Ora, seus hereges! Então vocês vêm aqui à cata de fotografias de belas mulheres nuas, não é? Tomem tento! Vocês precisam é do cajado de Moisés. Que na verdade é a vara de Arão, mas isso fica pra mais tarde. Vamos lá.
Moisés cresceu todo bonitão na côrte egípcia. Um dia resolveu sair para um passeio e foi até um lugar onde trabalhavam escravos hebreus. Ele tinha uma vaga consciência de sua condição de israelita, então se condoeu do sofrimento de seus irmãos. E ficou muito puto quando viu um egípcio açoitando um israelita.
— P-p-por que v-v-vo-você es-s-s-stá b-b-bat-t-tendo n-nnnn-n…
— Caralho, é pra hoje?
Ah, eu não contei pra vocês? Pois é, Moisés era gago.
— P-p-pára c-c-com iiiiiiii…
— “Iiiiiii” o quê? Cê é parente daquela tartaruga da Brahma?
— E-e-eu t-t-tô aaaa…
— “AAAA” o quê? É pra examinar sua garganta?
Bom, agora juntem a efervescência de hormônios adolescentes ao nervosismo da gagueira. Não podia dar em outra: Moisés olhou em volta para se certificar que não tinha ninguém olhando (exceto pelo hebreu que estava apanhando, que não ia denunciá-lo), matou o egípcio e escondeu o corpo na areia. No dia seguinte, voltou àquele lugar (“Eles sempre voltam”, diria o Comissário Gordon, ou outro desses policiais aí) e viu dois hebreus brigando. Foi apartar a briga.
— N-n-não br-briguem! V-v-vocês sssão p-p-p-atrícios!
— Ô gaguinho, vai pra puta que pariu! Quem foi que botou você como juiz aqui? Será que vai querer me matar, como matou aquele egípcio ontem?
— F-f-f…
— É, isso aí. Fodeu. Agora sai andando.
Moisés ficou preocupado. E com razão, porque o caso chegou aos ouvidos do Faraó.
— Como é que é? Ele matou um egípcio?
— É isso aí, majestade.
— Eu bem que avisei à minha filha que hebreu é uma raça que não presta. Mas essa menina é cabeça oca, não ouve o que a gente diz. Agora deu nisso, um assassino dentro de casa. Mas não vai ficar assim, ah, não vai!
— O que o senhor vai fazer, majestade?
— Eu? Eu não vou fazer nada, porra! Sou o Faraó, qualé? Você que vai fazer. Vai matar o desgraçado.
— Mas majestade… Ele é seu neto!
— Que neto o cacete! Mata ele, mata, mata!
— Tá bom, Führer.
— Do que que você me chamou?
— Faraó, chefe. Faraó. Vou lá matar o desgraçado. Té mais.
— Falô.
Moisés ficou sabendo que estava com a cabeça a prêmio e fugiu para a terra de Midiã.
O sacerdote de Midiã, Jetro (também chamado Reuel e Hobabe, não me perguntem por quê), tinha sete filhas. “E daí”, vocês perguntam. E daí que quem manda aqui sou eu, e dou as informações que eu achar relevantes. Bah!
Certo dia as filhas de Jetro foram tirar água de um poço para dar de beber às ovelhas e cabras do pai. Moisés estava sentado ao lado do poço, e ali por perto estavam uns pastores também. A chegada das meninas causou alvoroço entre os pastores:
— Ê, lá em casa!
— Ô terra boa pra eu plantar minha mandioca!
— A ovelhinha tem telefone?
E outras bobagens do tipo. Vendo aquilo, Moisés enfureceu-se. E para não perder tempo falando, tratou logo de botar os pastores para correr. Feito isso, e tendo ajudado as moças a encher os bebedouros, elas voltaram para onde estava o pai. Jetro estranhou a volta das filhas tão cedo.
— Um egípcio ajudou a gente, pai. Tinha uns pastores lá mexendo com a gente, mas ele botou eles pra correr e ainda ajudou com a água.
— E por que vocês deixaram o pobre moço lá? Que falta de educação! Tragam o rapaz aqui. Se ele vem mesmo do Egito deve estar cansado da viagem e precisando de comida e abrigo.
As meninas foram buscar Moisés, que jantou muito bem na casa de Jetro. Depois do jantar, o sacerdote convidou Moisés para ficar morando na casa dele, e Moisés aceitou. E a hospitalidade de Jetro não conhecia limites: Além de casa e comida, ofereceu sua filha Zípora em casamento. E Moisés, como de hábito, aceitou. Tempos depois Zípora teve um filho, e Moisés o chamou de Gérson, que significa peregrino, porque ele era peregrino em terra estrangeira.
A vida de Moisés começava a se acertar, mas os hebreus continuavam sofrendo no Egito. Moisés bem que queria permanecer omisso nessa história, mas nem teve como. Depois eu falo por quê.