Com o povo botando fé em ambos, os irmãos se sentiram motivados e foram falar com o Faraó.
— A-A-Arão, não esquece q-que J-J-Javé fa-falou pra g-g-gente di-dizer ao F-F-Fafa-Faaaaaaaaaaaaa…
— …Faraó
— I-isso, q-que o po-povo vai p-pro de-deserto s-só o-o-oferecer uns sa-sacrifícios e j-j-já volta.
— Deixa isso comigo, Moisés. Sou seu irmão e assessor de imprensa, confia em mim.
Chegando à presença do Faraó, Arão pediu permissão para falar e disse:
— Ó, Faraoó-Ó-Ó-Ó, soberano do Egito-Egito-Ê…
— Ué, já sabia que seu irmão era gago. Mas e você, é gago ao contrário?
— Não, Faraó. É aquela música da Banda Reflexus. Pra quebrar o gelo, sabe?
— Não sei não. Que música? Que banda? Aliás, o que é gelo?
— Hum. Deixa pra lá. Então. Viemos aqui pra pedir uma coisa ao senhor. Javé vai dar uma festa no deserto, uma rave das maiores que já se viu. Ele convidou todos os hebreus para a festa, e deixou bem claro que quer todo mundo lá. Então viemos aqui pedir para o senhor deixar o povo ir à festa.
— Javé? Quem é esse tal Javé, que dá uma festa, não convida o Faraó, mas chama um bando de escravos? Não conheço Javé nenhum, e não vou deixar esse bando ir pra essa tal festa não. Podem esquecer.
— Ô, Faraó. Javé é o deus dos hebreus. Ele é muito brabo, se a gente não for é capaz dele matar todo mundo! Se emputece com facilidade, o Javé. Pô, não custa nada! O lugar da festa fica a três dias de caminhada, quando o senhor perceber, já voltamos.
— TRÊS DIAS DE CAMINHADA??? Cês fumaram maconha mijada, foi? Mas de jeito nenhum que eu vou deixar vocês irem! Era o que faltava… E digo mais! Cês ficam com essa conversinha de festa pra lá e pra cá, por isso que esses hebreus andam mais vagabundos do que habitualmente. Cadê o Ministro da Escravatura? Ah, cê tá aí. Seguinte: A partir de hoje vocês não vão mais dar palha aos hebreus para eles fazerem tijolos. Eles que vão atrás de palha. E vão ter que continuar produzindo exatamente o mesmo número de tijolos, se não o bicho vai pegar aqui nessa porra! Eles andam sem fazer nada, por isso ficam falando em festa no deserto e sei lá o quê. Quanto a vocês, Moisés e Arão, sumam da minha frente, que tá me dando gastura olhar pra cara de vocês!
Os dois saíram com os respectivos rabos entre as pernas. Para piorar, de acordo com a ordem do Faraó, os capatazes pararam de entregar palha aos escravos hebreus, obrigando-os a sair catando palha antes de começar o trabalho de fabrico dos tijolos. E os capatazes apertavam:
— Vambora, seus porras, vambora! Cês têm que entregar o mesmo número de tijolos que antes, tão pensando que é moleza, que a vida é festa? Todo mundo trabalhando!
Os oficiais hebreus que fiscalizavam o trabalho começaram a ser açoitados todos os dias, por entregarem um número inferior de tijolos. Foram chorar para o Faraó.
— Ô seu Faraó, pelamordedeus, assim não dá! Trabalhamos feito burros de carga, e ainda somos açoitados, não há cristão que agüente!
— E desde quando cês são cristãos, porra? Estão apanhando porque merecem: São vagabundos que só querem saber de farra. Em vez de estarem aqui chorando, deviam era trabalhar direito. Vão embora daqui, que eu não tô com saco pra agüentar hebreu hoje.
Os caras saíram do palácio desconsolados, e encontraram Moisés e Arão no caminho.
— Cês viram o que fizeram? Inventaram esse negócio de festa no deserto, e agora o Faraó tá querendo foder a gente de todo jeito. Puta merda.
Os dois ficaram muito sem graça com isso, e Moisés foi queixar-se com deus.
— Ô J-J-Ja-Javé! C-c-cê tá de b-b-brincadeira c-com a g-g-g-gente, é? O p-p-povo tá m-m-muito pu-puto com e-esse n-ne-negócio.
— Relaxa, Moisés…
— R-RE-RELAXA??? O-o-ora, c-cê fala i-i-isso p-porque n-não é em vo-você que e-e-eles tão bo-botando a cu-culpa. É E-EM M-M-M-MIM, PO-PORRA!
— Calma, porra! Eu já não falei que eu sou foda? Então! Eu sou é deus, tá sabendo? DEUS!
— E o q-que cê v-vai fa-fazer?
— Cê vai ver, Moisés, cê vai ver. Vou aprontar cada uma com esse Faraó que no fim ele vai implorar pra vocês irem embora. Aguarde e confie…