Depois de pegarem a Arca em Ebenézer, os filisteus a levaram até a cidade de Asdode e a colocaram no templo, perto da imagem do deus Dagom. Com isso, pensavam trazer o deus israelita como oferta ao deus filisteu. Javé, porém, vivia dias de moleque, pregando peças e aplicando trotes. Foi com surpresa, então, que no dia seguinte os filisteus viram a imagem de Dagom caída de cara no chão, prostrada diante da Arca. Os sacerdotes a endireitaram novamente e não deram grande importância ao episódio. Na manhã seguinte, porém, a imagem estava prostrada novamente, e dessa vez sem os braços e sem a cabeça, que estavam caídos na soleira da porta. Os filisteus começaram a considerar a hipótese de que talvez não tivesse sido uma boa idéia mexer com o deus maluco de Israel. Supersticiosos, não quiseram entrar no lugar onde ficava a imagem de Dagom, e o lugar foi tabu por séculos.
Mas eu dizia que Javé andava brincalhão por aqueles dias. Pois é. Sua brincadeira seguinte foi mandar uma praga de hemorróidas contra todos os moradores de Asdode e vizinhanças. Sob um castigo tão doloroso quanto constrangedor, o povo começou a chiar:
— Ninguém mandou a gente mexer com os israelitas. Aquele povo é esquisito, todo mundo sabe. E agora o deus deles castigou ao nosso deus, e está castigando a nós.
A indignação começou a aumentar, até que alguém resolveu mandar mensageiros aos cinco governadores filisteus para uma reunião urgente. Os governadores de Gaza, Asquelom, Gate e Ecrom vieram e foram recebidos pelo governador de Asdode em seu gabinete. Os quatro sentaram-se em volta da mesa.
— Vossa Excelência não vai se assentar?
— Vossas Excelências hão de compreender que na minha situação…
— Qual situação?
— Então não sabem?
— A mensagem só dizia para virmos aqui para discutirmos algum problema a respeito de Israel.
— Ah. Então. Nós conseguimos pegar a Arca sagrada lá deles, como os senhores bem sabem. Mas aí coisas estranhas começaram a acontecer…
— É, fiquei sabendo do que ocorreu no templo. Lamentável.
— E isso nem foi o pior!
— Não?
— Não. Parece que o deus deles mandou um castigo contra nós.
— Castigo? Que castigo?
— Er… Hemorróidas.
— Perdão?
— Hemorróidas. HEMORRÓIDAS! Todo o povo de Asdode foi acometido por hemorróidas.
— HAHAHAHAHAHAHAHAHA!
— NÃO RIAM! ISSO É MUITO SÉRIO!
— Claro, claro. Não podemos admitir que um deus estrangeiro castigue toda uma cidade da Filistia com… Com… PFFFFFFFFFFHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
— Oras, cale-se.
— Mantenha o senso de humor, Excelência. Então o problema é a presença do tal baú de Javé? Pois podem mandar o baú lá para Gate.
— Olha…
— Podem mandar, eu garanto.
No mesmo dia, então, a Arca foi transportada para a cidade de Gate. As notícias de Asdode chegaram antes, porém, e o objeto sagrado israelita foi recebido com temor. No dia seguinte, todos os habitantes acordaram com uma leve coceira em certa parte do corpo — não digo que foi no cu para não ser grosseiro. A coceira foi piorando, e todos já sabiam: a praga das hemorróidas chegara a Gate. Enviaram a Arca para a cidade de Ecrom, e a praga repetiu-se com maior intensidade. Mais uma vez mensageiros foram enviados aos governadores, e agora com uma mensagem bem clara: o povo exigia que a Arca fosse mandada de volta a Israel. Não era para menos: a praga foi muito mais forte Ecrom do que em em Gate ou Asdode, e algumas pessoas morreram. Morrer de hemorróidas, vocês hão de concordar, é algo bem vergonhoso. Por toda a cidade ouviam-se altos gritos de dor, que chegavam até o céu. E, lá do céu, Javé ouvia com prazer os gritos de dor. E ria.
A Edição Contemporânea da mesma tradução suaviza os termos:
Enquanto a Tradução na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil, é mais eufemística ainda:
Pois bem: eu pensava que as traduções mais modernas da Bíblia foram atingidas por uma praga bem pior que hemorróidas: o tal do politicamente correto. Não parecia adequado falar em hemorróidas, então trocaram por tumores e pronto. Porém, pesquisando um pouco, descobri um artigo do Dr. Jairo Bueno, publicado no site da Sociedade Brasileira de Clínica Médica do Rio Grande do Sul. O Dr. Jairo diz que o que ocorreu de verdade nas cidades da Filistia foi um surto de peste bubônica, e explica:
A explicação me convenceu, mesmo porque no capítulo seguinte fala-se em ratos, que não haviam sido mencionados ainda. Se levarmos em conta a associação entre esses roedores e a peste bubônica, fica claro que a possibilidade de tratar-se de inflamações e não de hemorróidas é bem mais lógica.
Mas é claro que eu não ia perder a oportunidade de fazer minhas piadinhas, por isso mantive as hemorróidas. Não em mim, credo!
Xiiiii, devem ter vendido daquelas almofadas com um buraco no meio a rodo!!!
Heeheehee
T+
Filisteus com hemorróidas? hauhauhauahuahuahauhu Javé é foda (com todo o respeito)!
Como boa filha de alemão, cito a já velha piada, como vc diria, Maco…
asaftasardemdoem, hemorroidasidem.
*
Tá. Não funciona por escrito.
Xapralá.
Putz, esse captulo foi bem legal.
Legal mesmo.
bom o text, parabens
Javé é criativo pra caralho, né? Lembra as pragas do Egito? Podia ter desencavado uma delas e mandado de novo, aproveitando o código já escrito (e funcionando!) e só trocando o destinatário. Mas não! Cada castigo é um castigo novo. Sabe aquela sensação de usar uma calcinha que acabou de tirar da gaveta? Nem eu.
Fritz estava na praia,
Estava comendo caju.
Os peixes falaram pra ele:
“Enfia o caroço no cu”.
Nada a ver.
Hemorróidas devem doer mesmo, viu!
Alguém aí tem experiências pra nos contar?
Caramba, cara, nunca ri tanto na minha vida… Pelo amor de Javé, meu, pode continuar trabalhando com as redes mesmo, tu não deve se estressar fácil. E, além do mais, vc correria o risco de ser agredido na rua por algum fanático religioso… haha Eu não escrevo com tanto humor, mas só de rir lendo os textos dos outros eu já fico feliz e esqueço os paus que rolam na minha rede… hehe
Marco, dessa vez só a frase “a praga foi muito mais forte Ecrom do que em..” está errada, faltou um “em”. Do resto, ótimo capítulo.
Essa passagem com hemorróidas ficou bem mais legal do que ficaria com peste bubônica. Ficou muito boa!
Eu ja lí essa passagem várias vezes e também via os tais tumores como peste bubônica, e naquela época também tudo era praga divina, não importando se não tinha saneamento básico ou vacinas, tudo era deus e pronto.
Aina bem que eu n vivi naquela epoca
Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom esse capítulo!!!!!!! ri muuuuuito!!!!!!!
Bjão!