O Dia do Perdão (Levítico 16)

Então, farisaiada. Tão pensando que a vida é só festa? Que nada! O papo lá de deus com Moisés e Arão continua. Na retomada da conversa, deus dá um toque para o sumo-sacerdote:
— Arão, tenho um negócio muito importante pra te falar. Seguinte: Cê não pode entrar a hora que quiser no Santíssimo Lugar, onde está a Arca. Só depois de ter matado um bezerro e um carneiro para oferecer como sacrifício, e de ter tomado um banho e vestido as roupas sacerdotais. Guarde bem essa lei. Isso é para evitar que, por ignorância, você acabe morrendo como seus filhos.
— Não seria mais fácil você deixar de ser truculento e ignorante, matando todo mundo que faz alguma coisa fora das suas regras?
— Ah, Arão, assim não dá! Ia virar uma esculhambação: Num dia cê esquece o bezerro, entra lá e eu faço vista grossa. No outro cê chega atrasado, não tem tempo de tomar banho, entra e eu deixo quieto. Se eu for deixando, dia desses cê me aparece pelado no Santíssimo Lugar, balançando seu Pequeníssimo Lugar na minha frente. Não posso deixar isto aqui virar zona. Porque eu sou é deus, tá sabendo? DEUS!!!
— Tá bom, vai. Toca o barco.
— Hum, muito bem. Vamos falar sobre o Dia do Perdão, também chamado Yom Kippur, também chamado O Dia Em Que O Bom Retiro E Higienópolis Param. Quando chegar o Dia do Perdão, o povo entregará a Arão dois bodes para a oferta para tirar pecados e um carneiro para holocausto. Antes de fazer qualquer coisa, Arão pegará o bezerro que será oferecido em sacrifício pelos seus próprios pecados e pelos de sua família. Depois trará os dois bodes até a entrada do Tabernáculo. Então ele vai tirar a sorte usando duas pedras, uma escrita “Javé” e outra escrita “Azazel”. O bode que ficar com a minha pedra será oferecido em sacrifício aqui. O outro será oferecido vivo e depois enviado ao deserto, para Azazel.
— A-Azazel? Q-quem é e-esse?
— Er… Um cara aí.
— Um cara aí?
— É. Um… Um… Um deus
— UM DEUS???
— É. Fala baixo, porra.
— M-mas cê n-não fa-falou que o ú-único deus e-era vo-você?
— Falei, falei. Esse Azazel aí não é bem um deus… É um… Um demônio do deserto, pronto. Falei pra ele que tava com esse projeto de escolher um povo e inventar uma religião, e ele disse que comprava uma cota de publicidade. Me pagou uma puta grana, então eu encaixei ele nesse negócio do Yom Kippur, que é um negócio de destaque, e prometi o tal bode.
— Hum… A-anoto i-isso?
— NÃO!!! Deixa sem explicação nenhuma, melhor assim. E esquece esse assunto, vamos em frente. Feito o sorteio dos bodes, Arão trará o bezerro dele e o matará ali no altar. Depois disso, pegará dois punhados de incenso consagrado e levará para o Lugar Santíssimo, atrás da cortina. Aí ele vai botar o incenso no fogo do propiciatório, para que o lugar fique perfumadinho e Arão não morra, como os filhos dele.
— VAMOS PARAR DE FALAR DESSE ASSUNTO, PORRA???
— Tá, tá, desculpa… Depois de acender o incenso, ele aspergirá o sangue do bezerro sobre o propiciatório. Então voltará ao altar, degolará o bode que teve a sorte de ser dedicado a mim, e fará com o sangue dele o mesmo que fez com o do bezerro, aspergindo o propiciatório. Durante todo esse tempo, ninguém deverá entrar no Tabernáculo. Esse negócio aí de aspergir o propiciatório com sangue é para purificá-lo, e Arão fará o mesmo com a tenda e o altar. Terminada a purificação do Santíssimo Lugar, do Tabernáculo e do Altar, Arão trará o bode vivo. Colocará as mãos sobre a cabeça do bicho e confessará todos os pecados do povo de Israel. Desse jeito, os pecados todos cairão sobre o bode. Precisamos de um nome para esse bode, um nome de impacto… Bode Expiatório, tá aí. Depois de passar a pecadaiada toda pro bode expiatório, Arão designará um homem para levar o bicho para soltar no deserto, que é pra Azazel não me encher o saco. Cês tão anotando tudo aí?
— E-estamos, Ja-Javé. M-mas é m-meio ca-cansativo i-isso aí.
— Peraí, tô terminando. Depois de tudo isso, Arão e o homem que tiver levado o bode expiatório ao deserto deverão tomar um banho.
— JUNTOS???
— Só se você quiser, santa. É cada uma… Bom, o bode e o bezerro que foram sacrificados serão queimados fora do acampamento. O homem que ficar encarregado disso também tomará um banho. Se você quiser, Arão, pode ser junto com você e o outro cara. Respeito isso aí.
— Tá, Javé, não abusa.
— Hehe. Então é isso aí o Dia do Perdão.
— S-só f-faltou u-uma c-coisa, Ja-Javé. Di-dizer que d-dia se-será ce-celebrado o Yom K-Kippur.
— Bem lembrado, Moisés. Vai ser no décimo dia do sétimo mês desse calendário maluco de vocês. Esse dia será como um sábado, vocês não trabalharão. É um dia totalmente dedicado ao perdão dos pecados. Anotado?
— Anotado.
— Toquemos o bonde.

11 comments

  1. Taí, adorei a sua versão do Dia da Expiação. Como sou protestante e soube pela minha namorada que vc é ateu (ou quase), vou lhe dar mais umas dicas. Que tal trabalhar com o nome das divindades cananéias que os israelitas assumiram para o seu Deus? Tipo Shadai, Baal, Elohim (que, diga-se de passagem, é plural: deuses). Na verdade, eles misturaram tudo que é Deus cananeu e babilônico para dar no Deus de Moisés. Mas, JC é outra coisa…

  2. Leviticos é demais!!! Esse bode assume os pecados…o coitado do Pan. Vê só depois quem carrega os pecados é o JC. Será até quando não vamos assumir nossos erros e não termos que matar ou fazer terapia para resolver.
    Eu sempre faço comentários para a priscila, ela tem mania de deus, nunca me responde mas ai vai: Leia a bíblia satânica. Cuidado,pode mudar de lado ai dá na mesma. Outro livro recomendado para sacar mais sobre os deuses antigos e como foram promovidos a demônios e nossa idéia atual de deus: Deus – Uma breve história – John Bowker. Editora Globo – fique de olho!

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