— Bom, vamos continuar? Tenho um monte de papeizinhos aqui com umas leis anotadas, tá uma zona.
— Po-porra, Ja-Javé, cê j-já f-foi me-melhor…
— Relaxa, Moisés. Essas leis não são tão importantes quanto os ingredientes do incenso, ou as leis sobre lepra nas casas.
— Mofo, Javé. MOFO!
— Ou isso. Mas como eu ia dizendo: Leis menores. Só um reforço do que já falei antes, que é pra vocês guardarem bem: Respeitem pai e mãe, não trabalhem no sábado, não adorem outros deuses, respeitem as regras para os sacrifícios. E outras bobagens aqui. Cês querem ouvir?
— Querer a gente não quer. Mas já estamos aqui mesmo, então manda.
— Tá. Mas nem precisam anotar, viu? É tudo bobeirinha mesmo. Por exemplo: Quando vocês forem colher o trigo, não colham dos pés que ficam na beira do campo, nem voltem pra pegar as espigas capidas. Da mesma forma, não façam uma segunda colheita nas suas plantações de uvas. O que for deixado pra trás é pra ficar por lá mesmo, para os pobres e estrangeiros que estiverem passando pelas suas terras.
— Isso é bobeira, Javé?
— Pois é, Arão. Tá vendo?
— MANÉ BOBEIRA! Essa é a primeira lei decente que você traz aqui! É humanitária, caridosa!
— E eu ligo pra essas coisas, Arão? Só fiz essas leis por causa da insistência do meu fi… ARRAM!
— I-insistência de q-quem? Do s-seu fi-filho???
— Não falei em filho! Não falei em filho! Insistência do meu fiSIOTERAPEUTA. Ele é cheio dessas coisas.
— Hum. Desde quando deus precisa de fisioterapia?
— Ô, Arão! Cê por acaso sabe a minha idade? Pensa que é fácil? Tô com vários problemas de velho, cara. Até pentelho branco eu tenho. Ando caducando: Fui a uma festa dia desses e dizem que eu toquei bongô na careca de um cara lá. E tô com problemas nas juntas também, então contratei esse fiSIOTERAPEUTA. Que não é meu filho. Porque eu não tenho filho. Filho! Hahaha.
— T-tá. J-já e-entendemos.
— Então vamos em frente com as leis do meu fil… fiSIOTERAPEUTA. Não roubem, não mintam, não enganem os outros. Não façam juramentos falsos. Não explorem nem roubem os outros. Não atrasem o pagamento dos trabalhadores.
— Caraca! Nem parece Javé falando! Vai fazer reforma agrária também?
— Não me torra, Arão. Vamos em frente com essas leis malucas do JC.
— Jo-jotacê?
— Hum… É. Joelmir Creosólito. Meu fiSIOTERAPEUTA.
— HAHAHAHAHA! Nomezinho escroto!
— Tá rindo de quê, Arão? A mãe de vocês chamava Joquebede!
— Sa-sacanagem i-isso a-aí, Ja-Javé.
— Sacanagem é ficar me interrompendo. Vamos lá, vamos lá. Onde é que eu estava? Ah, aqui: Não xinguem o surdo, não botem nada no caminho do cego. Eu não suporto pegadinhas.
— Po-por q-quê, Ja-Javé?
— Por causa de um episódio chato aí que me aconteceu. Não gosto de falar disso, continuemos: Quando forem julgar alguma causa, sejam rigorosos e justos, sem tentar favorecer os pobres nem lamber o saco dos poderosos. Nã sejam fofoqueiros, não façam acusações falsas. Não sejam rancorosos, corrijam com franqueza aqueles que estiverem errados. Não sejam vingativos. Cada um deve amar aos outros como ama a si próprio.
— Peraí, Javé! PERAÍ! QUE PORRA É ESSA? AMAR OS OUTROS? Cadê os castigos? Cadê os rituais?
— Hum… É mesmo, Arão. Tá uma veadagem isso aqui! Peraí, que eu vou inventar umas leis mais legais. Hum… Deixa eu ver… Ah, sei lá! Não cruzem animais domésticos de espécies diferentes.
— F-fraquinha e-essa.
— Peraí, peraí, deixa eu pensar… Não semeiem sementes diferentes no mesmo campo!
— Tá melhorando…
— Não vistam roupas feitas de tipos diferentes de tecido!
— A-aê, esse é o Ja-Javé q-que eu co-conheço!
— Isso aí! E se um homem tiver relações com uma escrava que já foi prometida pra outro cara, ele e a escrava serão castigados. Para tirar sua culpa, o homem trará um carneiro aqui para oferecer em sacrifício. Sangue! SANGUE! SAAAAAAAAAAAAAAAAAANGUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! Ah, como é bom isso! COMO É BOM! Vamos em frente, vamos em frente! Quando vocês estiverem morando lá em Canaã e plantarem uma árvore frutífera, não comam seus frutos durante os três primeiros anos, porque serão impuros. No quarto ano, os frutos serão dedicados a mim. Só a partir do quinto ano vocês poderão comê-los.
— M-mas p-p-p…
— CALABOCA! TÔ EMPOLGADO! Não comam carne com sangue! Não façam feitiçarias nem adivinhações! Não cortem o cabelo dos lados da cabeça nem aparem a barba!
— Acho que já deu, Jav…
— NÃO ME INTERROMPA! Não entreguem suas filhas para serem prostitutas nos cultos de fertilidade! Não trabalhem no sábado!
— J-já fa-falou…
— BAH! Não procurem ajuda de médiuns, cartomantes, quiromantes, pretos-véios, porra nenhuma dessas. E… E… E… Porra, me ajudem! Mais leis! Mais rituais!
— Pô, Javé. Volta pras leis do seu fiSIOTERAPEUTA. Tava mais legal.
— Ô, merda. Tem mais umas coisas aqui. Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito. Não maltratem os estrangeiros. Eles devem ser amados como se fossem israelitas, porque vocês também já foram estrangeiros, lá no Egito. Não dêem uma de espertalhões, roubando nos pesos e medidas das mercadorias. Sejam honestos. E blablablá. É isso.
— Anotado.
— Bah! Leis sem graça…
(Autocrítica: Bah! Capítulo sem graça…)
Que merda!!!!
HAHAHAHA
Fantástico o seu blog! Vou até colocar um link no meu!
pooooooooooooorra. nunca vou ser a primeirona
cacete.
mas hein… coisa de loko.Eu concordo com a parte do “nao comam carne cm sangue!”
É assim mesmo, quando volta de um período sem treino demora a pegar o ritmo de novo…
Mas vê se não pára mais, porra.Ah, o Balde de Gelo também parou?
Ficou muito bom MarcúReliú. Tá parecendo que tu leu a biblia – he he he
🙂
Acho que vc n vai aguentar fazer o livro de números, vc vai acabar pulando…
finalmente o levitico!!!! tava demorando marcao =)
pô, tá sem graça não, véio, tá engraçado a vera, aí!
Excelente! Vc conhece a história da composição do Pentateuco. Isso me faz suspeitar q, talvez, vc já tenha sido seminarista…
Mas o texto ainda vai falar em Reforma Agrária (o capítulo 25, p.ex., que como esse texto, faz parte do Código de Santidade).