Bichos

Ontem eu estava pensando em bichos de estimação. Antigamente as pessoas tinham cachorros, gatos, papagaios, tartarugas, esses bichos normais todos. Hoje em dia a moda é ter animais de estimação das espécies mais esdrúxulas de nomes mais esquisitos. E mesmo pessoas que têm bichos normais se referem a eles pelos nomes esquisitos. Ninguém mais diz só “Eu tenho um cachorro”. Não, seria muito pobre! O negócio é dizer “Eu tenho um Golden Retriever”. Foda. Pensando nisso, lembrei-me da minha visita à casa de deus.
Como vocês devem se lembrar, eu e o Risadinha (sempre ele) estivemos no Rio de Janeiro em abril. Conversamos pra caralho na torre da menina, depois fomos para a casa da Paula Foschia, onde comi papel higiênico de pêssego, e terminamos nossa noite na casa de deus, no banheiro da qual vomitei com muita honra. A casa de deus, não sei se vocês sabem, fica ali em Ipanema, naquela parte entre o Recreio dos Bandeirantes e aquela praça grande do Riachuelo. Pois bem, estávamos lá, e o Criador de Todas as Coisas resolveu nos mostrar seu bichinho de estimação.
— Ô deus. Que bicho esquisito é esse?
— Não fala assim que ele é muito sensível. Esse aí é um Demônio da Guatemala.
— UM O QUÊ???
— Demônio da Guatemala.
— Nunca ouvi falar.
— Claro que não. Só existe esse aí.
— Espécie em extinção?
— Hum… Não exatamente. Vocês sabem de toda aquela história de Lúcifer, que teve inveja de mim e acabou expulso do Céu, né?
— Claro.
— Pois então. O cara deu mancada, mas era meu amigo. Imagina, Risadinha, que o Marco trabalha com você e dá uma puta mancada. Cê tem que demitir o cara, não tem outro jeito. Mas vai perder a amizade dele? Claro que não, né?
— Hum… Não sei. Não faço muita questão…
— Ai, meu saco. Bom, suponhamos que estejamos falando de dois amigos NORMAIS quaisquer. Foi o que aconteceu. No dia da despedida dele estava um puta clima chato. Eu quase não tive coragem de me despedir. Então ofereci esse presente a ele: Não era deus que ele queria ser? Pois seria por um momento. Dei a ele a oportunidade de criar um ser vivo, qualquer ser vivo que ele quisesse. Mas apenas um, para que a obra de Lúcifer não se espalhasse pelo mundo. E então ele criou o Demônio da Guatemala.
— Hum… Por que esse nome?
— Porque foi pra Guatemala que Lúcifer se mudou quando saiu daqui. Mas não tinha nada por lá ainda, então depois ele foi praquela região entre o Tigre e o Eufrates pra torrar o saco de Adão e Eva, e o resto vocês já sabem.
— Peraí, deus. Cê tá me dizendo que esse bicho aí existe quase desde a criação do mundo?
— É isso aí.
— E VOCÊ QUER QUE EU ENGULA ESSA HISTÓRIA???
— Porra, Marcaurélio, numfode. Tô te falando que é verdade.
— Deixa de onda…
— Tô te falando!
— Sei, sei…
— PORRA! Que o Risadinha arrume mulher se for mentira!
— Ô, não precisa pegar tão pesado. Eu acredito, eu acredito…

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