Assinado

A assinatura do meu pai era simples e elegante como ele: apenas as iniciais L e S, depois um floreio que dava uma volta por cima das letras e um pontinho pra arrematar. Quando criança, eu assistia fascinado o meu pai assinando documentos, cheques, o que fosse. Ele me explicava que a assinatura era uma marca única, que servia para confirmar que a pessoa concordava com o papel assinado, ou para autenticar a autoria. Coisa muito séria, a assinatura.

Ele me ensinou a assinar como ele, mas a minha assinatura não prestava. Eu tentava fazer o M e o A como os do meu pai, mas não tinha a desenvoltura dele com a mão. As letras saíam tortas, o floreio era troncho, o pontinho era um traço. Demorou muito tempo para eu ter uma caligrafia decente, e naquele ponto minha assinatura também já tinha virado outra.

Há muito tempo eu pensava em tatuar a assinatura do meu pai. Quando decidi viajar a Monte Santo, resolvi também aproveitar a oportunidade e fazer a tatuagem. Procurei tatuadores da cidade, gostei do trabalho do Fabrício, marquei com ele, fui, fiz.

Meu pai talvez não aprovasse isso. Ele não gostava de tatuagens, achava que era coisa de bandido. Para ser justo com ele: na periferia de São Paulo dos anos 1970 e 80, só bandido mesmo que tinha tatuagem. Aquelas tatuagens azuladas, feitas na cadeia com tinta de caneta Bic. É, definitivamente ele não ia aprovar. Paciência, ninguém mandou morrer. Tá aqui, Seu Lindauro. Sua obra mais torta, mais estranha, agora devidamente assinada.

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