Nerd da quebrada

Crescer na periferia de São Paulo nos anos 80 era muito bom para quem gostava de brincar na rua. Empinar pipa, jogar bola, descer a rua num carrinho de rolimã…

Eu odiava essa merda toda.

Parte por temperamento, parte por ter sido condicionado a isso. Mas as razões eu deixo pro consultório da psicanalista. O fato é que brincar na rua não me interessava, então minha infância foi um tédio… até eu aprender a ler.

Ler era muito bom quando você era uma criança da periferia de São Paulo nos anos 80. Internet não existia, nossa casa não tinha videocassete nem discos para tocar na vitrola, nossa única opção de entretenimento era a TV. Quando eu descobri os livros e as histórias em quadrinhos, um mundo novo e muito mais interessante se abriu para mim. Dos 5 até mais ou menos os 14 anos, minha vida era com o nariz enfiado num livro. Eu lia os gibis do meu tio, ia na casa da vizinha ler os livros do filho dela, lia o jornal e a Bíblia em casa. Lia, lia, lia. Era um nerd, mas era feliz demais. Não me arrependo.

Uma parte importante dessa história foi a biblioteca da escola onde eu estudava, a EMPG Amadeu Amaral. Foi lá que conheci a obra de João Carlos Marinho. O Gênio do Crime, Caneco de Prata, Sangue Fresco… Li e reli tudo que ele escreveu. Voltei a ler depois de adulto, e é melhor ainda. O jeito dele escrever faz o ato parecer fácil. É como João Gilberto ou Fred Astaire. Ele foi um dos responsáveis por eu decidir que, além de ler, queria escrever também.

Deus foi bom pra mim, e ontem eu conheci João Carlos pessoalmente. Saí do estande da Bienal comovido, tive que parar um pouco para respirar fundo.

Quem cresceu na periferia de São Paulo nos anos 80 nem imagina que um dia vai conhecer seus ídolos. Estou muito feliz.

João Carlos Marinho e eu

4 comments

  1. Porra ! Que bom saber que o cara está aí firme e forte. O Genio do Crime é daqueles livros inexplicáveis que se mantém fresco na sua cabeça por toda a vida, e nãp é só se lembrar do livro, e sim se lembrar da emoção que o livro te proporcionou , e olha que eu já tenho 52
    Grande abraço

  2. Nossa mew, sua infância foi praticamente a mesma que a minha, também nos anos 80, mas eu não conheci o João Carlos Marinho que também tenho como ídolo pessoalmente. Um dia, recebi uma
    Carta da Stella Carr, a emoção foi similar, imagino. Nostalgia demais esse seu post, larga mão do twitter e volta pra cá rsrs. Abraçoo

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