento? É que o Ilha das Flores foi um trabalho da faculdade de cinema, daqueles de conclusão, e nesse filme já se pode ver o trabalho profissional.

  3. Marco Aurélio, fico muito triste de você ter aderido ao estilo “Veja” de crítica, onde só é possível falar bem de um filme ou livro ou peça se ao mesmo tempo se meter o pau em outros semelhantes. Eu nem vi esse filme do Jorge Furtado, pois aqui na minha província esses filmes só chegam 1 mês depois (quando chegam), mas o que você fala desses outros filmes brasileiros, que com certeza mostram o Brasil _como ele é_, é injusto, muito injusto. Um dia desses passou pela minha mão o inquérito (com fotos) da morte de um rapaz de 21 anos, dentro da delegacia duma cidade aqui perto, assassinado porque ficou com um tequinho a mais na divisão da maconha. Cara, eu já vi de tudo na vida, mas me deu uma profunda raiva e pena pela história toda, com alguém morrendo num prédio minúsculo e e cheio de gente dentro, inclusive soldados e policiais, no horário de expediente. É por isso que eu sei que a violência que existe em Central do Brasil e Carandiru, e a _indiferença com que as pessoas a tratam_, não tem nada de irreal, nada de fabricado, nada de “visão de elite”. PQP, essa história de elite foi o fim. Virou marxista agora? Eles é que acham que a visão de mundo da pessoa é condicionada pela posição que ela ocupa no modo de produção. Jorge Furtado é tão elite quanto Walter Salles e outros. Aliás, nesse país qualquer um que consegue ler direito, escrever direito e usar o computador já pode se considerar dela (bem vindo, Marco Aurélio). Quanto a contar apenas as histórias de que se conhece muito bem, o Jorge Amado já tinha dito algo parecido com o pensamento do Stephen King. Mas não transforme o que é só uma característica em uma virtude. Grandes autores, alguns tão bons ou até melhores que esses aí, conseguiram sim fazer grandes obras sobre coisas que não conheciam tão bem. Vargas Llosa escreveu um livro primoroso sobre a Revolução de Canudos, sem saber quase nada do caso antes de começar sua pesquisa. Bem, eu tinha mais coisa pra falar, mas talvez o comment tenha limite de tamanho. Nota 10 pro seu blog. Nota 0 pra esse post. Grande abraço.

  4. Eu também saí do filme com vontade de ver de novo, é cheio de referências, eu percebi tantas pequenas mensagens dentro dele quando assisti, que fiquei com a sensação de que não peguei metade do que ainda existe lá. Mas acho que o pedro cardos, apesar de estar muito bem, acabou repetindo o personagem que ele já faz na globo, uma coisa entre o malandro e o loser. É excelente, mas não tem novidade.

  5. Eu não quero fazer propaganda, tanto até que não ponho o nome do meu blog em lugar nenhum dos seus comentários… mas eu dizia lá no meu blog sobre cinema, e até te avisei… e quem avisa, amigo é, mesmo que a gente não se conheça…

  6. A bela Porto Alegre, Luana Piovani impecável, Leandra Leal falando “escroto”, Pedro Cardoso como ele mesmo, excelente enredo… Um dos melhores filmes nacionais. Sem dúvida. É isso.

  7. Esse filme é mesmo animal vc tem toda a razão só acho uma pena o menino morrer no assalto do final. ficou meio triste ops!!! foi mal contei.

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