Enchendo lingüiça com sonhos

Contar sonho vale? Então tá. Dois sonhos irmãos.
O primeiro já faz tempo. Sonhei que eu e uma amiga estávamos vendo um filme do Quentin Tarantino. Os atores eram Harvey Keitel e Brad Pitt. O Keitel pegou um martelo e bateu de brincadeira na cabeça do Brad Pitt. Os dois riram, e o bonitão pegou o martelo. Ainda rindo, bateu com muita força na cabeça do Harvey Keitel. Enquanto este demonstrava sua surpresa, o galã começou a martelar-lhe o crânio e a face, enquanto berrava:
— ISSO É POR TER MATADO MINHA MÃE! ISSO É POR TER ALEIJADO MEU IRMÃO! ISSO É POR TER FALIDO MEU PAI!
E continuou batendo e enumerando suas razões. Quando a cabeça do pobre já havia se tornado uma maçaroca de sangue, ossos e miolos (com dentes encravados na testa, detalhe muito interessante), o Brad Pitt parou. E então, soerguendo com muito esforço a massa disforme que tinha por cabeça, o martelado grunhiu:
— Como é? Não entendi nada…
— ISSO É POR TER MATADO MINHA MÃE! — e PÁ! — ISSO É POR TER ALEIJADO MEU IRMÃO! — e PUM!.
Fadeout. Eu e a amiga achamos a cena um tanto exagerada.
No outro sonho, que foi há algumas semanas, eu havia comprado a caixa de DVDs da novela Senhora do Destino, e estava muito feliz com minha aquisição. Era uma caixa imensa, com uns quarenta DVDs, e ocupava o lugar de honra na estante, ao lado da caixa do Monty Python. No sonho eu era um ardoroso fã da novela, como se nota. Isso pode soar estranho, mas a novela também não era lá muito ortodoxa. Só me lembro de uma das cenas, mas eu assistiria a qualquer folhetim que tivesse algo assim.
A cena começava com o José Wilker andando na calçada. Bem, não exatamente. Primeiro, não era bem o José Wilker: era uma mistura dele com o Ney Latorraca. Segundo que ele não andava normalmente: mancava muito (usava bengala), e rosnava com a cara mais assustadora. Pois vinha mancando e rosnando pela rua. Ao chegar a uma loja parou, leu a tabuleta e entrou. A porta se fechou atrás dele, e o letreiro apareceu na tela: Casa Funerária.
Dentro da casa funerária, sentado atrás de uma mesa, estava o atendente. Era o Evandro Mesquita. Atrás dele, encostadas à parede, estavam duas muletas. Havia caixões de todos os tamanhos, cores e modelos espalhados pelo recinto: apoiados em suportes, em pé contra as paredes, dependurados do teto. Ao ver o Wilker/Latorraca entrar, o ex-Blitz caprichou no sorriso e:
— Bom dia, senhor.
O rabugento manquitola nem se preocupou em responder: apenas arregaçou a calça e arrancou a perna direita. Calma, calma, era uma perna mecânica. Agarrou a perna com as duas mãos e começou a bater com ela no atendente:
— TOMA, FILHO DA PUTA! TOMA, FILHO DA PUTA!
De tanto apanhar, o coitado caiu da cadeira. Não tinha as duas pernas, e gritava para seu atacante:
— PÁRA! PÁRA! NÃO VÊ QUE EU SOU ALEIJADO?
— EU TAMBÉM, PORRA! — E tome-lhe pernada.
Quando tudo parecia perdido para o Evandro Mesquita, ele conseguiu alcançar uma de suas muletas. Empunhando-a como uma lança, jogou-a contra o peito do José Wilker/Ney Latorraca/Roberto Carlos. A muleta trespassou-lhe o tórax, e o agressor caiu sobre um dos caixões. O outro conseguiu levantar-se apoiando no esquife, e viu que seu algoz jazia morto. Olhou em volta e pensou em voz alta:
— Acho que ninguém vai perceber.
Arrancou sua muleta do peito do defunto, e voltou a sentar-se atrás da mesa.
Às vezes eu tenho medo desses sonhos.

33 comments

  1. tem gente que vai achar que isso tudo é culpa da maconha aqui do rio.
    ainda bem que você avisou que sonhou há algum tempo.
    agora é só esperar o que os sonhólogos de plantão vão dizer…

  2. Marco…
    Esta noite sonhei que nadava num lago ao lado do Chico Bento e seu inseparável comparsa Zé Lélé. Achei que era o sonho mais bizarro que alguém poderia ter, e até pensei em descrever. Mas, ao ler estes seus, acho que minha descrição onírica seria uma chatice! rs

  3. Opa, Deus te ouça, Renato. E que alguém se lembre de pôr esse livro na cabeceira do leito divino. Um dos anjinhos, quem sabe. Todos tão eficientes e alados.
    Nhãããããim…

  4. Ainda bem meu Deus que não sou a única a ter sonhos estranhos.
    Dia desses eu sonhei q colhia um ovo cozido de um pé de acerolas gigantes. E que ficava feliz da vida dizendo pra minha irmã:
    -Jamile, Jamile! Achei um ovo cozido!!! Nunca tinha achado!!!Só achava cru!!! Um ovo cozidoooo!!!
    E Jamile ficava chorando e se lamentando:
    Eu só acho cru!!!Buáaaaa!!!!
    Na Páscoa eu não ganhei ovo nenhum. De chocolate rapazes, ovo de chocolate. O que eu sonhei? O que eu sonhei? Que comia absorvente e que o mesmo era como se fosse chocolate. E era normal as mulheres levarem na bolsa dois: um pra usar, um pra comer. Mas só o faziam quem era rica pois era muito caro. E eu sonhei q comia escondido pra minha mãe não ver.
    Acordei e quase engasgo de tanto rir.Quando contei p minha mãe ela disse:
    ” Não conta isso p ninguém menina, vão pensar q tu é doida.”

  5. Tá, tá… Seus sonhos não são dos melhores, mas os meus tbm não ficam muito atrás.
    O que me diz de um cara que sonhou que a Gwyneth Paltrow me dispensa dizendo ser lésbica (e não era apenas desculpa… me dou mal até em sonhos, humpf), tive disputas religiosas em latim e hebraico com padres corruptos, sonhei com uma fazenda de pessoas em minuatura (que vinham em saquinhos de semente), panelas besuntadas em óleo me perseguindo, manjudas gigantes devoradoras de pessoas fritas, e o pior: sonhei com esse doido do Marco Aurélio… E eu nem sei se ele tem cachorro, hahaha. Vejam o texto na íntegra. E sim, é tudo verdade!!!
    E eu tenho medo mesmo dos meus sonhos…
    T+

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