José, a bichinha sonhadora

Desde Lot que a gente não conta nenhuma história de bichinha, né? Então chegou a hora. Com um diferencial importante: Lot foi apenas coadjuvante das aventuras do titio Abraão (E ficava pensando: “Esse corno velho recebe todas as lantejoulas, sendo que eu sou muito mais cool que ele. Morra!”), enquanto José será nosso protagonista daqui até o final do Gênesis.
Pois bem, José era uma bichinha alegre de 17 anos de idade. Sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila (Dã e Naftali) e de Zilpa (Gade e Aser). Os irmãos tinham raiva dele, não por ser viadinho, mas por ser dedo-duro.
— Naftali, batendo punheta de novo? Vou contar pro pápi!
— Conta, viado. Conta, que eu falo pra ele que você vive suspirando pelo tio Esaú e chamando ele de “ursão”.
— Ui, Náfi, quanto veneno! Tava brincando, cruz-credo!
Pra aumentar ainda mais o ódio dos irmãos, José era o preferido de Israel [nota: a partir daqui o texto passa a tratar o cara ora como Jacó, ora como Israel]. Não por alguma qualidade que tivesse, mas por ser o primeiro filho de sua falecida esposa Raquel, a mulher que ele amara de verdade. Atendendo aos pedidos insistentes do filho, Israel fez para ele uma túnica toda colorida e José foi correndo mostrar para os outros.
— Olha só o que pápi fez pra mim! Vejam que tecido, que cores! Quanto brilho, reparem nos detalhes de strass [valeu, Dani!]. E essas plumas, que ar-ra-so!
Por essas e outras a raiva dos irmãos crescia a cada dia. Não conseguiam falar com o moleque numa boa. Batiam nele, mas nem isso valia a pena, porque ele corria pra contar pro “pápi”. E para foder tudo de vez, José resolveu dar para sonhador. Não, seus infames, não é nada disso que vocês estão pensando. Eu, hein? O que eu quero dizer é que José começou a ter uns sonhos cheios de significados. Podia muito bem guardar os sonhos para ele, mas a bichinha era meio burra e ia toda serelepe contar para os irmãos:
— Nosssssssssssssa, vocês não têm i-dé-ia do sonho que eu tive essa noite! Estávamos todos nós amarrando feixes no campo. Aí, olha que coisa mais esquisita, o meu feixe, que era muito mais lindo e vitaminado, todo cheio de paetês, ficava de pé, e os feixes de vocês rodeavam o meu e se inclinavam para ele, como se estivessem adorando ele! Olha que coisa doida! Que será que significa, gentem?
— Ô boiola… Cê tá querendo insinuar que nós vamos servir a você? Que você vai ser superior a nós?
— Ai, calma! Não sei de nada, tô só contando meu sonho! Afe…
Aí sonhou de novo na outra noite e veio contar, dessa vez para os irmãos e o pai.
— Ah, não. Vocês não vão a-cre-di-tar! Outro sonho esquisito, pode? Dessa vez estavam o sol, a lua e onze estrelinhas, todos se inclinando para mim. E eu estava lindo de morrer, com uma tiara deeeeeeeeeeste tamanho na testa, umas pulseiras enooooooooooooormes de ouro puro, uns…
— Queisso, Zezinho? — Repreendeu Jacó — Quer dizer que eu, sua mãe e seus irmãos vamos nos inclinar perante você? Não é muita pretensão sua não?
— Ai, pápi, tô só contando o sonho! Além do mais essa lambisgóia vesga não é minha mãe!
— Respeite Léia, que ela é vesga mas é a única que eu tenho.
Bom, acho que é desnecessário dizer que esses sonhos acabaram de vez com a relação de José com seus irmãos. A raiva que eles sentiam da bichinha era tanta que tramaram um jeito de se livrarem dele. Mas essa história fica pra outra ocasião.

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