Caramba! Falei do Espírito Santo e um monte de gente deu várias dicas legais. Então vou passar o roteiro todo, pra ver se alguém tem mais dicas: Nós vamos sair daqui de São Paulo domingo de manhã. Vamos pela Dutra até o Rio, e depois pela BR-101até Piúma, onde passaremos dois ou três dias. Depois disso, continuaremos pela BR-101 até Ilhéus. Depois disso, não tem pressa: Uns dias naquela região, depois mais para o Sul da Bahia, região de Porto Seguro. Aí entramos no Espírito Santo (amém!) de novo, no Rio de Janeiro. Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras, esses lugares. Rio de Janeiro, claro, porque, como bons paulistas, somos baba-ovo do Rio. Hum… Angra dos Reis, Paraty, Trindade.
Beleza de roteiro, não? Temos três semanas para fazer essa brincadeira, acho vamos nos divertir um pouquinho…


Olha o Genoíno aí, gente! O cara já tá cutucando a bunda do Maluf, que beleza! Se o Ser do Mal não for para o segundo turno dessa vez, eu vou começar a botar fé no eleitorado paulista. Nas eleições de 1998, vários petistas tradicionais acabaram votando em Mario Covas já no primeiro turno, porque as pesquisas indicavam que poderíamos ter um segundo turno entre Maluf e Francisco Rossi, ou seja, uma amostra grátis do inferno. Eu quase caí nessa. Era mesário na época, e deixei para votar já no final, com essa dúvida na cabeça. No fim das contas, acabei votando mesmo na Marta. Finda a votação, quando tiramos o relatório da urna da nossa seção, surpresa: Marta ficara atrás de Covas por apenas alguns votos. Saímos perguntando nas outras seções, e era a mesma história, sendo que em algumas a candidata do PT ficara em segundo. E o mesmo aconteceu na apuração geral: Marta, que em algumas pesquisas aparecia em quarto lugar, acabou em terceiro, bem perto do segundo colocado. Ou seja, movidos pelo tal “voto útil”, muitos deixaram de ver no segundo turno a candidatura que preferiam. Talvez deva-se a isso a subida de Genoíno na última semana antes das eleições: Quem votou em Covas naquela época, e agora pensava em votar em Alckmin, percebeu que o erro não poderia se repetir.
Estou torcendo por um segundo turno entre Geraldo Alckimin e José Genoíno. É sempre bom ver uma eleição disputada entre homens de bem, sem bandidos no meio. Mas São Paulo é uma terra estranha. Como bem observou meu amigo André Barrocal, Paulo Maluf tem seu eleitorado cativo, que não arreda pé. Se o Maluf chega na casa de um cara desses, rouba tudo e ainda estupra a filha do cara, ainda assim ele vai votar no desgraçado.
— Mas o Maluf roubou tudo o que você tinha!
— Ele rouba mas faz.
— Faz??? A única coisa que ele fez foi estuprar sua filha!
— Ué. Estuprou mas não matou. Graaaaaaaande Maluf.
Ô povinho sem-vergonha…

Talvez eu ainda não tenha falado dela aqui. Apesar de ateu, há coisas que são sagradas para mim, e não gosto de ficar falando nelas. Acho que é pra não desgastar, sei lá. Só sei que dentre essas coisas ocupa lugar de maior destaque a lembrança da minha avó materna, Dona Donata. Todo esse negócio que eu tenho, de contar histórias de um jeito meio engraçado, meio triste, eu herdei dela. E ela contava histórias bíblicas assim também: A versão dela para a história de Salomão e as duas mulheres que brigavam por um bebê era muito mais legal e engraçada que a original, com Salomão jogando a criança pra cima e tudo mais.
E sonhei com ela esse fim-de-semana. Ela dava um jeito de entrar em contato comigo através de uns aparelhos parecidos com modems, e as mensagens vinham numa espécie de código morse. Começou a me explicar que toda pessoa, depois de morta, vai para onde passou a vida acreditando que iria. Então o cara que acha que vai prum lugar cheio de anjinhos tocando harpa, vai prum lugar cheio de anjinhos tocando harpa. Um cara que acredita que vai passar a eternidade com muitas mulheres e cerveja, vai para o céu da putaria. Minha avó estava num lugar muito bonito, tinha praia lá, e ela conversava muito com Nossa Senhora, não rezando nem nada, mas como velhas comadres. E Deus (em maiúscula aqui por respeito à minha avó, não a ele) passava às vezes pra ouvir umas histórias dela também, e ria, ria muito.
Então perguntei para ela o que me estava reservado depois de morrer. E ela respondeu que eu iria para o inferno. Não por ser um descrente, mas por trabalhar com máquinas, e passar tanto tempo com estes seres sem espírito.
Antes que perguntem: Não, eu não acredito que minha avó tenha falado comigo em sonho. Mas acho meu subconsciente precisava encontrar um modo contundente de gritar por socorro, de avisar que estou afundando. Nada melhor do que fazer isso através da voz de Dona Donata, a melhor contadora de histórias que já habitou esse planeta.

Segunda-feira, primeiro dia de minha última semana antes das férias. Sabendo que essa semana vai se arrastar como se fosse um mês, resolvi começar bem a segunda-feira e, por conseguinte, a semana: Liguei o micro e fui logo tratando de dar uma olhada no Leite de Pato. Porque Adailton Persegonha é o cara. Pois bem, lá chegando dei de cara com o link para o Imprensa Marrom que, vergonha!, ainda não conhecia. Excelente jornal em forma de blog, ou blog em forma de jornal, feito por uma equipe dez vezes mais competente do que os pelegos que andam espalhados pelas redações. No Imprensa Marrom, tomei conhecimento do editorial da revista Carta Capital desta semana declarando abertamente apoio a Lula. (Precisa ser cadastrado pra ler mas, pombas, é de graça!)
Não é tão pioneiro como alguns hão de pensar. No segundo turno das últimas eleições para prefeito, Matinas Suzuki escreveu um editorial no Último Segundo apoiando a candidatura de Marta Suplicy. Na semana seguinte, pouco antes da votação, vários outros órgãos de imprensa de São Paulo declararam seu apoio à candidatura petista, entre eles, quem diria, o sisudo Estadão. Tratava-se, no entanto, de situação bem diferente: Era mais uma manifestação de repúdio a Paulo Maluf do que apoio propriamente dito a Marta.
O apoio de Mino Carta é diferente, por convicção, e com excelentes argumentos para a escolha do candidato. Com isso, ele ataca toda a imprensa nacional, que não toma partido explicitamente, mas demonstraria seu apoio a José Serra até na página de quadrinhos, se pudesse (no artigo, Carta só poupa o Estadão, único até agora a deixar claro seu apoio a Serra).
Ótimo começo de semana para mim. E talvez um ótimo recomeço das relações entre imprensa e poder nesse país.

Pois bem, vamos aos fatos: Lula é uma pessoa muito boa, um homem muito inteligente. Para o Brasil, mais que um candidato, é um símbolo. Deve ganhar já no primeiro turno, mas se houver segundo turno, ganha também. Já o Serra… Bom, o Serra é tecnicamente bom, mas não tem carisma.
— Ô, Marcurélio, pára de puxar o saco do Lula! Já entendemos que você vai votar no cara, mas nem por isso cê tem que tentar impor seu ponto de vista.
Calma lá! Eu ainda não disse nada. Segundo o jornal argentino Clarín, essas foram declarações do presidente Fernando Henrique Cardoso ao seu colega Duhalde durante uma “conversa reservada e franca”. Agora, se o FHC diz isso, quem sou eu para discordar, pombas?

A campanha de José Serra recentemente resolveu apelar para a falta de diploma de Lula como argumento. O próprio Serra pediu para que seus marqueteiros tirassem essa menção ao curso superior. Achei que tivesse sido um ato de cavalheirismo, mas nem isso. Em e-mail enviado a mim pelo Claudio Lara, fiquei sabendo que o Claudio Humberto, em sua coluna no Jornal O Dia, fez uma revelação bastante curiosa: Serra não tem diploma! O cara não terminou o curso superior aqui e fez pós-graduação e mestrado no exterior. Muitos países aceitam que qualquer um faça esses cursos, mesmo que só tenha o primário.
Não vejo nada de mais nisso. Tudo aconteceu nos anos 60, tempos difíceis para quem, como José Serra, lutava contra o regime militar. Talvez ele não tenha concluído o curso superior por ter visto que o bicho estava pegando por aqui, e era melhor sair do país. Não sei. Seja como for, Serra não tem formação universitária. Na melhor das hipóteses, isso ocorreu porque ele foi impossibilitado de cursar a universidade. Ou seja, ele não é formado pelo mesmo motivo que Lula.