O fim da história de José

Com a morte de Jacó, os irmãos de José ficaram com medo do que poderia acontecer com eles. E com razão: A vingança é um prato que se come frio, e o que eles aprontaram com José não era fácil de perdoar, por mais que o tempo passasse. Então se reuniram pra inventar uma historinha minimamente convincente. Acertados os detalhes mandaram um e-mail para José:

Naquela mesma noite, enquanto se deliciava no site da G Magazine, José recebeu a notificação de nova mensagem e foi abrir seu e-mail esperando que fosse um dos milhares de pedidos de emprego que recebia diariamente. Ficou surpreso e comovido ao constatar que era uma mensagem dos irmãos falando do falecido pai. Se emocionou muito, chorou feito uma puta arrependida e respondeu assim:

Com isso os irmãos sossegaram e puderam viver em paz.

* * *

José, seus irmãos e toda a família continuaram morando no Egito, mesmo depois de passada a fome. Afinal, seria muito trabalhoso pegar toda aquela gente e voltar para Canaã. Além do mais, a família era querida por todos, principalmente pelo Faraó, o que não era pouca coisa. Enfim, foram ficando.
Quando estava com cento e dez anos, e já tendo visto os netos de Efraim e Manassés, José se deu conta de que não iria viver muito mais que aquilo. Mas também nem queria, toda pelancuda e acabada daquele jeito. O fato é que ele chamou a família toda para fazer sua despedida.
— Ai, meus queridos! Está chegando a hora de eu bater as sapatilhas!
— Queisso, José? Cê ainda vai viver muito!
— Vira essa boca pra lá, Benjamim! Viver mais pra quê? Pra ficar igual o Cauby Peixoto ou o Clóvis Bornay? Eu, hein! Quero mais é morrer agora, no auge!
No auge, pois sim…
— O que você disse?
— Nada não. Toca o barco.
— Pois como eu ia dizendo: Tá chegando a hora de virar purpurina. Eu queria muito ser sepultado em Canaã. Mas se quando papai morreu já foi aquele mafuá, aquele furdunço (valeu, Loira!) todo, fico imaginando agora, que nossa família já cresceu tanto. Mas tenho certeza que um dia nossa família voltará a morar em Canaã. Quando isso acontecer, por favor, levem meu corpo para ser sepultado em nossa terra.
— Tudo bem, José.
— Prometem?
— Prometemos.
— Então tooooooooodo mundo com a mãozinha embaixo da minha coxa!
— Tá doido???
— Ué. Foi assim que meu bisavô Abraão fez o servo dele prometer quando…
— Xi, tá delirando já.
— Droga. Nisso que dá não saber falar com links feito o pápi. Bom, então vocês prometeram. Fico muito feliz… Ai… Está tudo ficando escuro… Acho que é hora de dizer minhas últimas palavras.
— Pode dizer, José.
— Só duas palavrinhas: Quem comeu comeu, quem não comeu não come mais.
— Porra, dessa vez cê exagerou.
— …
— Xi. Morreu.
Assim morreu José, aos cento e dez anos de idade. Foi embalsamado e sepultado com grandes honras no Egito.

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