A praga dos gafanhotos

Dias depois adivinhem o que Moisés e Arão fizeram? Isso mesmo! Foram ao palácio do Faraó.
— Ô, Faraó.
— Fala, Arão…
— Se liga, Javé tá dizendo que é pra você deixar o povo ir. Se você não deixar, ele vai mandar uma praga de gafanhotos pra cá, que vai devorar o que restou depois do granizo. Os bichos vão encher o palácio, as casas dos oficiais, os templos, as casas do povo. Cê que sabe. Javé tá puto.
— Ora, por que vocês não… Ué, cadê eles? Já foram? Melhor assim.
— Faraó…
— Diga, oficial.
— Deixa esses caras irem servir o deus deles no deserto. Vai ser melhor pra todo mundo. Essas pragas aí tão fodendo com o Egito, nossos animais morreram, os peixes do rio morreram, perdemos quase toda a safra desse ano. Se ainda vierem gafanhotos, aí que isso aqui vira a Argentina mesmo.
— É, acho que cê tem razão. Liga no celular do Arão, fala pra eles voltarem aqui.
Meia hora depois os dois irmãos já estavam de novo na presença do Faraó.
— Muito bem, vamos acabar com a putaria. Vou deixar vocês irem ao deserto para a tal festa do Javé. Quem vai?
— B-bom… Os jo-jo-jovens. E os v-velhos ta-também. Ah, e a-as c-c-crianças. E as mu-mulheres. Q-quem mais? A-a-acho que é s-só. A-Ah, os r-re-rebanhos t-também.
— Peraê, peraê! Que porra é essa? Vão levar as crianças, os velhos e até os bichos para uma rave no deserto? Cês tão querendo me enrolar, felasdaputa! De jeito nenhum! Podem ir, mas só os homens adultos.
— M-Mas.
— Mas é o cacete, já não disse? GUARDAS!
Moisés e Arão foram expulsos do palácio, o Faraó cada vez com mais ódio deles.
— A-Arão, me e-e-empresta o ce-celular, pra eu fa-falar com J-J-Ja-Javé.
— Putz, Moisés. Tá sem crédito.
— Ô, m-merda. V-vou a-ali l-li-ligar do o-o-orelhão. Pe-peraí.
Moisés foi e deus passou instruções a ele, que voltou para perto do irmão e estendeu a mão sobre a terra, um gesto dramático. Começou um vento muito forte vindo do oriente. Ventou durante todo o dia e noite adentro. E na manhã seguinte o vento trouxe os gafanhotos.
O negócio foi feio, viu? Os gafanhotos cobriram toda a terra do Egito, escurecendo tudo. Devoraram o que restara das plantações, acabaram com as árvores e com o junco na beira do Nilo. Invadiram as casas, foi um inferno. Faraó, claro, mandou chamar Moisés e Arão de novo.
— Puta que pariu, cês me desculpem. Não levei a sério essa história de gafanhotos. Mas agora tô vendo do que o deus de vocês é capaz, ele é doido mesmo. Peçam pra ele sumir com esses bichos, que amanhã mesmo vocês pegam a estrada.
— T-todos n-n-nós?
— Sim! Homens, mulheres, velhos, crianças, animais, tudo! Agora vão, não dá pra conviver com esses gafanhotos!
— P-po-posso usar o te-telefone?
— Pra falar com Javé?
— É.
— Porra, essa ligação vai custar uma fortuna… Ah, foda-se. Liga aí.
Moisés comunicou a deus a decisão do Faraó e deus mandou um vento muito forte do ocidente, que arrastou os gafanhotos para o Mar Vermelho.

— Legal! E aí o Faraó deixou eles irem, né?

Que nada! Ainda faltam duas pragas…

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