— Pois então, meus filhos, é isso aí.
— A-acabou, Ja-Javé?
— Quase. Só falta uma coisinha… Esse negócio todo que eu falei pra vocês precisa de infraestrutura. E pra termos infraestrutura, precisamos de dinheiro. Então pra encerrar de vez, vamos ver aqui um jeito desse negócio de Tabernáculo, sacrifícios, leis e o diabo a quatro dar dinheiro. Hum… Por exemplo, as pessoas podem se dedicar ao serviço do Tabernáculo. E quem fizer esse tipo de compromisso, além de trabalhar de graça, vai ter que pagar pra se libertar.
— Bah, Javé! Quem é que vai entrar numa fria dessa?
— Vai por mim, Arão. É só dizer que é um negócio sagrado, que á para o serviço de deus; insinuar que isso trará recompensas na outra vida, e pronto: Vai fazer fila de neguinho aí na porta do Tabernáculo, todo mundo doido pra se dedicar a deus.
— Hum… Mas e aí, suponha que o cara resolva que não quer mais? Vai ter que pagar quanto?
— Boa pergunta. Bora fazer uma tabela, peraí. Hum… Hum… Pronto, taí:
— O q-que s-são e-esses n-números?
— Moedas de prata. Por exemplo, se um cara de 25 anos se dedicar ao trabalho do Tabernáculo e depois perceber que é roubada, só poderá sair pagando 50 moedas de prata.
— Mas Javé… Isso aí dá mais de meio quilo de prata. É uma boa grana.
— A idéia é essa, Arão. Precisamos de dinheiro. Se o cara não tiver essa prata toda, podemos até quebrar um galho: Ele vai, bate um papo com o sacerdote, e aí os dois acertam um preço que o cara possa pagar. Mas de graça é que não vai sair.
— Saquei. Então vai ser essa nossa fonte de receita?
— Sim, mas não a única! Tô bolando outras coisas aqui. Olha só: Se alguém prometer um animal que pode ser oferecido em sacrifício, o bicho passa a ser considerado sagrado. A partir do oferecimento, não poderá ser trocado por outro melhor ou pior. Se o cara quiser dar uma de espertinho e trocar, os dois animais passam a ser dedicados a mim.
— B-boa e-essa…
— Eu sou foda, Moisés. Mas continuando: Se o animal que o cara for oferecer for impuro, então levará o bicho ao sacerdote, que avaliará o preço de acordo com sua condição. Se o dono quiser comprar o bicho de volta, deverá pagar esse preço mais vinte por cento.
— Pô, mas pra que a gente vai querer um animal impuro, que não se pode oferecer em sacrifício nem comer?
— Oras, o quê! Vender para os estrangeiros! Ganhar dinheiro!
— Espertinho você…
— Espertinho é porra nenhuma, eu sou é deus! E vamos em frente: Se um fulano aí resolver que quer dedicar sua casa a mim, o sacerdote fará a avaliação da casa e pagará o preço. Se o cara quiser a casa de volta, pagará este preço acrescido de vinte por cento.
— T-taxa p-pesada, hein?
— Claro, Moisés! Senão fica fácil! E olha que ainda tem mais: Se alguém quiser oferecer um terreno que recebeu de herança, o sacerdote avaliará a terra de acordo com a quantidade de sementes necessárias para semeá-la. O valor será de 570 gramas de prata para cada cem quilos de cevada.
— Pô, então vai dar pra ganhar uma grana com isso aí.
— Nem sempre, porque esse será o preço máximo possível. Porque preço final será calculado de acordo com o tempo que falta para o próximo Jubileu, percebe?
— Ah, faz sentido.
— Pois é. E aí se o cara quiser o terreno de volta, a mesma pataquada de sempre: o preço mais vinte por cento.
— M-mas aí no p-próximo Ju-Jubileu o t-terreno v-volta pro do-dono, n-né?
— Claro que não! Só me faltava essa… No Jubileu o terreno passa a ser definitivamente dos sacerdotes. Precisamos de patrimônio, Moisés! O cara só vai ter direito ao terreno no Jubileu no seguinte caso: Ele oferece a terra ao sacerdote, e paga o preço estipulado.
— Peraí! O cara vai pagar para dar o terreno pra gente???
— Não, oras! Vai pagar pelo direito de ter o terreno de volta no próximo Jubileu.
— Que sacanagem…
— Ixe, cê ainda não viu nada… Vamos continuar. Bom, a primeira cria dos animais não poderá ser oferecida a mim porque, como vocês sabem, já é minha segundo a lei. A não ser, é claro, no caso da primeira cria de animais impuros. Com essas a gente até faz negócio.
— Zóio de lula, hein, Javé?
— Porra, Arão, tô ajudando vocês! Sacerdote vai ter a vida mansa com essas leis aí. Ainda mais que a gente vai cercar essas coisas dedicadas a mim de uma aura sagrada e coisa e tal. Nego vai respeitar muito isso aí, e vocês vão ficar numa boa. E ainda tem o dízimo…
— T-tava de-demorando…
— Ô, Moisés, não tem coisa mais eficiente pra se ganhar dinheiro do que o dízimo! É proporcional, todo mundo pode dar, uma beleza! Dez por cento de todas as colheitas e de todos os rebanhos serão dedicados a mim. Ou seja, vai pros cofres do Tabernáculo. Putz, essa religião nova aí vai ser um sucesso, cês vão ver!
— Se-será m-mesmo?
— Pode acreditar, Moisés! E se alguma coisa der errado, eu mando meu fi…
— M-manda q-quem?
— Er… Meu fi… Meu fisioterapeuta, já falei dele. Oras. Bom, acho que podemos parar por aqui. Muito obrigado a vocês, viu? Me ajudaram bastante.
— Bom, então quer dizer que acabou?
— Acabou nada! Cês podem tirar umas férias, descansar um pouco. Mas ainda tenho muito o que falar com vocês.
— Quando?
— Pode deixar que eu telefono.
Tabela legal. Na época não tinha excell, né? Deve ser uma relíquia da época… vai ficar rico assim.
Romeu, meu belo! Tu também andas por este blog de sacrilégio e pecados? Que delícia!
Marco, falando em fisioterapeuta de deus, você já leu o livro “Fantoches de Deus”?
E “Personal Trainer de Deus”.. Vocês já viram esse filme? É com a Sylvia Saint…
O que vem depois? Você vai continuar?