Poema sem título

O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, êle mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amôres intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas tôdas –
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Êste cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum dêles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para êles a vida vivida ou sonhada,
Para êles o sonho sonhado ou vivido,
Para êles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…
(Álvaro de Campos)

9 comments

  1. É, na minha humilde opinião, o melhor poema do Álvaro de Campos. Sempre fui meio meio facinado por ele. Interessante vê-lo aqui, dentro de outro contexto que não a minha vida…

  2. Vlw Marco Aurélio pela dica do Movable Type, mas acontece que eu não posso pagar pelo serviço, eu nem tenho cartão de crédito, eu só tenho um domínio próprio porque meu pai está pagando e não está usando… Acho que eu vou ter que fazer tudo na marra mesmo, vai ficar horrível, mas qualquer coisa está melhor que o Blogger hoje em dia, a não ser que haja algum sistema parecido com o Movable Type, mas acho que se houvesse vocÊ não estaria pagando por isso… De qualquer forma, vlw…

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