Você já ouviu uma frase que te marcou? Algo que te disseram e você ficou com aquilo na cabeça, repetindo para você mesmo, fascinado? Aconteceu comigo faz uns dez dias, e até agora fico pensando na frase maravilhosa que escutei. Vou contar.
Aqui no prédio onde eu moro tem um daqueles mercadinhos de prédio, sabe? Uns produtos superfaturados, um caixa eletrônico para pagamento, tudo na base da confiança (e do “sorria, você está sendo filmado”, lógico). Nesse dia eu ia ao mercadinho comprar um refrigerante e de longe vi duas crianças lá dentro: uma menina de uns 10 anos, pagando no caixa, e um menino pequeno, talvez uns 4 anos de idade, de óculos, sacudindo uma garrafinha de H2OH. O menino também me viu e ficou me olhando fixamente. Assim que botei o pé no mercadinho, ele falou:
— Você viu o ôme que saiu sem pagar?
— Como é?!
— Saiu sem pagar! Pegou uma disso — apontou para um saco de batata Lay’s — e foi embora!
— Que absurdo!
— É!
— Que coisa feia!
— É!!!
— Eu vou pegar um desse aí igual o seu, mas eu vou pagar.
Peguei uma H2OH, decidi levar também um guaraná. Peguei a latinha e…
— Ué. Tá vazia — falei, meio pra mim mesmo.
— Vazia?! — disse o menino, a curiosidade transbordando na voz.
— Vazia! Ó.
Entreguei a lata pra ele.
— Tá vazia mesmo!
— Pois é! Mas tá fechada. Como será que esvaziou sem abrir?
— ÔTO MISTÉLIO!
A irmã, que já estava impaciente, chamou o moleque. Foram embora.
Faz dez dias que vez por outra eu me pego olhando pro vazio e dizendo: “ôto mistélio…“
E se eu voltar a escrever o “Eppur Si Muove”?
VOLTA NAZARENO