Ainda sobre o Sapateado Escocês

Esse povo é foda: Basta ver um negócio diferente que já quer saber o que é, como faz pra aprender, se tem um dinheirinho nisso aí… Puta que pariu. Então resolvi explicar de uma vez a história do Sapateado Escocês.
Eu já disse aqui que meu aniversário de 4 anos foi o melhor da minha vida. Mas não disse o porquê: Naquela noite de 15 de maio de 1979, no meio de toda aquela bagunça, eu fui seqüestrado. Isso há quase 24 anos, a polícia nem tinha experiência de como lidar com seqüestro. Os seqüestradores não fizeram nenhum contato com a família, nenhum pedido de resgate, nada. Não me lembro do que aconteceu então. Fiz anos de terapia para recuperar a memória daquela época, mas ainda há algumas lacunas. Só sei que seis meses depois eu estava num orfanato e fui adotado por um casal escocês recém-chegado ao Brasil.
Peter e Brenda McTurk. Anjos que salvaram minha vida. Fui criado dentro da mais pura tradição escocesa. Aos 8 anos de idade, comecei a tomar scotch com leite de ovelha que, segundo a crença popular do norte da Escócia, é o melhor energético que existe. Aos 10 anos, comecei a participar dos jogos tradicionais escoceses (arremesso de troncos, cabo de guerra com touros bravos, luta Galesa) no Brazilian Scotish Club, na Vila Mariana. E aos 13 fui iniciado na suprema arte do Sapateado Escocês. Só aqueles considerados verdadeiramente escoceses (não necessariamente nascidos na Escócia) são dignos de praticar essa envolvente dança.
Pois então. Minha vida ia muito bem, até a tragédia. Outubro de 1996. Estava na casa de uns amigos no Tatuapé quando vi a notícia na TV: Um avião da TAM tinha caído no Campo Belo, bairro onde eu morava com os McTurk. Não me lembro direito de como cheguei lá, e também não interessa: Meus pais adotivos, que haviam me criado com tanto carinho e me iniciado em toda a bela tradição escocesa, estavam mortos.
E foi aí que outra reviravolta aconteceu na minha história: Apareci no noticiário da TV Bandeirantes, chorando desconsolado entre os escombros da minha casa. Meus pais biológicos viram a cena e logo me identificaram. Depois disso, foi só uma questão de contatar a emissora para me localizarem. Aos 21 anos eu acaba de perder meus pais, mas ganhava uma nova família. Foi muito bonito nosso reencontro, e eu finalmente pude conhecer meu irmão mais novo, que tinha nascido depois do seqüestro, e rever minha irmã, da qual eu nem me lembrava mais. Foi bom, mas muito confuso, e foi nessa época que eu me tornei ateu.
Mesmo tendo voltado ao convívio de minha família, não abandonei meus costumes escoceses, pelo contrário: Fiz questão de me dedicar mais ainda aos jogos e ao sapateado, pois isso fazia com que a memória dos McTurk fosse sempre forte em minha mente. No Scotish Club, cheguei até a organizar a primeira versão brasileira do tradicionalíssimo Campeonato de Arremesso de Anões. Só não foi pra frente porque a exigência primeira para essa competição é que os anões sejam todos escoceses. Só depois de iniciado o torneio descobrimos que havia no Brasil apenas UM anão escocês, que foi arremessado à exaustão naquele dia. Importar anões da Escócia ficava muito caro, então abandonei meu projeto. Mas a coragem de introduzir o campeonato no Brasil fez com que a comunidade escocesa me olhasse com muito orgulho.
E foi isso.
— Peraê! E como foi que a Juliana Kataoka entrou nessa história?
Ah, é! Ia me esquecendo. Dezembro de 2001. Eu estava aprendendo a dirigir, então resolvi comprar um carro. Foi uma grande felicidade para mim. Mas, irresponsável que era, saí dirigindo por aí, mesmo sem habilitação. E quanto mais dirigia, mais segurança adquiria. Até que naquele dia de Ano Novo, guiando em alta velocidade numa avenida aqui perto, perdi o controle do carro, que rompeu o guard-rail e foi cair dentro do rio Tiquatira. Fui internado em estado grave no hospital de S. Miguel Paulista, precisando urgentemente de uma transfusão de sangue para não morrer. Nesse dia, Juliana Kataoka estava visitando um parente no hospital e ficou sabendo do meu caso. Numa atitude heróica que eu jamais esquecerei, ofereceu-se para doar sangue. Coincidência ou não, temos o mesmo tipo sangüíneo. A transfusão foi feita, e cá estou eu hoje, graças à Juliana. Quando saí do hospital, a primeira coisa que fiz foi levá-la ao Scotish Club. Segundo as tradições de nossos ancestrais, todo aquele que salva a vida de um escocês torna-se também escocês. Juliana passou por todos os rituais de pintura da face, dança ao som de gaitas de fole, e a prova suprema do Sapateado Escocês. Hoje ela tem o grau de mestre no Sapateado, tendo o privilégio de ser a mais jovem tocadora de castanholas Gaulesas no mundo hoje.
É isso aí. Mais alguma pergunta?

42 comments

  1. meu.
    depois daquele dia eu nunca mais fui a mesma.
    nada como salvar a vida de um escocês.
    minha entrada nessa ordem mudou a minha vida.
    Agora sou mais feliz e exímia dançarina de sapateado escocês.
    Qualquer dia eu chamo vcs pra me ver tocando castanholas de gales.

  2. Nenhuma pergunta. Inclusive tenho um vizinho, o Ned McLittle, que é anão escocês da barba ruiva (Redus Dwarfenus), da estirpe mais rara e nobre das Highlands. Se quiser contatá-lo pra teu campeonato, acho que é batata, já que sempre reclama da falta de festividades escocesas em Minas Gerais.

  3. I could marry you, if you try.
    Ah, santíssima tarde de horas tão corridas! Às 15h13min da tarde, tudo parece acabar em segundos!
    O que permanece, também acaba, e a permanência tem isso de estranho, de acabar e voltar, voltar, acabar, voltar… E eu vivo nos ínterins. Eu vivo nos hiatos.
    As minhas lacunas são o verdadeiro nascer-crescer-reproduzir-morrer.
    Nos demais instantes, eu como, durmo, planto uma árvore ou me aborreço!
    I could marry you, can you try?
    Eu desliguei o pecado, porque já não me serve mais. Já não tem mais o gostinho de ser perigoso e conturbado. Eu troquei o meu pecado. Eu fui lá, para o outro lado… O lado que me faz conhecer. O lado que me fez trair… O lado em que também hei de sofrer…
    Marry me! It’s all I ask.
    E eu não tenho vontade de parar… Tanto de fumar ou de escrever… Eu não percebo o que me leva a acreditar… E tampouco o que me dói esquecer! Não, não pense que isso é para você… Eu só quero me casar com você… Eu só quero poder acordar… E por mais cliché que pareça, eu só quero poder aprender a preparar o seu café. Estou esperando você preparar o meu toddy. Estou esperando o nosso filho nascer…
    I got one thousand people telling me to move, but I’m gonna do what I please. Let’s get married.
    Eu vou trair o nosso brinquedo… Espalhar o nosso mais doce segredo… Eu vou enfiar a cara na água corrente da chuva. Eu vou acender um cigarro e queimar o seu desejo, eu vou contribuir para que você viva em eterno medo. À meia-noite, serei devassa, e com toda a devassidão do mundo, eu retirarei meu véu e minha grinalda do armário, para que você veja como eu ainda sou bela… Para que você entenda que eu nunca deixei de ser bela… E eu vou sufocar com a minha arte, até você pedir arrego. Eu vou picotar os jornais para que a sua decência o obrigue a encontrar um emprego!
    Por favor, deixe um dinheirinho, o nosso filho quer comprar o primeiro maço de cigarros e fumar escondido com os coleguinhas da bola de gude. O nosso filho há de ser retrô. E vai falar “Rei Leão é o caralho, mamãe, eu quero ver anime hentai!”.
    O nosso filho será criado para ser resmungão e chato. Como nós. Como eu sempre fui e você ainda não teve tempo de reclamar… Porque você sempre andou muito ocupado com leituras que eu sempre condenei.
    Excuse me… Shall we marry, dear?
    Essa é a minha declaração de amor. Vamos nos casar. Eu prometo me entupir de comida, mas sempre guardar o seu jantar… Na geladeira. Eu não vou lavar a louça, mas você vai se divertir comigo. Eu prometo que não irei à praia, mas cuidarei com carinho do nosso filho… E vamos, os três, assistir ao Pixote… Vamos ter nojo do que teve a minha mãe.
    E você vai chamar a minha mãe de fada e eu vou sorrir…
    Vamos comprar aqueles livros de promoção da banca e ler juntos, corrigir os erros de ortografia juntos… E de repente, a gente pára de ler e se beija. Eu reclamarei que você não beija como antes… E percebo que acabo de estragar tudo…
    Haverá pilhas e pilhas de provas de literatura esquecidas no criado-mudo. E a gente vai ouvir vitrola. O nosso filho vai perguntar: “Pai, o que é isso?” e você vai dizer: “É vitrola, meu filho” e ele nunca mais vai se sentir à vontade nas festinhas dos amiguinhos da escola. Eles só ouvem cd. O nosso filho irá à escola?
    I hope you never give up.
    Essa é a minha declaração de amor. A mais cruel declaração de amor. A minha tatuagem há de estar envelhecida… Mas eu ainda terei um piercing na língua… Que é para você nunca se esquecer do gosto… Eu ainda trarei pão francês da padaria… E você não vai querer mais a manteiga… E eu prometo nunca tirar o miolo… Eu vou sufocá-lo com o lençol das manhãs… Até que você se levante e vista o paletó. Eu acharei lindo você de paletó… Mas nunca contarei isso. Você vai tomar vinho de canudo, pelo simples e puro prazer de inventar moda. Eu colocarei a mão na testa e pedirei paciência. Mas também, os meus bolos de cenoura sempre sairão solados!
    Can you also realize a great future together?
    Esse é o meu amor. Eu direi “eu te amo” cinco vezes aos domingos… Porque domingo é um saco mesmo, e só amando para aturar… Mas às sextas, meu amor, eu serei Vênus profanada… E você vai ter que me segurar… É claro que sim, e respondendo a sua óbvia pergunta, eu serei vulgar.
    Make me cum, sweety.
    Não, não iremos a motéis… Mas eu prometo que não me negarei a entregar-lhe o corpo com veemência atrás do Museu de Belas Artes… Quando for madrugada e, mesmo assim, qualquer um puder nos olhar. Não me negarei a exigir impunemente que você me faça de jantar.
    E quando o filhote acordar… Explicaremos que é natural. Ele terá aquele nosso ar blasé.
    Ele será o orgulho que construímos desde o dia em que o mundo nasceu…
    VAMOS NOS CASAR.

  4. “Dezembro de 2001. Eu estava aprendendo a dirigir, então resolvi comprar um carro.” [sic.] CARALHO! Mas como, se você entrou na auto-escola na semana passada? Você disse que não sabia dirigir!
    Mente que nem sente….

  5. Que merda é essa ?!
    Afinal as castanholas eram Galesas ou Gaulesas ? E o que tem a Gália ou Gales a ver com a Escócia ? E o arremesso de anões não é uma tradição francesa ? E sobre seu aniversário de 4 anos, niguém me convence de que aquela foto do pianinho é uma montagem (mal feita) com o seu priminho Curelinho McChicken.
    Inté,

  6. e faz diferença, Diego Sapia Maia?????
    ô Corélio, eu queria saber se vc faz algum esforço ou se essas merdas fluem, facilmente, desse cérebro cheio de coc… quero dizer, de imaginação…

  7. Foda-se, realmente no início eu até estáva a acreditar mas depois lembrei-me de uma partida que pregástes há uns tempos.
    Hahahahahaha, manda essa história para os evangélicos, para eles entenderem a tua “revolta”. hehehehehe 😉

  8. puxa… que história comovente [escorre uma lágrima – *chuife*]
    eu ando pelos hospitais tentando salvar vidas de pessoas para não me sentir tão inútil, mas nunca me aconteceu uma história de amor como essas.

  9. AHÁ! É MENTIRA!
    Os verdadeiros campeonatos de arremessos de anões são feitos ao som de castanholas DE FOLE, e não gaulesas! Te peguei! Se não fosse isso, eu acreditaria na tua história!

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