A segunda profecia de Balaão (Números 23:13-26)

Vamos refrescar a memória: no último capítulo — lá se vão dez dias — Balaque levou Balaão até um lugar de onde ele poderia ver uma parte dos israelitas, para que os amaldiçoasse. Mas tudo deu errado e Balaão acabou fazendo uma profecia muito favorável aos hebreus. Certo de que isso acontecera porque Balaão ficara intimidado diante da quantidade de israelitas, dessa vez Balaque o levou até o alto do monte Pisga, de onde poderia ver apenas uma pequena parte do acampamento, e pediu para que os amaldiçoasse.
— E vê se faz direito dessa vez, Balaão.
— Ô, seu Balaque, o que eu fiz não foi de má vontade não. Por mim eu mandava esses cabras da peste direto pro inferno. Mas é aquele negócio que eu te falei, eu só posso dizer o que Javé manda. Olha, eu vou ali dar uma ligada pra ele pra ver se dá pra gente resolver isso, tá bom?
— Que remédio?
Balaão ligou para Javé e descreveu a situação.
— Balaque ainda quer que você amaldiçoe meu povo?
— Pois é, Javé.
— Mas quanta teimosia! Balaão, anota aí as estrofes que você vai cantar dessa vez.
Balaão anotou verso por verso e voltou para onde Balaque estava. Olhou bem para o acampamento dos hebreus, afinou a viola, limpou o gogó e entoou as décimas:

Balaque, ouça com atenção
O que agora vou dizer
Ouça com raiva ou prazer
Mas guarde no seu coração:
Não posso jogar maldição
Sobre quem deus abençoou
Por isso agora aqui estou
Para outra vez lhe afirmar
Que Israel vai prosperar
Assim Javé determinou.

Javé não é um ser humano
Que promete e logo esquece:
O que ele estabelece
Acontece sem engano
Ele é deus soberano
Tirou seu povo do Egito
De um jeito tão bonito
Que ao mundo espantou
Foi o que ele me falou,
Eu apenas retransmito.

Marcha o povo de Israel
É mais forte que o leão
E nenhuma maldição
Pode contra esse tropel:
Entre areia, vento e céu
No meio do deserto exangue
Vêm Moisés e sua gangue
Os tais filhos de Jacó
Dos inimigos não têm dó
Devorando-lhes o sangue.

— Que porra foi essa agora, Balaão?
— Gostou não, foi?
— É CLARO QUE NÃO! Você não querer amaldiçoar os caras, tudo bem. Tá certo que eu te paguei para isso, mas vá lá. Mas também não precisa puxar o saco dos israelitas na cara dura!
— É, Balaque. Posso fazer nada não. Os versos são de Javé, eu só canto.
— Ai, meu saco… Puta que pariu! Balaão, será que a gente pode tentar mais uma vez?
— Custa nada, né?
— Então vamos.

5 comments

  1. O foda mesmo é imaginar um profeta sergipano [Branxu da Silva?] “cantando lôas” contra [ou a favor de] alguma coisa…
    Muito bom, em repente…já fica engraçado, só de olhar pro post, mesmo sem lê-lo.
    Muito bom, Marco!

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