Geazi acordou, caiu da cama, passou um pente pela cabeça. A lepra fora apenas um susto; estava novamente a serviço de Eliseu. Precisava aliviar a bexiga e foi saindo. Da porta, viu ao redor da casa uma tropa de soldados com cavalos e carros de guerra. Espreguiçou-se. Esfregou os olhos. Os soldados continuavam lá.
— Bom dia…
— Bom dia — respondeu um que parecia ser o chefe.
— O que fazem aqui em Dotã tão cedo?
— Cerco.
— Hum…
— Pois é.
— Dia bonito, não?
— Muito.
— Os senhores são de onde?
— Síria.
— Hum.
— É.
— Tão cercando quem?
— Eliseu.
— Ah.
— Conhece?
— Eu? Nah.
— Hum.
— Minutim.
Geazi acenou para os soldados, e calmamente voltou para dentro. Assim que se viu fora do alcance da vista dos sírios, disparou para o quarto de Eliseu.
— Patrão! Fodeu, patrão! Vamos fugir, o bicho tá pegando!
— Porra é essa, Geazi? Calma. O que acont… Geazi, cê tá mijado?
— Hein? Puta que pariu, bem que eu vi que tinha esquecido alguma coisa… Bom, foda-se. Patrão, os sírios tão lá fora querendo te pegar.
— Sírios, é?
— SIM! SÍRIOS! Você sacaneou os caras e agora são trocentos deles contra nós dois.
— Nós dois e a galera, né, Geazi?
— Que galera, patrão? Endoidou?
— Javé, mostra pra ele.
— Tá falando com q… PUTA QUE PARIU DE ROSCA! E-esses caras são…
— Anjos. Sim. Uma anjaiada brava, boa de briga. Vamos lá ver esses tais sírios.
Deslocar tamanha tropa para pegar um só homem ia contra o senso estratégico e econômico do exército da Síria. Mas é que Eliseu andava muito abusado. Tinha passado por um período de marasmo, era verdade. Durante esse tempo, ajudara na construção de uma casa para o Clube dos Profetas de Israel às margens do Rio Jordão. A coisa mais empolgante a acontecer durante a construção foi a queda do machado de um dos operários no rio, machado este que Eliseu fez flutuar. De resto, só moleza.
Aconteceu, porém, que o rei da Síria, que andava até muito amigo de Israel, decidiu que era hora de tentar invadir o reino vizinho novamente. Armou acampamento em um lugar estratégico para pegar o exército israelita de surpresa. Só que Eliseu continuava com suas experiências de sair do corpo: viu onde os sírios se entocavam e avisou o rei de Israel, que mandou mensageiros à região alertando para a presença inimiga. O exército sírio mudou de acampamento e foi descoberto outra vez. Mudou mais uma vez, e mais uma vez viu frustrados seus planos. Repetida a situação diversas vezes, Ben-Hadade, rei da Síria, chegou à conclusão óbvia: havia um traidor entre seus oficiais. Na hora da acareação, um dos oficiais contou ao rei sobre Eliseu e seus poderes mágicos. Era o fim da picada. Era preciso eliminar o profeta.
— Espera, patrão. Não seria melhor…
— Deixa de ser bunda mole, Geazi. Vamos lá. Bom dia, meus caros sírios. É uma honra tê-los em meu quintal.
— É você o tal Eliseu?
— Quem quer saber?
— Eu, o comandante da tropa.
— Olha só, que engraçado!
— O que é engraçado, rapaz?
— Uma tropa só de cegos!
— Cegos? Cê tá louco? Homens! Prep… GAAAAAAAAAAH! Estou cego!
— Estou cego!
— Não estou vendo nada! Socorro!
— Eu estou cego também! Não. Peraí. Ah, não. Putz. ESTOU SIM! ESTOU CEGO!
— ACALMEM-SE, CEGUETAS! Vocês vieram bater à porta errada. Se quiserem, posso guiá-los até onde Eliseu está.
A proposta não fazia muito sentido, mas os soldados não tinham escolha. Estavam cegos em uma terra desconhecida, e era melhor confiar naquele guia estranho do que não ter guia algum. Foram, pois, seguindo Eliseu.
— Chegamos — disse o profeta, e os sírios imediatamente voltaram a enxergar. Não estavam na casa do profeta, claro: estavam em pleno centro de Samaria, com o rei de Israel diante deles e o exército israelita ao redor.
— O que eu faço, Eliseu? — perguntou o rei — Mato os felasdaputa?
— Claro que não, majestade. O senhor por acaso mata seus prisioneiros de guerra? Dê comida e água a esses homens, que estão assustados e já aprenderam sua lição. Depois eles voltarão para casa e contarão o que lhes aconteceu.
O rei seguiu a recomendação de Eliseu, dando uma grande festa para os soldados sírios. No dia seguinte, de ressaca, eles voltaram para sua terra. Durante algum tempo, Síria e Israel viveriam em paz.
A paz só durou alguns meses, na verdade. Um dia Ben-Hadade acordou de mau humor e decidiu que ia resolver de uma vez por todas a questão israelita. Então mandou todo o seu exército para cercar Samaria. Depois de algumas semanas de sítio, a comida começou a escassear na capital israelita. Nas feiras, uma cabeça de jumento era vendida por um valor correspondente a quase um quilo de prata.
Diante da situação, o rei de Israel ficava cada dia mais deprimido. Seu exército não era páreo para as forças sírias, e uma solução diplomática estava fora de questão. O rei passava os dias caminhando pelas muralhas da cidade, um pouco para pensar, um pouco na esperança de ser atingido por uma flecha e acabar logo com tanto sofrimento. Foi em uma dessas caminhadas que o rei se viu interpelado por duas mulheres.
— Majestade, me ajude!
— Deixe de bobagem, minha filha. Se Javé, que é deus e não sei que mais, não te ajuda, como é que eu vou ajudar?
— Por favor, majestade! Temos uma questão a ser decidida, e só o senhor pode ser o juiz.
A questão das mulheres despertou a curiosidade do rei. Era uma cena digna do lendário Salomão.
— Pois digam.
— Dia desses essa aí deu a idéia de comermos nossos filhos.
— Que horror!
—
Pois é, veja só! Ela deu a idéia, então cozinhamos meu filho e comemos o pobrezinho. Aí no dia seguinte eu falei pra ela que era a vez do moleque dela, mas ela escondeu o bebê. Como é que se resolve essa situação, majestade?
O rei não sabia o que dizer. Primeiro pensou tratar-se de um trote. Seus olhos saltaram de uma mulher para a outra, mas ambas pareciam preocupadas apenas no aspecto jurídico da questão. Horrorizado, triste, com raiva, o rei rasgou suas roupas e caiu num choro convulsivo. Precisava culpar alguém por aquela situação insustentável, então se lembrou do episódio ocorrido meses antes.
— Que Javé me mate se hoje mesmo eu não cortar a cabeça do desgraçado!
O desgraçado, claro, era Eliseu, que naquele momento estava em casa reunido com alguns líderes do povo. Os visitantes estranharam quando o profeta interrompeu sua fala no meio de uma frase.
— Epa. O rei está mandando alguém aqui para me matar.
— C-como?
— Sim, estou vendo. Quando o mensageiro chegar, não abram a porta. O próprio rei virá depois dele.
O profeta ainda estava falando quando o mensageiro bateu à porta. Minutos depois, chegava o rei.
Opa! Presente adiantado de natal!Capítulo novo e ainda por cima primeira a comentar! Se não for primeira a ler!
Quem sabe a festa continua e o próximo sai antes do dia 24??? Hein? Hein?
bee..saudade é foda mesmo né? nesses dias mesmo tava vendo as fotos da festa do jesus me chicoteia. bom..quando vc tirar férias…venha pra bahia..faço questao de que fique na minha casa. grande abraço.
detalhe..vc continua ótimo.
Ahh, suspense não…agora quero saber o final…
Num credito!!!!!!!!
Cadê o resto?
Beijim
Porra virou roterista de seriado americano. Espero que não demore muito para solucionar o mistério…
Mas cadê o resto???
(Sabe que, lendo no seu blog, é muitíssimo mais fáci lde entender que lendo na Bíblia? Eu nunca tinha entendido direito esse episódio, Eliseu uma hora é amigo, outra hora é odiado, uns o procuram para pedir ajuda, outros fogem dele… bom, ele era profeta, isso explica muita coisa, mas mesmo assim, é complicado).
Comentário maldosinho: Suas “traduções” já estiveram mais animadas. Sei que o capítulo não é engraçadinho, mas faltou empolgação. Ou sei lá o quê.
Mesmo assim, parabéns pelo trabalho Hercúleo, ou Sansônico, você decide.
Até que enfim, meu senhor!
É só pelos capítulos que venho aqui, afinal, sua vida, pode até ser interessante, mas a mim não causa a mínima curiosidade. Vida longa à sua criatividade bíblica.
Espero que não seja o último do ano.
Ótimo como sempre!
“Woke up, got out of bed
Dragged a comb across my head”
…
Beatlemania tardia…
Cadê o resto? Vai fazer final de novela do Gilberto Braga é? Quem matou Eliseu?
Grande Matanza!
Já estava começando a achar que ninguém ia perceber…
blub blub boiei blub blub
Cadê a continuação?? Não da pra ficar com esse suspense, ehehe. Ótimo texto!
Poderia ter colocado no primeiro diálogo: “Conhece o Eliseu?” “Que Eliseu?” “Aquele que te converteu!”.
Que bom que tem capítulo novo =D
Apesar de eu ainda não ler,porque eu vou ler a bíblia toda que você escreveu até agora pra depois ficar esperando por capítulos novos xD,
eu sempre torço pra que você escreva pq sei q quando acabar de ler a bíblia até onde vc escreveu vou ficar ansiosa por esses capítulos,então é bom saber o ritmo em q vc está,pra me assegurar q vc não vai demorar muito =D rs
Valeu marcorélio,esse capítulo deve ter ficado muito legal =)
cortou???
eheheheh
ma…
tá pensando que isso aqui é novela das oito, é???
Cade o resto??!!!
Mata! Mata! Mata! Kd o féladaputa do Eliseu???
até eu quero pegar esse safado……ahuahua
muito show Marco. E uma novis….hj eu tive coragem de mostrar p/ minha mãe o seu blog…ahuahua ela é testemunha de Jeová….. e rachou o bico com esse texto. Único q mostrei. Se marca ela vira leitora tbm.
Vida de profeta é ruim, hein?
Sempre tem alguém querendo matar os coitados…
questionaram a eliseu a respeito do que estava acontecendo,e ele disse fiquem tranquilos amanha por estas horas haverá muito rango a porta de samaria;porem um dos camarades do rei disse nem se deus abrir janelas no ceu isso seria possível.Eliseu disse tu veras mas não comeras. continua……………………………………………………………………………………………..