Feriado frustrado

Olá, meus queridos. Sim, sim, eu sei que sumi. Estava me recuperando do trauma que foi o feriado. Conto.
Semana passada, pensando em onde iríamos passar o feriado, eu e Ana Cartola começamos a especular sobre o oeste paulista. Sim, porque todas as atrações turísticas do estado, desde o Circuito das Águas, ao norte, até a região das cavernas, ao sul, se concentra numa estreita faixa do leste. “Por quê?”, perguntávamo-nos, e decidimos, imbuídos de espírito bandeirante, voltar nossas setas para o oeste ignoto. Após alguma pesquisa (não encontrávamos nada sobre pontos turísticos na banda ocidental de São Paulo, e lamentávamos esse preconceito), decidimos por Santa Rita do Passa Quatro. Afinal, não era muito longe, ficava numa estrada que ainda não havíamos percorrido em meu possante um terço de Corsa (um terço é do pai, um terço é do filho, um terço é do Espírito Santander — depois explico) e tinha como atrativos duas cachoeiras, um mirante com linda vista da região, um jequitibá rosa de 3 mil anos, um deserto (!!!) e o museu Zequinha de Abreu, compositor de “Tico-Tico no Fubá” e o mais ilustre dos passaquatrenses (sei lá!).
Ah, meus filhos, o arrependimento! Para começar, todos os hotéis da cidade estavam lotados. Havia rumores de uma feira agropecuária, mas nada na cidade demonstrava isso: nenhum cartaz de divulgação, carro de som, panfletos, nada. O único hotel com quartos disponíveis era mal-assombrado e servia suco artificial no café-da-manhã — o diabo do lugar é literalmente cercado por plantações de laranja e a porra do hotel serve suco de laranja artificial! Atomanocu! O quarto tinha camas desconfortáveis e um aparelho de ar-condicionado quebrado. Depois da experiência em Eldorado, porém, nossa exigência quanto a instalações mudou bastante: o banheiro tinha porta, era o suficiente. Deixamos nossas coisas no hotel e fomos explorar aquela terra incógnita.
Primeira parada, a sorveteria. Eldorado, apesar do hotel do banheiro sem porta, era uma cidade simpática e, o mais importante, contava com uma excelente sorveteria. Em Santa Rita, todos os sorvetes têm o mesmo sabor de chiclete Ploc. Horrível. Tomamos nossos sundaes chicletosos e perguntamos à proprietária da espelunca sobre a tal feira agropecuária. Ela disse que era muito boa, que tinha muitas atrações, animais, rodeio, show de Teodoro & Sampaio, e era só ir indo, virar na farmácia do Palhares, seguir às esquerda e pronto.
Seguimos o caminho indicado (como esperávamos, a farmácia não se chamava “do Palhares” — a velha idiota esperava que adivinhássemos o nome do proprietário) e chegamos à Xiksfápis. Tá, não era esse o nome. XIX FAPIS, ou décima-nona Feira Agropecuária Numseiquê Numseiquelá. O ingresso custava vinte reais, o estacionamento, cinco. Entramos e não havia nada acontecendo: era muito cedo. Os peões concentravam-se numa cerca próxima ao lugar onde ficavam os touros. Portavam-se (os peões) como verdadeiros gladiadores, orgulhosos e distantes, olhando com desprezo os que passavam. Mais à frente, em dois galpões, exibiam-se carneiros e vacas de alta estirpe. Mais para cima um pouco, belos cavalos em suas baias. Chegamos a ver até um cavalo emo que guardava estranha semelhança com o jornalista Eduardo Vasques:

Cavalo emo

Cavalo emo

O jornalista Eduardo Vasques

Rodamos mais um pouco pela exposição, tomei uma cerveja (Crystal, a única disponível, uma porcaria), a namorada comeu um crepe, depois encarei um sanduíche de pernil. Nada mais havia a fazer: ou íamos embora ou encarávamos aquele festival bárbaro, sangrento e cruel chamado rodeio.

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Eu achava que a crueldade de que tanto falam era com os animais. Que nada! Crueldade daquele troço é com o público, que tem que ficar horas sentado numa tábua dura enquanto o narrador de rodeio, com aquela sua voz irritante, vai enrolando enquanto o espetáculo não começa. Horas e horas de orações, piadas sem graça, propagandas, música ruim, para alguns segundos de alegria por ver alguém estatelando-se de cima do lombo de um touro bravo e, se tivermos sorte, levando umas chifradas no rabo. Se você aí alimenta alguma vontade de ir a um rodeio, esqueça. É a maior bestagem que já inventaram, depois da reunião de diretoria.
Saímos à francesa no meio do rodeio e voltamos — que remédio — para o hotel amaldiçoado. O dia seguinte, pensávamos, seria agitado: tínhamos um só dia e muitas atrações turísticas para visitar.
Acordamos cedo no sábado, tomamos aquele café-da-manhã tenebroso e partimos para nossa primeira atração: o Deserto do Alemão. Segundo os sites que visitamos e um panfleto que arrumamos na Xiksfápis, tratava-se de um lugar deveras supimpa, com dunas, quiosques, árvores retorcidas e não sei mais o quê. Enfim, um lugar ideal para ficar bundando e fazendo de conta que se está num deserto de verdade. Placas por toda a cidade apontavam a direção do tal deserto, então achamos que seria fácil encontrá-lo. Qual! Depois de sair da cidade e andar por um tempão numa estrada deserta, resolvemos que o melhor mesmo era voltar e dar o Deserto do Alemão por boato. Voltamos, pois, frustrados com nossa primeira aventura. Mas ainda não cogitávamos desistir.
Nossa segunda atração ficava a nove quilômetros da cidade: o Morro de Todos os Caralhos (sei lá!), que contava com sua própria versão do Cristo Redentor e com uma vista deslumbrante. Toca pegar estrada, caminho de terra, subida íngreme (o Corsa chorando) para chegar a um lugar muito do chinfrim, com um Cristo todo desproporcional e uma vista feia e sem graça de quilômetros de plantações.

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A essa hora Ana Cartola já começava a ter crises de riso nervoso e eu tinha vontade de jogar uma bomba H sobre Santa Rita do Passa Quatro para acabar com o sofrimento de seus habitantes. Mas, bravos que somos, partimos para a terceira atração: a Cachoeira das Três Quedas.

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As informações que tínhamos davam conta de um lugar pitoresco, com o rio despencando por três grandes degraus de pedra, com ruínas da antiga usina hidrelétrica lá no alto. Seguimos, pois, para o lugar, paramos o carro e nos embrenhamos na trilha. Ouvimos vozes, porém, e acabamos descobrindo que, para chegar à cachoeira, precisaríamos descer. Isso significava que depois teríamos que subir. Vejam, nós somos um casal preguiçoso, mas nem tanto. Se fosse nossa primeira tentativa de diversão na cidade, ou se as outras não tivessem sido tão frustrantes, encararíamos a caminhada descendente (e a ascendente posterior) com um sorriso no rosto. Mas já estava tudo tão esmerdeado que não havia possibilidade de darmos alguma chance à cachoeira: mandamos a queda d’água tomar no cu — junto com o jequitibá e o Zequinha de Abreu — e pegamos a estrada. Só queríamos distância de Santa Rita do Passa Quatro.
Nosso plano B ficava a 80 quilômetros de distância: Ribeirão Preto. A chegada à cidade foi uma alegria só: congestionamento, buzinas, ratos, baratas, enfim, aquela sensação de estar em casa. Hospedamo-nos num hotel honesto (ar-condicionado operante e TV a cabo!), comemos no McDonald’s, fomos ao cinema (multiplex do Shopping Santa Úrsula, a melhor sala de cinema que já vi) e terminamos a noite no mundialmente famoso Pingüim, onde tomei cinco chopes que eram como a urina dos anjos, e me fizeram esquecer toda a provação por que passáramos até ali. Um final feliz.

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Fotos de Ana Cartola

46 comments

  1. Oks, vc não me perguntou…..
    Mas, no circuito de “águas”, destaco Socorro como uma cidade pequena, de chalés baratos e bons e passeios legais e até “radicais” pra quem gosta. Não gosta de passeios radicais? Tudo bem, lá tem uma estância de águas eletro-radio-magnética-ativa e de sais ótimos que pelo menos te relaxam……
    Pra quem é de Sampa, aquilo lá é um refresco!

  2. Agora voce ja sabe porque as mais recomendadas atraçoes turisticas ficam na faixa leste do estado… kkkk
    Da proxima, troque Santa Rita por Passa Quatro, no sul de Minas. Quase a mesma distância e por menor e mais bucólica que seja, mais interessnte que a primeira…pelo menos na vista…rs
    *(mas ainda acho que é tudo castigo divino por essa enrolação por mais um cápítulo…)*

  3. nao achei nada engraçado dos comentários ridiculos que voce fez sobre minha linda e maravilhosa cidade;sta rita e um lugar lindo com pessoas acolhedoras e educadas;voce que jamais devia ter vindo aqui devia ter tentado ir nas3 quedas com seu corsa e despencado de la de cima o cristo foi uma luta de um senhor humilde para embelezar nossa cidade vai ver voce se esconde num barraco ao lado do shoping em sao paulo come ovo todo dia e arrota peru

  4. Mara, que dizer? Cê mora em Santa Rita, já está castigada…
    Mas e a pontuação, hein, mulinha? Imperdoável, a ausência de pontuação.

  5. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…
    vcs são corajosos encarar um rodeio, ninguém merece…
    urbanóides me divertem, sem falar das fotos dos pontos turisticos. kkkkkkkkkkk

  6. Pois você devia ter vindo direto a Ribeirão Preto, se você queria quedas d’água, existem algumas artificiais em um parque da cidade. Você teria seu momento bucólico e depois era tocar pro Pingüim. Ah, devo lhe dizer que Santa Rita do Passa Quatro é a cidade natal do grande ator José (quem?) de Abreu… (putz, como pode uma cidade chamar Santa Rita do Passa Quatro e ainda ter habitantes que se orgulhem dela?

  7. Sensacional! Até sugiro mais alguns destinos pra você xingar, quando tiver oportunidade: na Bahia, Itabuna e Buerarema; no Espírito Santo, Linhares. E nem precisa sair da frente quando a Don’Ana for fotografar as tais… como dizer?… cidades.

  8. Depois da aliteração desenfreada da Ana Cartôula… só tenho uma coisa a dizer…
    Seu zóinho na primeira foto denuncia hein??
    ahahahaha
    Muito loko viajar cara… ainda mais com quem gostamos…
    ehehe
    Some day I wanna burn a joint with u man…
    Un Cordial Saludo!!

  9. E isso pq a cidade tem nome de santa… Mais uma prova de que isso não tem a ver!!!
    ehehehe
    Lá no céu (isso existe mesmo???) “us anjim” e “us santim” tão rindo do povo que vai “pressas” cidades…
    Deve ser gozação divina…

  10. Olha faço das palavras da Débora as minhas, e um pouco acima de socorro existe uma cidade chamanda Bueno Brandão (os paulistas fazem trocadilhos com Bueiro grandão ahahahaha) mas nada tem a ver com bueiros Chicoteia, existem muitos campings algumas pousadas e muitas mas muitas cachoeiras e a melhor parte se fizer o caminho certinho da 200 km de são paulo agora se fizer o errado como eu fiz é o dobro ahahahahahaha, chegando em bueno brandão recomendo o camping da Dona Beth ou beth loca como alugns dizem, é um senhora muito hospitalira com um camping limpo e bem organizado, boa sorte da proxima vez.
    As vezes não sei como te chamar… Marco aurélio é muito formal, Chicoteia cansa, garoto da boina é legal mas acho que deixaria deprimido pela sua boina perdida.
    Tem noticias de deus? o blog dele morreu?

  11. Não entendi o que a minha aliteração de desespero de saber que alguém mora naquele lugar tem a ver com a maconha que o Marco não fuma.
    Eu também fumo maconha mas no meu caso não precisa nem foto pra denunciar, é isso?
    UIA!

  12. Adorei este relato e mais ainda as fotos (onde, com muito esforço, vemos algo que nos remete vagamenente a uma arena de rodeio, a árvores e montanhas, a folhas secas, e, a melhor delas, à choperia Pingüim (esta dá pra ver bem mais nitidamente, ainda bem). :P)
    Você a Ana Cartola devem ter se divertido horrores em Santa Rita do Passa Quatro Pontos (Passa ponto final, passa ponto e vírgula e passa pontos de exclamação e interrogação, pra alguns habitantes de lá. Isso sem falar na vírgula, que mudou de lá há séculos, de tanto ser desprezada…)…

  13. Porra, cara, vc teve sorte. Poderia ter caído nuns lugares mais agradáveis: Pontal e Sertãozinho ficam ali do lado. Aí sim, seu fim de semana seria horrível. E, pelo jeito, Ribeirão nem estava calorosamente infernal.

  14. Marcolino… quer outra viagem furada? Vá a Águas de São Pedro. Se quiser outra coisa além de conhecer as águas medicinais e o Grande Hotel do Senac, esqueça.
    Ah, vá… tem lá uma caipirinha boa no Hotel Jerubiaçaba. hehehehe
    Beijocas!

  15. hahaha
    Na próxima viagem vá até Aguas de Lindoia e estique sua viagem até Poços de Caldas, vc vão gostar………. menos o Corsinha hehehehe

  16. Se eu te visse aqui no Pinguim, pediria pra tirar uma foto. Mas eu não vou ao Santa Úrsula nem fódendo. Cheio de emo e não a sala de cinema não compensa tanto assim. Mas beleza! Legal que achou Ribeirão Preto melhor que Santa Rita! Valeu.

  17. Oooolha que coincidência!
    Sou de Ribeirão Preto – pra mim, melhor cidade do Brasil – e tb passei o feriado em Sta. Rita do Passa Quatro, na casa da família de uma amiga.
    Tb fomos ao super show de Teodoro e Sampaio na Fapis e tb tentei visitar o Cristo amorfo e as cachoeiras.
    Enfim… passei sem pé nem cabeça. Vlw pq eu tava pegando um cara que estaria em Sta. Rita tb (e foi um pega horrível, whatever) e pq deu pra tomar sol na sexta-feira e curtir um churrasco na piscina nos outros dias.
    Tá convidado a voltar a Ribeirão e passar mais tempo. A sala de cinema do Cinemark Novo Shopping é ainda melhor que a do Sta Úrsula!
    bj

  18. “nao achei nada engraçado dos comentários ridiculos que voce fez sobre minha linda e maravilhosa cidade;sta rita e um lugar lindo com pessoas acolhedoras e educadas;voce que jamais devia ter vindo aqui devia ter tentado ir nas3 quedas com seu corsa e despencado de la de cima o cristo foi uma luta de um senhor humilde para embelezar nossa cidade vai ver voce se esconde num barraco ao lado do shoping em sao paulo come ovo todo dia e arrota peru”
    Tem quem gosta dos olhos, tem quem gosta de remela. A cidade é fraquinha mesmo, pra dizer o mínimo.
    Mas podia ser pior, tu podia ser transferido e ter que morar lá.

  19. pergunta pô!
    antes de botar o corsinha na estrada pergunta para seus quase 300 fãs quem é quem no mapa do oeste paulista… informação quente e de graça.
    eu recomendo vc ir até Três Fronteiras no próximo feriado. quilometragem de mais, turismo de menos, mas tem a estátua do Bernardão! vai render uma bela crônica

  20. putz… pergunta nada pra esse povo-fã não!
    25 horas se passaram e ninguém apareceu pra corrigir que o Bernardão é uma atração de Fronteira, do lado de lá do rio grande, no Triângulo Mineiro.
    Três Fronteiras e outra vila barca furada!

  21. fala marcurelio.
    bem vindo atrasado à ribeirão preto.
    bom, se vc conheceu o pinguim e o “satan ursula”, conheceu pouco de nossa mini-lópole. avise qdo voltar e eu te passo o roteiro

  22. Pelas fotos a gente vê que você não parece mais o Fernandinho Beira Mar;tá parecendo o Pinduca agora.
    Grato pelo relato ; uma barca furada a evitar. 🙂
    [s

  23. resposta da mara ao nilton says podia ser um pouco mais original na sua resposta ;se voc~e conhece e tivesse morado em uma favela como eu e se seus filhos vissem pessoas assassinadas com tiros ;iria achar sta rita um paraiso

  24. Marcu, que saudade de ler suas aventuras…
    Ainda deve um capítulo, diacho!
    Puts, ainda bem que vc postou isso, até cogitei uns tempos atrás ir pra lá… E concordo com o povo de ribeirão, a cidade é carambísticamente legal, um dia ainda mudo pra lá e saio disso aqui que se chama Sun Paul… Ah, quando mudar provavelmente meu ponto de referência vai ser um dos Pinguins, vou achar uma casa não mais distante 500 m de um deles. Recomendo que o Sr. também o faça, quando puder. Vc foi no Penguin do centro?
    As câmeras te adoram, hein?
    Abraço

  25. TODAVEZ que eu ouço falar de Santa Rita do Passa Quatro, me lembro de uma senhora que sentou ao meu lado no ônibus de Curitiba pra Ribeirão, que me falou: o que? vc não conhece Santa Rita do Passa Quatro? É a cidade onde o Raí casou!!

  26. Sou santarritensse e adorei o comentário.
    A parte do hotel que estava fechado no feriado foi muito cômico….
    Sem falar que em Santa Rita em números e pela quantidade de habitantes, é a cidade que tem mais casos de suicídio no estado de SP.
    Valeu!!!

  27. Cara….morei 6 semanas em Santa Rita…..e assino embaixo tudo o q vc falou. Mas a do sorvete foi ótima!
    As placas do Deserto….realmente….várias…minha irmã falava…ah…é logo ali….nunca cheguei.
    Não agüentei…..voltei pra Mogi Guaçu…q tb não tem porra nenhuma, mas pelo menos aqui tô situado na vida.

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