(I Reis 21)
Ocupar o lugar de honra num banquete é uma deferência de grande significado. Você tem a atenção de todos, tem a melhor comida, o melhor vinho, e é servido antes de todos. Nisso pensava Nabote, bom israelita, agricultor e comerciante. Era fácil entender o papel de quem ocupa o assento principal numa grande festa. Mas o que dizer do conviva principal de um jejum? Era o primeiro a não ser servido? Recebia as melhores porções de uma comida inexistente. Sim, porque Nabote era agora o centro das atenções de uma grande quantidade de pessoas, todas elas reunidas para o jejum convocado pelo rei Acabe. Todas elas estavam desconfortáveis com esse bizarro jejum público, mas nenhuma delas tanto quanto Nabote. Quanto mais ele pensava, mais acreditava que o convite tinha algo a ver com sua recusa em fechar um negócio com o rei.
Estava certo em sua suposição. Como vimos no final do capítulo anterior, o rei andava cada vez mais birrento, e qualquer contrariedade seria capaz de levá-lo a fazer alguma bobagem. Acontece que Nabote possuía uma plantação de uvas que ficava ao lado de um palácio que o rei possuía em Jezreel. Sem ter mais o que fazer o dia todo — decisões importantes eram tomadas por Jezabel, fosse como fosse — Acabe achou por bem propor um negócio ao proprietário da vinha.
— Essa plantação é sua, rapaz?
— Sim senhor.
— Fica pertinho do palácio, não?
— Pois fica.
— Vamos fazer um negócio?
— Vamo não.
— Mas você nem ouviu ainda!
— Mas essa vinha foi herança de meu pai, e não quero me desfazer dela.
— Rapaz, isso aqui ia ficar lindo como horta real, já imaginou? Imagina!
— Tô imaginando.
— E aí, vamos fazer negócio?
— Vamo não.
— Puta que pariu! Eu te dou um vinha melhor que essa!
— Melhor que essa, é?
— É!
— Quero não.
— Eu te pago em dinheiro! Pago o dobro do que ela vale!
— Carece não!
— Te pago o triplo!
— Precisa não.
— PAGO QUATRO VEZES O QUE ESSA BOSTA VALE, TE DOU OUTRA VINHA DUAS VEZES MELHOR E TE DEIXO COMER MINHA MULHER!
— Dona Jezabel, é?
— Ela!
— Quero não!
— HMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMF.
Sufocando sua raiva e frustração, o rei saiu dali batendo os pés, entrou no palácio e se deitou em sua cama de cara para a parede e com o dedo enfiado na boca. Aos que lhe vinham perguntar o que tinha ou oferecer comida, apenas respondia com um “Uh-hum!” — ou qualquer coisa assim, era difícil entender o que ele dizia com o dedão na boca.
A reação do rei, muito madura e centrada, não tardou a virar o comentário do dia no palácio. Temendo que a novidade chegasse às ruas de Jezreel, Jezabel foi ter com seu esposo.
— Acabe, que bosta é essa?
— Uh-hum!
— UH-HUM O DIABO! DEIXA DE VEADAGEM E ME FALA O QUE ACONTECEU.
Obediente como sempre, mas um pouco relutante, o rei narrou à mulher os acontecimentos daquela manhã.
— Que vergonha, tamanho homem! Você é rei desta merda ou não é? Humpf. Levanta daí, levanta! Vai comer alguma coisa.
— Mas… E a plantação, meu bem?
— Deixa isso comigo! Amanhã mesmo a vinha de Nabote será sua.
Enquanto Acabe comia seus sucrilhos, Jezabel preparava seu plano. Escreveu algumas cartas em nome do rei, seladas com seu sinete, e as enviou para as autoridades de Jezreel. As cartas davam instruções para um grande jejum coletivo na cidade, que deveria ter Nabote no lugar de honra. E ali estava Nabote, sentado em sua cadeira cada vez mais desconfortável, sentindo sobre si o peso dos olhos de seus conterrâneos, que nada entendiam. Ficaram assim por longos minutos, até que o homem sentado logo à frente de Nabote resolveu puxar assunto:
— Você é Nabote, não é?
— Sou sim — respondeu ele, sabendo que seu interlocutor era um sujeito de má fama na cidade, bandido e mau caráter.
— Ah, eu te conheço!
— Eu também! — disse o que estava ao lado do homem, outro elemento suspeito. — Não é você o grande ateu de Jezreel?
— Ateu? Eu? Hã?
— Isso, ele mesmo! Vive dizendo que esse negócio de Javé não está com nada, que ninguém nunca viu Javé, que é tudo uma jogada política para acabar com as outras culturas da região e tal.
— COMO?
— Não se faça de besta! Eu mesmo ouvi você falando essas coisas no bar ontem à noite. Dizia também que Acabe é um bebê chorão, e que Israel merecia um rei macho de verdade.
— HEIN?
— Disse que quem manda no negócio todo é Jezabel, e que o rei vive debaixo da saia dela.
— Mas isso é um absurdo! Vocês não acreditam nesses dois, não é verdade? Ora, vocês conhecem a fama desses sujeitos, e conhecem a minha. O que acham?
Era tarde demais para Nabote, porém. Enfurecido pelo rumor levantado pelas duas testemunhas — segundo a lei mosaica, quantidade suficiente para se condenar alguém —, o povo levou o pobre coitado para fora dos muros da cidade, e ali o matou a pedradas.
No palácio, Acabe recebeu a notícia da boca de sua esposa, que o convenceu a ir imediatamente tomar posse da plantação. O rei se levantou e foi caminhando até a vinha. Quando se aproximava, notou de longe um homem que vestia roupas esfarrapadas, e lançava em sua direção um olhar que parecia hostil. Chegando mais perto, não teve mais dúvidas de quem se tratava.
— Então você já me achou, meu inimigo?
— Não foi difícil — respondeu Elias —. Primeiro, porque sei que você vem passar o verão aqui em Jezreel. Depois, porque a notícia de tudo o que você tem feito de mau e criminoso deixa Javé cada dia mais irritado.
— Mas o que foi que eu fiz?
— Não se faça de idiota! Mandar matar ou deixar de impedir uma morte é o mesmo que assassinato, você sabe muito bem disso. Tenho um recado de Javé para você, rei Acabe.
— Lá vem…
— Ele diz que varrerá da terra todos os homens de sua família, de modo que não deixe descendentes. O mesmo que ele fez às famílias dos reis Jeroboão e Baasa, fará à sua. O cadáver de Jezabel, a prostituta que você chama de esposa, será devorado pelos cães junto ao muro da cidade. Todos os parentes dela que morrerem na cidade terão o mesmo fim, e os que morrerem no campo serão devorados pelos abutres.
Ao ouvir a maldição proferida por Elias, o rei tremeu de medo. Tentando reconciliar-se com Deus, rasgou suas roupas em sinal de arrependimento, vestindo um camisolão de pano de saco. Ficou sem comer durante dias, dormindo no chão duro e exibindo um semblante abatido. Ao ver a reação de Acabe, Javé resolveu rever suas ameaças:
— Elias, diga a ele que lhe dou uma segunda chance. Já que ele se mostra tão arrependido, não vou mandar toda essa desgraça para a vida dele.
— O senhor é muito misericordioso, Javé. Estou surpreso.
— Em vez disso, a desgraça toda recairá sobre o filho dele.
— Que não teve nada a ver com a história?
— Isso.
— Retiro o que eu disse.
— Deixa eu me divertir um pouco, porra!
Termina de forma meio abrupta, né? NA biblia que eu tenho aqui o versículo 25 diz literalmente que “não houve ninguém que praticasse tanto o mal aos olhos do Senhor como Acab, EXCITADO como era por sua mulher Jezabel”.. o que nos leva àquela velha história de que o homem não tem sangue que chega.. quando uma cabeça funciona..
o/
Eu te amo, sabe?
Aaaahhhhh! Chegou o maná para me tirar do jejum bíiblico. Que fim de semana de Martin Luther King perfeito: show do Raimundo Fagner, JMC hoje, daqui a pouco ponho o LP do “I Have a Dream” para rodar e tomo café. Aproveitando a deixa do Javé, feita que sou à sua semelhança, peço ao meu filhote que me sirva o café. Grande Marco Aurélio, obrigada.
Elias de volta!
E a minha querida amiga Jezabel!
Capítulo novo de ano novo.
Obrigada, Profeta.
Tá demorando tanto pra sair, que eu tou esquecendo sempre do capítulo anterior…
Mas convenhamos, vale a pena ler tudo de novo :p
Valeu a pena esperar.
Obrigado.
Nem acreditei quando vi que tinha capítulo novo… Tomara que você ganhe na Mega-Sena acumulada só para pôr tudo na Poupança e nunca mais precisar trabalhar, ficando assim com tempo de sobra para coçar o saco e escrever novos capítulos da Bíblia. E que Javé abençoe minhas palavras.
Aleluia!!! Aleluia!!!
Demorou, mas saiu.. e ficou show!!!
Agora para de trabalhar, e volta a escrever mais histórias da bíblia, do abutre, etc… (reli todo o JMC enquanto esperava novo post).
Em um dos posts, acredito ainda na época de Noé, vc colocou o seguinte parenteses: (fosse assim até hoje, não teriamos tantos ateus) referindo-se ao fato de deus sempre aparecer quando queria alguma coisa…. num sei não, do jeito que ele é, melhor que fique meio sumido mesmo.
obs: quase tive um ataque bronco-peneumonico quando recebi o e-mail da atualização do site….ALELUIA!!!
Esse final me lembrou o bom e velho Javé de Moisés.
Vê se me convida pro casamento, hein seu puto!
Ah, o adsense nos comments está abrindo na mesma janela, quase perco esse comentário. E também fica difícil a navegação no site destino com esse tamanho de janela.
[]’s fião!
muito bom, como sempre! poderia ter mais sacanagem….
Se tivesse capítulos novos com mais frequencia, eu vinha aqui mais vezes…
Mas eu não estou reclamando não, estou só constatando. É melhor desse jeito mesmo. Qualidade antes da quantidade.
— Que não teve nada a ver com a história?
— Isso.
— Retiro o que eu disse.
SENSACIONAL Marcurélio,
S E N S A C I O N A L !!!!