No começo deste ano, o Twitter suspendeu minha conta, @marcurelio. A conta tinha mais de 30 mil seguidores. Era importante para o meu trabalho: gente que queria me contratar podia entrar lá e ver o conteúdo que eu postava e decidir se eu servia para o trabalho. O número de seguidores também pesava, eu imagino: o cara entrava lá e pensava “é chato, é sem graça, mas pelo menos é influente”, e me contratava. Servia também como exercício de brevidade na escrita. Para quem vive de escrever, isso é ouro.
E aí o Twitter suspendeu essa conta. Sem aviso, sem motivo. Pedi informações e disseram que eu estava propagando discurso ameaçador ou violento. Bom, vocês me conhecem. Eu sou ranzinza, sou chato, mas violento não sou.
O negócio é que o Twitter suspendeu, e a suspensão é permanente. Criei outra conta, @chicoteiajesus (em homenagem ao meu velho blog), e vida que segue. Entrei com uma ação contra o Twitter no Juizado Especial Cível, pedindo o restabelecimento da conta e os motivos para a suspensão. Na audiência de conciliação, os advogados da empresa disseram que não podiam fazer nada, porque nem para eles o Twitter falava o motivo. Veio o julgamento, ganhei a causa, o Twitter recorreu, e agora é esperar.
(“Ah, mas é uma empresa privada, ela faz o que quiser”. Diga isso quando você tiver um problema com as Casas Bahia.)
No domingo, o Twitter suspendeu minha nova conta. Parece que tem uma regra que proíbe quem foi banido de voltar com outra conta. Recorri de novo e recebi essa resposta aí. A empresa me acusa de ter várias contas “com o propósito de propagação do ódio”.
Uma acusação séria dessas, bicho. Zero prova.
É meio que uma bênção disfarçada também, porque eu estava viciado no Twitter. Enquanto o caso não se desenrola na justiça, vou combatendo minhas crises de abstinência com a metadona do Facebook.
Peço a vocês que compartilhem este post. Vou ficar feliz se tiver mais gente com raiva do Twitter por aí.
Vai pro GAB!
os blogs tem que voltar
Poxa, sinto sua falta por lá.
Já que o processo ainda está em andamento, tinha que ver se não dava pra reforçar a punição com outra alegação do tipo reincidência ou afronta a justiça…
Sonhei você tinha uma beagle velho chamado Adolfo (de Adolfo Ritler) e eu queria trocar ele pelo seu Karmanghia azul-marinho. Era daqueles Azul-Marinhos bem abertos (falou o cara que sabe tudo de cor – nem azul deveria ser… pffff!). Mas você não queria fazer a troca por que o beagle tinha muitos problemas.
Lá pela década de 60, ele havia sido processado pela queda de um prédio de apartamentos. Era um prédio de gente rica, daquelas família de dois sobrenomes de novela, os Camargo Mariano e Albuquerque Menezes da vida. O prédio nem tinha caído de verdade: ele só tinha se inclinado lentamente como uma Torre de Piza e, lá pelos 45º ou 50º, quando a vida inclinada tornou-se insustentável, eles tiveram que sair humilhados do prédio e os pobres na rua viram e aplaudiram tudo. Uma vergonha…
Eles tentaram entrar na justiça, mas você foi o advogado de defesa do seu cachorro e dos seus patos. Sim, patos. Explico:
Parece que o prédio tombou por que, no subsolo, criou-se um bolsão de ar devido ao acúmulo de patos mortos que estavam lá. O Adolfo ficava robando os cotonetes sujos do banheiro, levava para o ninho dos patos, os patinhos comiam, engasgavam e morriam. História triste…
Na sua digressão (chama digressão aquela hora que o advogado fala diretamente para o juri no cinema, não chama? Chama não. Chama “Peroração”, mas “Digressão” é mais bonito e tem mais a ver) você apresentou um vídeo em super-oito do Adolfo, ainda fihote, roubando os cotonetes, cambaleando por uma trilha de terra até o ninho dos patos, o papai pato tentando tirar o Adolfo de lá, os filhotinhos de pato comendo os cotonetes sujos e o papai pato tirando os patinhos mortos do ninho. História triste…
Enquanto rodava o vídeo, você cantava, numa voz super grave, a lá 16 Toneladas, uma músiquinha mais ou menos assim:
Levava os palito de ouvido – Tchi Uón!
[era um “Uón!” muito grave, tipo sirene de navio: Uón!!]
Pá depois os pato tirar – Tchi Pá!
[era um “Pá” muito estridente, do tipo de “pá” de sonoplastia de tapa de filme dos trapalhões: Pá!]
Levava os palito de ouvido – Tchi Uón!
Pá depois os pato tirar – Tchi Pá!
Levava os palito de ouvido – Tchi Uón!
Pá depois os pato tirar – Tchi Pá!
Nesse contexto, “Palito de Ouvido” eram os cotonetes. Mas nem me importo muito com isto: diante de toda essa história, até que faz sentido…
No final, o seu argumento de que cachorros e patos não são seres-humanos e, portanto, não podem ser responsabilizados civilmente, ganhou e novamente os Camargo Mariano e os Albuquerque Menezes tiveram que se retirar humilhados diante dos aplausos dos pobres nas galerias.
Pensando agora no assunto, tanto o Adolfo quanto o Carmanguia Azul-Marinho eram seus. Não fazia nenhum sentido aceitar a troca mesmo. Eu estava tentando de enganar…
Mas a história era boa… Triste, mas boa.