A guerra contra os amalequitas e a rejeição de Saul

(I Samuel 15)
Javé ficou só olhando enquanto Saul montava e treinava seu exército. Quando viu que já estava bom, mandou Samuel ir falar com o rei.
— Saul, tenho um recado de Javé para você.
— Opa. Pode dizer.
— Ele ordena que você ataque os amalequitas, e não deixe nada vivo por lá. Homens, mulheres, crianças, bois, jumentos, camelos, ovelhas: não tenha dó, mate tudo o que respirar.
— Mas… Samuel, com todo o devido respeito a Javé, os amalequitas não nos fizeram nada!
— NÃO FIZERAM NADA??? Eles atrapalharam a vida de Israel quando o povo saiu do Egito!
— Isso foi no tempo do onça!
— Não importa, Saul: Javé não esquece essas coisas. E a ordem dele foi clara: vá até lá e não deixe nada vivo.
— Bom. Se é uma ordem divina, como é que eu vou discutir, né?
— Ainda bem que você sabe.
Não tinha mesmo o que discutir, então Saul convocou seu exército e fez uma contagem de seu efetivo. Contra os filisteus ele conseguira reunir três mil homens, dos quais 2.400, mal equipados e indisciplinados, desertaram. Dessa vez ele tinha sob seu comando 210 mil homens, todos fiéis ao seu rei. Seria fácil.
O exército israelita marchou na direção de Amaleque, e se escondeu no leito de um rio. Saul mandou um recado aos queneus que moravam na cidade:

Queneus,
Saiam da cidade, porque hoje o bicho vai pegar. Como vocês são gente fina, e ajudaram os israelitas na época do Êxodo, resolvi avisá-los do ataque que faremos ainda hoje.
Atenciosamente,
Saul
Rei de Israel

Tão logo os queneus saíram da cidade, Saul entrou nela com seu exército. Primeiro derrotou-os em Amaleque, a capital, e continuou sua campanha desde Havilá até Sur, que ficava a leste do Egito. Tomou o rei Agague como prisioneiro, e matou todo o povo. Vitoriosos, os israelitas voltaram para casa, exibindo como troféus o rei Agague e os melhores animais do gado amalequita.
Naquela mesma noite, enquanto Saul e todo o povo festejavam a vitória na rua, Javé foi falar com Samuel:
— Porra, Samuel. Preciso conversar com você.
— Pode dizer, Javé.
— Tô arrependido de ter escolhido Saul como rei. Me baseei só em aparências, e agora olha só o que aconteceu.
— O que aconteceu?
— ORAS, O QUE ACONTECEU! O CARA NUNCA ME OBEDECE!
— Ah.
— Ele não vai mais ser rei de Israel.
— Pô, Javé. Também não é pra tanto.
— Ué. Tá defendendo o cara agora?
— Ah, sei lá. Com o tempo eu fui simpatizando com ele.
— Pois isso não me interessa. Por mim vocês podem até se casar. Mas rei do meu povo é que ele não vai ser mais.
— Ah, Javé…
— Não torra, Samuel. Já decidi.
— Pensa bem, Javé…
— Hmmmmmm… Nah.
E assim passaram a noite toda, Samuel tentando demover Javé da idéia de destituir Saul, e Javé mantendo-se irredutível. Na manhã seguinte, sem ter dormido, Samuel saiu para procurar Saul. Ficou sabendo que ele tinha ido até a cidade de Carmelo para inaugurar um monumento em honra de si mesmo, e que depois fôra para Gilgal. Para lá foi Samuel, e encontrou o rei que, como sempre, veio cumprimentá-lo efusivamente:
— Samuel, bons olhos o vejam! Já está sabendo do que aconteceu?
— O quê?
— Oras, não se faça de bobo! Derrotamos os amalequitas, Samuel! Cumpri as ordens de Javé, e derrotamos os amalequitas!
— Você cumpriu mesmo as ordens de Javé?
— Ué. Claro que cumpri!
— Então por que é que eu estou ouvindo balido de ovelhas, mugido de vacas, zurrar de jumentos e… E… E aquele barulho que os camelos fazem?
— Er… Tá ouvindo, é? Não tô ouvindo nada. Que estranho, hein?
— NÃO DESCONVERSE!
— Tá bom, tá bom. O negócio é que os meus soldados tomaram dos amalequitas os melhores animais.
— MAS A ORDEM NÃO ERA DE MATAR TUDO?
— C-claro, claro! Mas é que… É que nós pegamos esse gado aí para oferecer como sacrifício a Javé. Olha que legal! Mas o resto nós destruímos tudo mesmo. Esses aí também, só que não foi na mesma hora, percebe? Trouxemos para cá, e agora vamos oferecer tudo como sac…
— CALABOCA! Deixa eu te contar o que Javé me disse na noite passada.
— Hum. Fala.
— Ele disse que você não era nada, e ele o fez rei de Israel. Ele o ungiu como rei de seu povo, e confiou em você. E deu a ordem de destruir os amalequitas e seus animais. Então por que é que você não obedeceu? Por que cresceu os olhos pra cima do gado deles?
— Mas eu obedeci! Fui até lá, matei todo o povo e trouxe o rei deles como prisioneiro. Esses bichos que trouxemos para cá são um sacrifício. Um sacrifício, já disse!
— O que você acha que Deus prefere, Saul? Obediência ou sacrifícios?
— …
— É melhor obedecer a ele do que oferecer-lhe sacrifícios. A revolta contra Javé e o orgulho são pecados tão graves quanto a feitiçaria ou a idolatria.
— Pô, Samuel. Pega leve.
— Eu tenho nada com isso, é Javé quem diz. E ele diz também que já o rejeitou como rei, porque você rejeitou as ordens dele.
— É. Eu desobedeci às ordens de Javé.
— Finalmente admite!
— Mas é que eu fiquei com medo do povo e fiz o que eles queriam!
— Ah! Então agora a culpa é do povo?
— Não, não. A culpa é minha. Mas, Samuel, agora eu preciso de você como nunca precisei antes. Por favor, perdoe o meu erro, e volte comigo para adorarmos a Javé.
— Eu não posso ir com você, Saul. Você rejeitou as ordens de Javé, e por isso ele o rejeitou como…
— … Rei de Israel. Tô sabendo, tô sabendo. Mas custa nada!
Samuel, porém, já fazia menção de retirar-se. Então Saul o segurou pela capa, que se rasgou.
— OLHA AÍ A MERDA QUE VOCÊ FEZ! RASGOU MINHA CAPA!
— Ô. Foi mal.
— FOI MAL O CARALHO! Agora Javé vai rasgar o reino de Israel das suas mãos, e entregá-lo a outro melhor do que você. SEU PUTO!
— Ô PORRA! Eu sei que fiz cagada, mas você tem que me respeitar na frente dos líderes e do povo de Israel, pelo menos isso. Volte comigo, para que eu possa adorar a Javé.
Samuel viu o brilho de ódio nos olhos de Saul, e resolveu acompanhá-lo. Saul era grande e assustador, enquanto Samuel era apenas peludo. Brigar com o rei seria loucura. Foram, pois, até Gilgal. Lá, Samuel ordenou que lhe trouxessem Agague. Ao ver que era chamado à presença do rei de Israel e da segunda maior autoridade do país, Agague achou que seria poupado. Mesmo tremendo de medo, disse:
— Ah. Então a amargura da morte já passou.
— É o que você pensa, Agague — respondeu Samuel. — Assim como muitas mães ficaram sem seus filhos por sua causa, hoje é o dia de Dona Agaga ficar desfilhada.
— Mas o nome da minha mãe não é Ag…
Agague não teve tempo de terminar: Samuel o matou e depois despedaçou o corpo, em frente ao altar. O povo aplaudiu, Saul achou muito bom, só Samuel ficou desgostoso. Voltou para Ramá, enquanto Saul foi para sua casa em Gibeá. Nunca mais tornaram a se ver, porque Samuel ficou com muita pena de Saul. Achava que Javé se precipitara, dando uma sentença muito grave para pouca coisa. Rever Saul seria constrangedor, porém, então ele o evitava. Mas era melhor não discutir porque podia muito bem ser que Javé ainda tivesse outras missões para ele.

12 comments

  1. Muito bom. Tendo sido criado numa família evangélica e ouvido essas histórias incontáveis vezes, é impossível não rir 😉
    Um dia ainda perco a preguiça e leio os outros…

  2. Taí, gostei do capítulo de hoje, tá vendo como foi bom reclamar da falta de atividade literária? Quanto às suas contas, só Javé poderá te ajudar.

  3. Engraçado né?! Sempre que eu lia essa passagem ficava com a mesma questã na caxola: pq, mesmo pra oferecer sacrifíos, Deus não gostou da atitude de Saul…
    E hj li uma coisa que acho que esclareceu: Deus quer obediência, não sacrifío
    Vou tomar isso como lição de vida! Eu nunca havia pensado nisso… Verdade! Agora eu consegui entender um montão de outras coisas que acontecem na Bíblia…
    Thanks, Marco!!! Kiss….
    =D

  4. Essa da lição acima foi massa, sua vocação para Pastor não te deixa, Marco. Imagina que legal deve ser ficar discutindo com Deus a noite toda, tentando fazê-Lo mudar de opinião!!

  5. Um dos melhores capitulos desde A Circuncisão em Gilgal !
    Muito bom mesmo !
    É dificil fazer isso que você faz com os textos, sem perder o contexto teológico; você viu o comentário da Florzinha ?
    Fique bem !

  6. Cara, muito maneira a sua leitura da Bíblia. Achei muito interessante e járecomendei pra um monte de amigos meus.
    continua que tá legal !!

  7. Hahahaha!!! É a primeira vez que visito seu blog e realmente preciso recomendar ele para meus amigos pagãos hahahaha! IHVH é um deus cheio de ciuminho e picuinhas, não suporto essa atitude “dá com uma mão tira com a outra”. Ouvi gente comentando que vc anda com Satanas hahahaha.. manda estes cristãos lerem o apocalipse para entenderem que eles não vão para o céu, pois não são de ventre judeu (só as 13 tribos vão). Outra coisa Satanas significa “observador”, este tipo de anjo é o responsável por acusar os outros na frente de IHVH e fazer o cara tirar dos seus seguidores tudo o que eles tem, como fez com Jó, só para ter certeza que a galera curte ele mesmo.. mimado da porra… hahahaha. Eu fazia sempre este papel de explicar estas porcarias aos outros, sabe estilo “o deus hebreu fez isso, o deus hebreu fez aquilo”, pois os católicos etc nunca leêm nada e não suporto a falta de cultura, mas agora encontrei um cara que entende tb e posso recomendar.. é isso ai.. continue o excelente trabalho

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