Influenza

O que mata o velho não é a velhice, é a inveja da juventude. Eu achava isso quando jovem, e ainda mais agora, que estou ficando velho e preciso resistir à tentação de criticar tudo de que os jovens gostam. Lembro de quando eu era jovem e os mais velhos criticavam as músicas que eu ouvia (barulho!), os livros que eu lia (analfabetismo!), as roupas que eu usava (achavam que eu estava virando punk, mas era só desleixo, que mantenho até hoje).

Consigo com relativo sucesso não implicar com as coisas dos jovens: escutei quase uma música inteira da Billie Eilish, fiquei inscrito por mais de meia hora num canal de YouTuber famoso, fingi que um meme era engraçadíssimo. Mas tem um limite que não consigo ultrapassar: os influenciadores. Não entendo a relevância, não aceito o alcance, não admito o destaque que recebem. E o que é isso, se não inveja da juventude?

Então hoje eu decidi que vou dar uma chance a eles, mas eles têm que dar também uma chance a mim. Sou um velho tolerante, mas ainda preciso ver algum sentido nas coisas. Billie Eilish compõe com o irmão dela, produz as faixas, tem influência estética. Os youtubers produzem conteúdo, os memes são produto do zeitgeist. Mas e os influenciadores? O que fazem, além de receber e mostrar mercadorias? Quando foi que o ser humano começou a se contentar em ser vitrine? Eu, hein…

Demonstrem alguma utilidade, caros influencers! Minha sugestão: quando começarem a sair as primeiras tentativas de vacina para essa doença terrível, sejam pioneiros. Ofereçam-se para testar as vacinas.

Calma, não descartem a ideia sem ouvi-la inteira.

Cada influenciador receberia uma caixa bonitinha, forrada de veludo com uma camada intermediária de isopor. Dentro dela, as ampolas da vacina e uma linda seringa de vidro (é para uso individual, então não tem problema). Eles fariam vídeos mostrando esses recebidos tão valiosos, aplicando as vacinas, contando como tem sido a reação.

Depois de um tempo de testes, viriam os desafios: fazer live no pronto-socorro, beijar alguém que testou positivo para Covid-19, lamber um balaústre de ônibus. E aí veríamos qual vacina é mais eficaz.

Há vantagens e desvantagens nesse processo.

Os testes seriam transparentes, fáceis de acompanhar, os resultados sairiam mais rápido.

Alguns influenciadores morreriam.

Não consegui pensar em nenhuma desvantagem.

O que me dizem, influencers? Estão prontos a contribuir para a sociedade que os sustenta? Juro que dou like.

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