A revolta de Gal

— MEU NOME É GAL
E PROCURO ME CORRESPONDER COM UM RAPAZ
QUE SEJA O TAL

[abre a blusa mostrando as muchibinhas]
— E NÃO FAZ MAL
QUE ELE NÃO SEJA BRANCO, NÃO TENHA C…

Ô! QUE PORRA É ESSA!
A revolta de Gal, ué…
COMO??? Ah. Putz, errei o título. Foi mal aê, vou começar de novo. Minha senhora, guarde esses peitos, pelamordedeus…

A revolta de Gaal

(Juízes 9:22-57)

Aham.
Governar Siquém era só o primeiro passo: em pouco tempo Abimeleque se tornou governante de todo o Israel. Só que ele era um ditador, claro, e depois de três anos os habitantes de Siquém, seus primeiros aliados, começaram a se rebelar, chegando mesmo a colocar homens escondidos no alto das montanhas para matar Abimeleque. Esses homens assaltavam quem passasse pelo caminho, espalhando pânico pela região. O ditador ficou sabendo disso e tomou a única providência que sua mesquinhez permitia: não chegar nem perto do caminho que passava pelas montanhas, permanecendo o máximo possível em Arumá, sua cidade de residência. Esse Abimeleque só era macho mesmo na companhia de seus capangas, porque sozinho…
E é nesse ambiente de total insegurança, quase de guerra civil, que surge Gaal.
— MEU NOME É GAL…
GAAL! GAAL, PORRA!
— Ah…
Não se sabe muito sobre Gaal: só que era filho de um tal Ebede, que se mudou com seus irmãos para Siquém e logo conquistou a simpatia do povo, chegando mesmo a considerar-se um nativo da cidade. Numa das festas patrocinadas por ele no templo de Baal-Berite, Gaal bebeu um pouco mais do que devia e soltou a língua:
— Coé a desse tal de Abimeleque, hein? Quem esse mano pensa que é? Tá, é filho de Gideão e tal, mas e daí? E nós, somos o quê, um bando de covardes? E nosso governador, Zebul, que só falta empinar a bundinha pro Abimeleque? Que palhaçada! Ah, se eu mandasse alguma coisa por aqui… Ia lá peitar o feladaputa. “Ô, se você é tão macho e seu exército é tão bom, por que você não sai daí pra lutar, hein?”. Mas vou fazer o quê? Mando em nada…
É regra bastante conhecida a que diz que em todo lugar há pelo menos um dedo-duro, e a festa no templo de Baal-Berite não seria exceção: o fio desemcapado correu pra despejar nos ouvidos de Zebul tudo o que Gaal dissera. O governador ficou com muita raiva, e mandou uma mensagem a Abimeleque:

Meu Grande Soberano Abimeleque, Cuja Glória Ofusca o Brilho do Sol

Sinto muito perturbar a graciosa paz de Vossa Magnificência com assuntos mundanos, mas a situação não me deixa alternativas. Vossa Luminescência ouviu falar de um tal Gaal, filho de Ebede, que hoje mora aqui de Siquém? Saiba que esse fulano anda atiçando o povo da cidade contra Vossa Rejubilescência. Como se os problemas que Vossa Magnânima Pessoa já não fossem suficientes!
Sei que nada sou, apenas um reles servo e admirador de Vossa Reverendíssima. Mesmo assim, atrevo-me a sugerir um plano de ação, que Sua Santidade não me leve a mal. Eis o plano: durante a noite, Vossa Circunferência sai com seu magnífico exército, e todos se escondem nos campos em volta de Siquém. Amanhã, assim que nascer o sol, vosso exército de bravos ataca a cidade. E quando Gaal sair para lutar com seus homens, aí Vossa Beligerância ataca com tudo o que tiver.
Apenas uma sugestãozinha de seu mui humilde servo,

Zebul

Descontando o tom um tanto quanto bajulatório — e ignorante — da mensagem, o plano de ataque era bom. Então Abimeleque mandou uma mensagem a Zebul:

Z,

Tá.

A.

À noite Abimeleque saiu com seu exército dividido em quatro grupos, e fez tudo exatamente conforme a idéia de Zebul. Só que aconteceu um imprevisto: bem antes do nascer do sol, talvez pressentindo algo de errado, Gaal juntou seus homens e foi para o portão da cidade. Zebul, vendo que seu plano corria um sério risco, foi junto para ver o que acontecia. Enquanto isso, vendo movimentação nos muros em hora tão imprópria, Abimeleque ordenou a seus homens que se aproximassem devagar da cidade, rastejando e fazendo o mínimo possível de barulho.
— Ih, Zebul, olha lá! Tem gente descendo das montanhas na nossa direção!
— Cê tá com sono, Gaal. São as sombras das montanhas, só isso.
— Mané sombras! Tá doido? Olha ali, ali, ali e ali. São quatro grupos. Acho que é um ataque! Será que o filho-da-puta do Abimeleque criou coragem de repente e resolveu nos atacar?
— Ué… Não foi você que falou que não sabia por que nos deixávamos governar por Abimeleque, que ele era covarde e coisa e tal? E então, cadê toda aquela conversa?
— H-hein??? Como você… SE EU PEGAR O DEDO-DURO DESGRAÇADO QUE ANDOU FALANDO COISAS POR AÍ, EU JURO QUE…
— Calma, Gaal, Calma! Você fala demais, quero ver se serve para agir também. Aqueles são os caras de quem você tirou sarro no dia da festa; vá até lá e lute com eles. Se é que você tem coragem…
Percebendo que responder à provocação de Zebul só daria mais tempo ao inimigo, Gaal tratou logo de chamar seus homens para atacarem o exército de Abimeleque. E no fim das contas o negócio de Gaal era só falar mesmo: levou um coça inesquecível, e fugiu correndo para a cidade. Abimeleque, então, resolveu voltar para Arumá, e Zebul expulsou Gaal e seus irmãos de Siquém.
Fim dos problemas? É óbvio que não. De fato, passada a refrega (refrega!), os ânimos se acalmaram em Siquém. Os homens até saíram para trabalhar nos campos normalmente no dia seguinte. E aí começaram os problemas: Abimeleque ficou sabendo que os habitantes da cidade estavam desprevenidos, então saiu de Arumá com três grupos de soldados. Enquanto Abimeleque e seu grupo atacavam de surpresa nos portões da cidade, os outros dois grupos atacaram quem estava no campo, matando todo mundo. Os chefes da Torre de Siquém souberam do que estava acontecendo, e foram depressa se esconder dentro do templo de Baal-Berite, a construção mais resistente da cidade. Arrombar a porta do templo e depois matar as cerca de mil pessoas que estavam lá dentro seria muito trabalhoso. Então Abimeleque subiu ao monte Salmon, cortou um galho de árvore e ordenou a todos seus homens que fizessem o mesmo. Depois desceram até a cidade, empilharam os galhos contra a parede do templo e atearam fogo. O templo incendiou-se, e todos os que ali se abrigavam morreram carbonizados.
Embrigado com o cheiro de sangue e carne queimada, Abimeleque decidiu que ainda queria mais carnificina. Devia ser cedo ainda, sei lá. Sei que foi com seus homens até Tebes, cercou a cidade e a conquistou. Todos os habitantes correram para se esconder na torre da cidade, e ficaram no terraço. Abimeleque resolveu fazer o mesmo que fizera com o templo em Siquém. No entanto, quando ainda empilhava a lenha perto da porta da torre, uma mulher jogou lá de cima uma pedra de moinho. A pedra caiu em cheio sobre a cabeça do ditador, abrindo-lhe o crânio. Ainda consciente, ele gritou para seu ajudante de ordens:
— Rápido, moleque! Tire a sua espada e me mate. Não quero que digam por aí que fui morto por uma mulher, seria desmoralização demais.
Oras, quem não ficaria feliz em matar um sanguinário desses? O rapaz cumpriu logo a ordem, e assim acabaram-se os dias de glória de Abimeleque em Israel.
O que nos lembra aquela história sem pé nem cabeça do Jotão, das árvores, que ele concluiu dizendo que sairia fogo de Abimeleque para queimar os homens de Siquém e vice-versa. Pois é… Não parece tão absurda agora, não é mesmo?

9 comments

  1. Gostei de você ontem Marcurélio como Mário de Andrade na nova série da globo.
    Apenas fiquei decepcionado porque pensei que idéia do MARCURELINHO – O amuleto dos blogueiros fosse original, mais tá na cara que foi inspirada no seu personagem, mas também não precisava tirar da página principal pra disfarçar. Quem quiser ver a semelhança é só ir no arquivo de dezembro fazer uma busca por texto na página procurando por O amuleto dos blogueiros !

  2. Perto desses caras que, digamos, aplainaram o caminho até Davi, o povo da Inquisição era todo cordeirinhos de leite. Depois dizem que os rituais de sacrifício astecas eram uma coisa bárbara. Será que é só porque aconteceram Junto com a Inquisição dois ou três mil anos depois?

  3. huahuahuahuahua mtoo criativo seu blog… fala sério…! =))
    ainda não li mta coisa mas eh material de primeira…! adorei…!
    e mto comédia tbm…! huahahua
    té +!

  4. Marco, explica uma coisa que me escapou: Moisés e Josué conquistaram a terra prometida e assentaram as diversas tribos, mas não mataram todas as tribos locais, certo? Agora está havendo matança entre as tribos, umas conquistando às outras. Essas são as tribos originalmente assentadas ou as assentadas versus as locais?

  5. Bem lembrado essa cena da Gal, mostrando os peitos ao cantar “Mostra a tua cara” (é assim que chama a musica do Cazuza?) e “Tropicália”. Lembro que o Chico Caruso vez uma série de charges hilárias no Estadão aonde a Gal com os peitos de fora era o topo de uma pirâmide humana, segurada pelo Itamar, que era segurado por X, Y, Z, até chegar no Vicentinho na base.

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