Muito bem, pecadores. Já tratamos demais de assuntos diversos, vamos retomar nossa história, que é muito mais legal.
Como vimos, Isaque se casou com Rebeca. Talvez aliviado do antigo peso na consciência, Abraão resolveu arrumar uma mulher também. O velho casou-se com uma tal de Quetura e tiveram seis filhos, cada um com o nome mais bonito que o outro: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Sua. Minha? Não, não. Lá deles. Tenho nada com isso não. Desses aí só ouviremos falar ainda do Midiã, que é o antepassado dos midianitas, povinho que ainda vai nos dar trabalho.
Abraão viveu 175 anos (trinta e cinco anos depois do casamento de Isaque, portanto). Quando ele morreu, deus olhou lá de cima e pela primeira vez soube o que era tristeza de verdade. Abraão tinha sido seu amigo por tantos anos, talvez seu único amigo, e por causa de uma brincadeira de mau gosto eles haviam se distanciado. Deus se arrependeu, mas era tarde. Se pudesse, faria voltar o tempo. Mas como nós todos sabemos, deus não é o Super-Homem.
Isaque e Ismael sepultaram o pai no túmulo que ele havia comprado para Sara, na caverna de Macpela. Ôpa, quando foi que Ismael voltou? Não é possível que Isaque tenha ligado para o celular dele pra avisar, “Ismael, vem pra casa, que o pai morreu”. Ismael morava no deserto, e é claro que o celular dele passava o tempo todo sem sinal. O mais provável é que ele tenha voltado pra casa após a morte de Sara.
Mas é isso. Morreu Abraão, nosso personagem mais importante até agora. Vamos ver o que nos reserva Isaque. Porque sobre Isamel só ficamos sabendo que ele teve doze filhos, que cada um deles foi chefe de uma tribo (tudo isso pra explicar a origem dos povos do sul da Península Arábica) e que Ismael morreu aos 137 anos, ou seja, 86 anos depois da morte de Abraão.
Nota: Já nos tempos do Novo Testamento (depois do nascimento de Jesus Cristo), surgiu uma tradição que situava essa caverna de Macpela, onde foram sepultados Abraão, Sara e vários de seus descendentes, num determinado ponto de Hebrom, cidade do sul de Israel, que conta hoje cerca de 120 mil habitantes. Os muçulmanos — que vieram a ocupar a área onde fica Hebrom por 1300 anos — incorporaram essa tradição: o túmulo é cercado por paredes de pedra, como uma fortaleza, e é considerado Haram (lugar proibido). Fica abrigado dentro de uma construção que é ao mesmo tempo mesquita e sinagoga, por ser Abraão patriarca tanto dos judeus quanto dos árabes.