Terça-feira, depois de meu contato altamente enriquecedor com o Moretti e antes de assistir Cidade de Deus pela terceira vez, fui ao McDonald’s da Avenida Ipiranga. Bom, acho que vocês sabem que está rolando uma promoção de bichinhos de pelúcia na rede de lanchonetes. Graças a esses tatus, capivaras, araras e micos-leões, as filas são gigantescas e homens de bem, como eu, que só querem comer um franguinho empanado e um guaraná diet, acabam quase perdendo a sessão de cinema.
Mas divago. Uma mulher que estava na minha frente não parava de reclamar da lentidão do atendimento, aquela chatice. Queria que chegasse logo a vez dela para pegar um bicho daqueles. E dizia com orgulho à amiga que não come nada do McDonald’s, mas ia comprar um lanche só por causa da capivara de pelúcia. Isso é que é inteligência, meus amigos. Não tive tempo de me irritar com ela, mesmo porque havia entabulado uma conversa bastante interessante com uma morena de olhos verdes, cujo namorado, descobri depois, estava esperando numa mesa logo ali, confortavelmente sentado enquanto sua namorada passava todo aquele tempo em pé na fila. Vejam que cavalheirismo! Eu se fosse namorada de um cara assim, sairia por aí dando bola pra qualquer neguinho gordo e careca que me aparecesse.
Olha aí eu divagando de novo. Voltemos, porque chegou, finalmente, a vez da mulher. Já exasperada, em vez de pedir o lanche, falou com voz firme e autoritária para o atendente:
— Eu quero uma capivara.
Silêncio. Este que vos fala, que pode até apanhar mas não perde uma piada, tratou logo de arrematar:
— Aê, Eddie Murphy — o atendente parecia mesmo o Eddie Murphy —, faz aí um cheese-capivara pra senhora, rapaz!
Aí vocês podem imaginar: lanchonete lotada, dezenas de pessoas rindo e a pobre mulher, toda vermelha, procurando um lugar pra se esconder.
Ai, como eu sou cruel e desalmado…