O sábado, o ano sabático e as festas

— Porra, Moisés. Nunca vi nego demorar tanto pra dar uma mijada.
— É q-que m-meu pi-pinto é ga-gago t-também.
— Como? Não, não, poupe-me dos detalhes. Vamos continuar com nosso negócio aqui. Com coisinhas mais amenas. O ano sabático, por exemplo. Vocês vão semear a terra e colher seu fruto durante seis anos, mas no sétimo ano deixarão a terra descansar. Mesmo se brotar alguma coisa na terra no ano sabático, vocês não colherão nada: Será para os pobres, e o que sobrar ficará para os animais selvagens.
— M-mas p-pra q-quê de-deixar a t-terra de-descansar?
— Ah, Moisés, confia em mim. Vi isso no Globo Rural, é melhor pra fertilidade da terra e coisa e tal. Fora isso aí da terra, tem aquele negócio do sábado que eu já falei nos Dez Mandamentos. Vocês vão descansar no sábado, bem como seus escravos, seus animais e os estrangeiros que estiverem trabalhando para vocês.
— P-por que vo-você f-faz t-tanta questão di-disso, Ja-Javé?
— Ah, cê não sabe a aporrinhação que pode dar isso aí se um fiscal do trabalho passar por aqui. Vou ter que molhar a mão do cara, e mesmo assim nada garante que eu não vá receber uma multa. É foda isso. Tô tentando implantar uma política neoliberal por aqui, mas tá difícil, com esse meu filho barbudo metido a comunista. É foda. Mas vamos adiante, vou falar agora das três festas anuais.
— F-festas? C-com b-bolo, b-brigadeiro, ca-carne louca, c-cajuzinho?
— Claro que não, Moisés! São festas rituais, que é pra vocês nunca esquecerem que eu tirei seus rabos gordos do Egito. Todo ano, pra comemorarem a saída do Egito, vocês vão celebrar a Festa dos Pães Ázimos, como eu já tinha ordenado. Durante os sete dias da festa, vocês não vão comer pão com fermento. Quando vocês forem colher o que plantaram, vão celebrar a Festa da Colheita. No outono, com a colheita das uvas, virá a comemoração da Festa dos Tabernáculos. Depois eu explico isso aí tudo em detalhes. Por enquanto só guarde algumas regras: Quando vierem me trazer sacrifícios, não tragam pão com fermento.
— P-por quê?
— Oras, por quê! Tá vendo essa minha túnica? Quando cês saíram do Egito, ela estava com um caimento perfeito. Agora está apertada na barriga e na bunda. Eu tô uma baleia, Moisés, preciso me cuidar! Na minha idade a gente não pode dar moleza. Então eu quero pão sem fermento, e a gordura dos animais que vocês sacrificarem deverá ser queimada. Ah, e todos os anos vocês vão trazer ao lugar de adoração os primeiros cereais que colherem, que é pra eu ter um café da manhã rico em fibras.
— S-só uma co-coisinha: O q-que os a-animais t-têm com i-isso? Por que sa-sacrificar os bi-bichinhos, co-coitados?
— Moisés, Moisés… Lá em Canaã, pra onde cês tão indo, tem uns caras que sacrificam os próprios filhos aos deuses deles. Vocês têm é que me agradecer por não exigir nada assim. Eu podia largar mão disso aí e não exigir sacrifício nenhum, mas aí ia pegar mal com os outros deuses. Eles iam tirar sarro de mim e os filhos deles iam bater no meu moleque na escola.
— O-outros de-deuses? U-ué, mas vo-você não d-disse q-que é u-um s-só?
— Er… Hum… É, disse. É… Veja bem… Ah, Moisés, pára de fazer pergunta difícil. Pega mais uma cerveja pra mim lá na geladeira, que é pra gente acabar logo com esse papo chato.

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