E por falar em politicamente correto…

Sempre que se fala nessa praga, imediatamente me lembro do seu Dino (não o seu Dino, ok? Senhor Dino. Bah, você entendeu). Seu Dino era contador (não sei se está vivo ainda) de uma empresa em que trabalhei. Devia ter uns setenta anos, italiano, carrancudo e avesso a todo tipo de modismo e às novas tecnologias. Lembram daquele velho do comercial de lançamento do Corsa (“Pra que tanta cor?!”, “Pra onde esse mundo vai?!”)? Pois então, era igualzinho, e nós tirávamos sarro dele com isso. E ele gostava, porque apesar de querer parecer ranzinza era um velho muito bem humorado e cheio de tiradas ótimas.
E isso com o politicamente correto? Pois uma segunda-feira Seu Dino chegou ao escritório fulo:
— Vocês viram a luta de ontem?
— Não, Seu Dino.
— Porra, aqueles locutores da Globo têm mais é que ir trabalhar na lavoura, porque pra narrar luta eles não servem não. Imaginem que o tempo todo ficavam falando: “Fulano, de calção branco e sapatilhas pretas, e beltrano, de calção vermelho e sapatilhas brancas”. O tempo todo! Esses caras acham que a gente é burro.
— Pô, seu Dino, pega leve. Eles fazem isso porque sempre tem o cara que liga a TV no meio da luta e não sabe quem são os lutadores. E nem todo mundo conhece os boxeadores como o senhor conhece…
— Não é disso que estou falando, ó cavalgadura! O negócio é que um lutador era branco e o outro era preto. Custava falar, “Fulano, branco, e Beltrano, preto?”. Que frescura é essa? PRA ONDE ESSE MUNDO VAI?!

10 comments

  1. O “políticamente correto” é foda mesmo. Este cuidado com as palavras por vezes chega a irritar. Uma vez numa conversa sobre câncer de pele no trabalho um colega e amigo me disse que eu podia ficar tranquilo por ser negro. Pronto, o cara foi chamado pela diretoria e teve seu emprego por um fio caso não se retratasse. Eu fui chamado e após ouvir o seu constrangido pedido de desculpas disse ao diretor que o que ele disse estava certo pois eu sou realmente negro. Neste caso não há nada de racismo e sim uma referência e muito melhor que falar que eu sou “moreno”.

  2. Certa vez, em uma festa, eu e uns amigos dispensávamos os serviços do garçom para pegarmos nós mesmos, um de cada vez, a nossa cerveja. Lá pelo meio da festa, eu já meio-pau-meio-bandeira de tão pouco sangue no álcool que corria nas minhas veias, fui buscar uma cinco latinhas e fui abgordado por uma distinta senhora que me pediu uma. Armei o maior barraco, pois fingi estar ofendido que, só pelo fato de eu ser negro, ela estar me confundindo com um garçom – embora eu estar vestido completamente diferente destes -. Foi hilário, a senhora me pedindo desculpas e eu ameaçando procesá-la por racismo. Todos os meus amigos entenderam que eu estava tirando sarro e caíram na gargalhada, até que um teve pena da senhora – tia do aniversariante, por sinal – e me tirou dali na marra. Foi um momento de glória…

  3. Onde lê-se abgordado, leia-se abordado;
    Onde lê-se procesá-la, leia-se processá-la. (Eu sou um burro que não usa o, especialmente criado para idiotas como eu, botão “como fica?” para revisar o texto)

  4. Aqui na Espanha chamam os portadores de deficiencia de “personas minusválidas”. Dá uma dó, parece que elas valem menos!…
    Mas a melhor politicagem-correta que eu vi foi chamar os anões de “verticalmente prejudicados”.
    Por falar nisso, alguem aí sabe porque as pessoas estao deixando de falar doenças venéreas para dizer DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis)? Ganha um doce quem acertar.

  5. Caro Marco Aurélio: Como os tempos mudaram. Hoje chamar um negro de negro é ofensa. Vivemos num mundo politicamente correto que nos sufoca. Gosto muito do seu blog; e já faz um tempo que eu o visito. Muito bom; e engraçado. Um abração,

  6. Negro é negro. Não tenho culpa se muitos deles se ofendem. Acho que o maior problema é o preconceito que eles sentem de si mesmos. A maioria se denomina moreno ou branco em documentos e pesquisas. Quando conheço gente pela internet nunca me dizem: “sou negro”. Preferem: “sou moreno” ou “sou moreno claro”. Se os negros não se valorizam, como a sociedade vai valorizar?
    Eles têm que se sentir iguais a nós brancos. Deixar de frescura com essas merdas de “moreno”. Existe uma grande diferença entre moreno e negro.
    Se eu posso chamar uma mulher de branquela, também devo poder chamar de negrona. Não vejo nenhum preconceito nessas palavras.

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