Duas da madrugada de sexta pra sábado. Toca o telefone. Entre carinhas sorridentes, a identificação da chamada: Risadinha. Atendo. Ouço uma voz engrolada:
— Macurélo?
— Fala, Risadinha.
— Oncetá, muleke?
— Tô em casa, caralho. Dormindo.
— DRUMINO? Kimerda… Pensei que ocê t’vesse nalgum buteco. Eu bibi um poquim agora e queria ir pa oto lugá bebê mais um poquim.
— É, mais eu tô em casa. Onde você está?
— No ca… No carro. Tô dirigino. Mas beeeeeeeeem divagá. Cuidado com os poste. É. Os poste. Tem que disviá dos poste.
— Cê tá bêbado, moleque.
— SEU CU! Eu tô bom! Bêbo é você e o Zeziño, que passa na casa dos otro gritando “AH! PUNETERO!”
— Hehehe.
— Fiodaputa…
— Vai pra casa, Risadinha. Vai dormir.
— É. Drumi. Falô.
— Tchau.
É claro que eu não podia deixar escapar uma dessa: Mandei um email pra galera hoje de manhã narrando o acontecido. Pois bem. Estava agora mesmo aqui, tentando escrever algo que preste, quando tocou o telefone.
— Marco Aurélio.
— Senhor Marco Aurélio, meu nome é Cleide, estou fazendo uma pesquisa e gostaria de saber se o senhor dispõe de dois minutos do seu tempo.
Estou acostumado a essas pesquisas. Os caras ligam e perguntam quantos micros tem na empresa, quantos servidores, roteadores, firewall, qual a velocidade e tecnologia da conexão à Internet, essas coisas. Então concordei.
— Senhor Marco Aurélio, minha pesquisa é sobre consumo de bebidas destiladas.
— Co-como???
— Consumo de bebidas destiladas.
— Ô, Cleide! Numfode! Tô trabalhando — (HAHAHAHAHAHA).
— Mas o senhor consome alguma bebida destilada?
— Não — Segunda mentira.
— Conhece alguém que poderia estar respondendo a essa pesquisa?
— Não conheço não — Terceira mentira, mas foda-se, ninguém mandou jogar gerúndio em cima de mim.
— Tudo bem então. Muito obrigado, boa tarde.
— Boa tarde.
Agora: Risadinha, cê quer que eu acredite que isso não é coisa sua?