A praga das moscas

— A-Aê, J-J-Ja-Javé. Q-que i-i-idéiazinha de je-jerico a-a-aquela dos pi-piolhos, he-hein?
— É, Moisés, tenho que concordar com você. Praguinha mixuruca, que se resolve com uma máquina zero. Foi mal aê. Mas a próxima vai ser melhor. Amanhã de manhã cê vai com o Arão lá pra beira do Nilo esperar o Faraó. Quando ele vier tomar banho, vocês vão repetir a lenga-lenga toda de deixar o povo ir e coisa e tal. E digam que se ele não der permissão para a saída do povo, eu enviarei enxames de moscas por todo o Egito.
— Hu-hum… É me-melhor que os pi-piolhos, m-mas não mu-muito…
— Peraí, peraí, prestenção… O negócio é que dessa vez eu vou fazer diferente: A terra de Gósen, onde vivem os hebreus, ficará livre das moscas. O Faraó vai ficar doido vendo o Egito todo forrado de moscas e só a terra dos hebreus livre da praga.
— M-mas e se e-ele ch-chamar o Mi-Mister M?
— Bah, ele demitiu o Mister M depois do truque que ele não conseguiu repetir. Ao menos para isso serviu a praga dos piolhos.
E no dia seguinte, quando Faraó se dirigia ao rio para fazer suas abluções (abluções, me segura!), teve uma sensação de dejá-vu quando deu de cara com Moisés.
— Ai puta que pariu, que foi agora?
— J-J-Javé o-o-ordena que v-v-vo-você d-d-d-deixe o p-p-p-p-ppppppppp-po-popo…
— … O povo ir pra tal festa no deserto, tô sabendo. Minha resposta é não. O que cê vai fazer? Mandar uma praga de joaninhas contra a gente?
— U-u-um p-p-pouco p-pior.
— Ah, pior que joaninhas? O quê, hein?
— M-m-m-mo-mo-mo…
— Mochilas?
— N-não! M-m-mo-mo-mo…
— Moçoilas? Êba!
— NA-NA-NÃO, PA-PORRA! M-M-MO-MO-MO…
— Mortadelas? Mobiletes? Morsas? Mola… Êpa! Que barulho é esse? Um zumbido esquisito… Tá aumentando… Ih, caralho, uma mancha preta no horizonte, que é aquilo? Tá chegando mais perto. MOSCAS! PORRA! MOSCAS!
— Porra não, Faraó. Só moscas. Mas não é má idéia.
— Calaboca, Arão! ARGH! Tira esses bichos daqui! Esse zumbido é insuportável, esses bichos são imundos!
— Bom, pra nós tanto faz. A terra de Gósen está livre das moscas.
— Porra, é festa que cês querem? Podem fazer a festa aqui no Egito mesmo, pra que ir até o deserto? Cês podem fazer até um carnaval se quiserem, mas tirem essas moscas daqui!
— Não, Faraó. O negócio é no deserto, a três dias de caminhada, já dissemos.
— Tá, tá, podem ir. Beleza? Agora falem lá com o tal Javé pra ele mandar essas moscas de volta para o lugar de onde vieram.
— Muito bem, sairemos daqui e falaremos com Javé para que dê um fim as moscas. Mas antes o senhor tem que prometer que não vai nos enganar como das outras vezes.
— Prometo solenemente.
— Ok. Então vamos ali falar com Javé.
Quinze minutos depois as moscas foram embora e os dois irmãos foram até o palácio para acertar com o Faraó os detalhes para a viagem.
— Ô, F-F-Faraó. C-c-co-como vai s-ser o ne-negócio? V-v-vai ter ô-ônibus f-f-f-fretado?
— Ônibus fretado??? Pra quê?
— Pa-para no-nossa vi-viagem ao de-de-deserto.
— Que viagem ao deserto? Além de gago agora ficou doido? Ah, Moisés, some daqui, vai. Eu até me divirto com você às vezes, mas hoje eu não tô bom, beleza? Passa amanhã.
Ô Faraozinho desgraçado… O que será que deus vai ter que fazer para convencê-lo a deixar o povo ir embora?

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