Jacó e sua família chegam ao Egito

Xô, preguiça! Onde é que estávamos mesmo? Ah, Jacó decidiu mudar-se para o Egito com a parentada toda. Precisou de um empurrãozinho de deus, daquele tipo ou-você-faz-ou-eu-fodo-tua-vida, mas o que importa é que o velho finalmente criou coragem para sair de Canaã.
E lá foram Jacó, os onze filhos com suas respectivas esposas, a molecada toda, os empregados, os animais do rebanho, aquele mundaréu de gente e bicho no caminho para o Egito. A viagem foi aquela chatice de sempre, passando pelo meio do deserto, areia de um lado, areia do outro, areia entrando no nariz, nos ouvidos, nos três olhos, aquela merda. Então vamos pular essa etapa direto para a chegada da família à terra de Gósen, já no Egito. Pois chegando a Gósen, Jacó chamou seu filho Judá.
— Judá! Ô, Judá! Vem aqui, seu songo-mongo.
— Ô pai, cê não vai parar com isso de ficar xingando a gente?
— Vou sim. No dia em que deixarem de ser songo-mongos. Enquanto esse dia não chega, é melhor você aceitar calado se não quiser apanhar.
— Mas pai, vai querer me bater? Com todo respeito, o senhor é um velho e eu sou um homem no auge da forma física.
— Seu imbecil, você por acaso já saiu na mão com deus?
— N-não…
— POIS EU SIM! Então é melhor calar a boca, certo?
— …
— É assim que eu gosto. Judá, você que é o menos songo-mongo dos filhos que deus resolveu me dar pra tirar sarro da minha cara, vai até a capital e avisa pro José que já estou aqui.
— Tá bom. Vou com um dos ônibus ou com a carreta?
— Vai a pé que é pra aprender a deixar de ser besta.
— Mas pai…
— AGORA!
Judá, que era burro mas não tanto a ponto de desafiar Jacó, foi correndo cumprir as ordens do pai.
Quando José soube que o pai já estava no Egito, ordenou que trouxessem seu New Beetle rosa, chamou Judá e pegou a estrada para Gósen levantando poeira.
— Ai, Judá, ainda bem que eu não peguei o Cadillac Rabo-de-Peixe bordô (Valeu, Pedro Nunes!), essa poeira toda ia acabar com minha pele.
— José, você não mudou em nada…
— Como assim?
— Deixa pra lá. Olha, o pai tá ali na beira da estrada.
Ao ver o velho pai depois de tantos anos, José mordeu os punhos para conter a crise de choro que ameaçava acometê-lo e quase bate o carro. Mas conseguiu retomar o controle, parar o carro e sair saltitante para jogar-se no pescoço do pai, quase sufocando o velho.
— Papai! Papai! Pensei que nunca mais fosse te ver. Ai, papai, que saudade!
— Ah, meu filho! Agora eu já posso morrer, porque estou vendo você de novo. Para mim é como você tivesse ressuscitado, porque esses songo-mongos pensavam que você tinha morrido, e eu também.
— Pensaram que eu tinha morrido, é? — Lançando um olhar faiscante aos envergonhados irmãos.
— É. Me trouxeram sua túnica suja de sangue, e claro que eu também pensei que você estivesse morto.
— Tudo bem, papai, isso é passado. Agora a gente vai esquecer isso e pensar no seu futuro morando aqui no Egito, na maior mordomia. Ai, o senhor precisa conhecer o Faraó! Uma pessoa ma-ra-vi-lho-sa, o nosso soberano. O senhor vai a-do-rar.
— Não vejo a hora, filho. Puxa, quem diria que eu ainda ia conhecer o Faraó, hein? Bom, tá certo que uma vez eu lutei com deus, já contei essa história pra vocês?
— Er… Acho que sim, pai. Mas agora não dá tempo, liguei para o Faraó no caminho e ele tá esperando a gente. Vamos, vamos, rápido.
— Então vamos. Hum. José?
— Fala, papai.
— Seus irmãos, da primeira vez que vieram aqui, voltaram pra Canaã dizendo que o governador do Egito era viado.
— Ah, é? Hehe. Que coisa, não?
— Pois é. Olhem bem, seus songo-mongos! Este é José, ele é muito educado, é um homem fino, amigo do Faraó, se veste bem, se cuida, não é um homem da roça feito nós. Isso não quer dizer que ele seja bicha, seus burros!
Tem pai que é cego…
— O que você disse, Gade?
— Ai, papai, deixa o Gade pra lá, ele é resmungão mesmo. Vamos, não é educado deixar o Faraó esperando.
José enfiou o pai e mais cinco irmãos dentro do New Beetle rosa (“Podem entrar, é igual coração de mãe esse meu carrinho”) e foram todos para o palácio do Faraó, que os recebeu na maior simpatia.
— Eita porra! Vocês de novo por aqui? E esse velho aí que é o pai de vocês?
— Velho é o corno do teu pai, Faraó!
— Ôpa, calma lá! Mais respeito comigo! Sou o Faraó, soberano do Egito, tá pensando o quê?
— Soberano do Egito, grandes merdas! Pois saiba que eu já lutei com deus! Uma vez, quando acampei no vale do Rio Jaboque, um homem veio à noite e…
— Tá bom, tá bom, Jacó! Até eu já ouvi essa história, porra!
— Hunf. Então sabe com quem está se metendo.
— Sei, tá bom, vamos deixar isso pra lá. Fui com a sua cara, apesar de você ser um velho desbocado.
— Olha quem fala…
— Ô, Jacó, quem dera seu filho aqui fosse macho assim, hein?
— Como é?
— Hum… Nada não. Er… Mas e aí, já escolheram onde querem morar?
— Ué, pode escolher?
— Claro que pode! Cês são parentes do meu amigo Zé, é como se fossem minha família. E aí, que vocês acham?
— Olha, aquela terra de Gósen parece bem legal…
— Pois então tá decidido. Cês vão morar em Gósen. E vou ver se descolo uns cargos públicos pra vocês. Que tal?
— Muito bom, seu Faraó. Cê tem cara de filho da puta mas até que é gente boa.
— Ora, bondade sua, Jacó. Agora vão arrumar suas coisas que eu sei que a viagem foi longa e cês devem estar com o rabo cheio de areia.
— Ainda bem que você sabe. Bom, vambora, cambada. Precisamos arrumar as coisas em nossa nova casa.
E foi assim que os primeiros hebreus foram morar no Egito, o que no futuro gerou muita confusão. Mas isso eu vou contar só láaaaaaaa na frente, porque antes ainda tenho que falar da jogada de mestre que José aprontou como governador do Egito. No próximo capítulo. Até mais!

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