Estou numa encruzilhada.
(Galinha preta é a puta que o pariu)
Estou numa encruzilhada. Pois vejam: antes eu trabalhava num negócio nada a ver, tecnologia e coisa e tal, e escrevia como passatempo. Primeiro em folhas de papel datilografadas, depois no Wordstar (não perguntem), depois em jornaizinhos impressos na firma e distribuídos entre os amigos, depois por e-mail. Comecei este blog, depois outro, depois fui convidado para outro.
Aí eu fiz 30 anos e tudo mudou. Eu queria mudar de vida e resolvi que escrever ia ser o meu trabalho. Virei jornalista de tecnologia, que era para escrever sobre um assunto que eu conhecia. Isso foi em 2005, e durante a maior parte desses últimos três anos eu dividi meu tempo entre gerenciar projetos de web, manter conteúdo online com base em press releases requentados e escrever uma coisinha ou outra.
No começo deste mês, aconteceu o que eu tanto procurava: comecei a trabalhar em um lugar onde o texto é valorizado acima de tudo, onde se discute o tempo todo o ato de escrever e livros sobre as técnicas do ofício circulam de mão em mão. Estou aprendendo muito, apesar de às vezes me sentir soterrado de informações.
Muito bem. Para quem escreve apenas como trabalho, é uma situação perfeita. Mas eu sou um sujeito esquisito. Meu trabalho é meu hobby. O problema é que escrever para uma revista de tecnologia é algo muito diferente de escrever um blog de sátira da Bíblia. O último capítulo ficou burocrático que só a porra, eu sei disso. Foi escrito enquanto eu pensava o tempo todo nas técnicas: usar verbos de ação, evitar a voz passiva, colocar ênfase no final das frases, complicação-crise-resolução, o diabo aquático. (Esse último período, por exemplo: comecei com “Foi escrito”, daí troquei por “Escrevi” para fugir da voz passiva, aí fiquei puto com minha subserviência às regras e voltei atrás).
Eu percebo que muitas das técnicas que estou conhecendo agora eu já aplicava sem perceber. Mas pergunte à centopéia como ela faz para andar com tantos pés, e é claro que ela tropeça — se é que centopéia entende o que a gente fala.
O negócio é que um monte de gente falou das deficiências desse último capítulo e eu me fiz de besta. Mas aí um amigo próximo comentou, e eu não tive mais como ignorar. Ele tem razão, vocês têm razão. Eu deveria escrever sem pensar nessas técnicas todas que estou aprendendo, mas não consigo. Talvez eu devesse separar trabalho de hobby, mas isso é muito difícil quando os dois são tão parecidos. No fim das contas, talvez ter decidido transformar meu hobby em trabalho tenha sido um erro. Mas eu vejo tanta gente por aí com empregos detestáveis, chega a ser um pecado reclamar de fazer o que gosto.
Maldita encruzilhada.
Não sei… talvez vc deva praticar a escrita “informal”. Tal qual vc fez escrevendo esse post, acho eu.
Ô minha centopéia… _o_
Eu não sou seu amigo, e nem sou alguém cujos conselhos sejam confiáveis, mas eu vou falar mesmo assim.
Eu leio teu blog com certa freqüência, e admiro o talento que você tem de prender a atenção do leitor. E esse talento é teu, se formou por tudo que você leu até hoje, invariavelmente copiamos estilos e misturamos tudo e sai isso: uma coisa nossa, algo que de tanta mistura, acaba única.
Às vezes, fica bom. Às vezes, fica uma merda. No teu caso, fica bom pra caralho. O último texto foi ‘inferior’ aos outros? Apesar de não gostar desse termo (acho que fica meio pesado), creio que tenha ficado. Você escreve muito bem – com ou sem regras. Mas sem regras VOCÊ é que realmente escreve, e aí sim você fica MUITO foda.
Abraço!
Eu acho que é algo natural, querendo ou não, esta tarefa que você se propôs é muito demorada, e inevitavelmente, durante os anos, a modo de vida vai refletir no que você escreve, você pode até tentar evitar, mas se você ler Gênesis agora, vai ver grandes diferenças. E é isso justamente que nos faz ficar fãs de alguma escritor (comigo é assim): acompanhar a sua evolução, mesmo que o próprio não a reconheça como tal.
Mas nunca tá contente mesmo.
Chega a ser um pecado ???
Pecado é ver o Marcurélio escrever que acredita em pecado.
Isso sim é pecado.
Aliás, o que entendes por pecados ? Se Ateu me parece ser ?
Escreva, mesmo no trabalho, pelo prazer. Depois, quando achar necessário, submeta o escrito às regras formais. Acho que é o melhor caminho…
MA, se existe um duelo entre a técnica e a “expressão”, isso é coisa que atormenta muito artista há bastante tempo. Eu fiquei feliz ao ler que você está aprendendo um pouco mais da técnica da profissão que você deciciu ser a sua e creio que o caminho certo é esse. Não culpe o aprendizado da técnica pela qualidade de seu último texto. Eu li o último capítulo e está bom, como tudo o que você escreve. Claro, houve capítulos geniais – Salomão que o diga – e esse está apenas bom. Afinal, você não queria que em tão pouco tempo, com dois ou três manuais, você tivesse um domínio invejável de técnica literária, não é? Só por obra de Javé.
Ainda assim, muitos “naïfs”, intuitivos, e pré-adultos vão dizer a você que a técnica só engessa a expressão, e vão citar exemplos de gente que rompeu a técnica para criar novas formas de expressão. Responda a si e a eles o mesmo que Picasso respondeu: “Para poder virar a mesa, é preciso saber servir a mesa.”
Essa encruzilhada é uma miragem. Ela vai desaparecer quando você não se sentir mais “soterrado de informações”. Pratique. Por ora, só posso lhe dizer duas coisas: você está misturando o momento de criar com o momento de editar; e você está me obrigando a escrever posts num blog, puta merda, só para manter motivado um sujeito talentoso.
ESCREVA DO JEITO FORMAL, ESCREVA DO JEITO INFORMAL, ESCREVE USANDO FORMOL, ESCREVA O DIABO A 4, mas escreva pq oque importa (ao menos pra min) não e como mas sim oque ! ! !
Adorei que alguem tenha se proposto a “chicotear” os personagens sagrados. Faço isso desde criança, mas só em pensamento, sabe? (familia evangelica traumatiza, se bem que eu tive minhas historias ‘ecumenicas’)
Cara, regra é uma coisa, estilo é outra. Você usa as regras quando não puder aplicar seu estilo.
Hehe. Muito bem. Vc entrou na mesma crise que nós. he he he
Beijos!!
orra, mas quanto guru tu foi arrumar, hein? alasério…
Meu mui caro Marcurelha… pensa comigo: neste momento você está saindo da adolescência literária e entrando para uma fase mais adulta, mais madura. Por enquanto você enxerga essas técnicas e percebe que as está usando, mas logo logo você voltará ao automático. É que nem trepar. Quanto mais você pratica, mais aprende e melhor fica. Será que trepar profissionalmente tira o tesão de uma bimbada por lazer? Sei lá…
Marco,
Deixa de veadagem… escreve e pronto.
E vai querer agora voltar pro teu emprego anterior? Quem acompanha teu blog lembra da lenga lenga daquela época… você reclamando o tempo todo do trampo e tal… relaxa, meu amigo, isso passa.
No meu entendimento você tem a grande oportunidade de trabalhar com o que gosta. É algo raro. Isso, no longo prazo, vai deixar teu hobby mais profissional, mais bonito, mais interessante. E vai também, sem dúvida, enriquecer teu trabalho. Afinal, quanto mais você escreve, melhor você escreve.
E não esquenta com as críticas… você sempre conviveu bem com elas, vai esquentar agora? Vai começar a dar atenção aos xiitas cristãos que vem falar bosta no blog?
Um []!
Ah, e na boa, muito engraçado teu blog com propaganda da “Associação apostolado do sagrado coração de Jesus”. Você tá tirando uma com o Google, ou com os caras, mesmo?
cara, isso melhora com o tempo!
aos poucos vc vai conseguindo dissociar!
Legal, todo mundo falou ou como se você estivesse de cu doce (“escreve mal nada, menino, você é um mestre”) ou como se você estivesse começando agora (“pratica, quando você tiver alguns anos de prática vai ficar bom, você vai ver”).
Bom, eu não sei como te tratar, acho isso problema da esposa, não meu.
A história da qualidade dessa sátira é velha, vejo gente reclamar que a seu talento vem diminuindo desde que Moisés morreu.
Desencana. Se seu talento está realmente decaindo, em pouco tempo você vai estar escrevendo tão mal quanto o Paulo Coelho, seus leitores vão aumentar exponencialmente e você vai ficar muito, muito rico. Um texto ruim e uma idéia chulé funcionaram pro Dan Brown…
No primeiro ano da faculdade, eu tive um professor que circulava palavras repetidas no meu texto e ligava-as com uma linha. Se elas estivessem a menos de 4 linhas de distância ele rabiscava tudo de vermelho e descontava nota. Parecia que eu estava no pré e não numa universidade federal. Resultado: me traumatizou. Eu não repito palavras, fico feito louca tentando procurar sinônimos. Uma merda. Guto, o nome dele. Vou odiar pra sempre.
rapaz, se tu soubesse a sorte que tem!
Eu assino seu blog pelo feed e vi um post onde você, com um texto quase de evangélico, anunciou o fim do blog.
Entro aqui e não encontro o tal post.
Que susto!