UPDATE: FALEI BOSTA. (título original: “Vou pedir asilo”)

Hoje (25 de maio de 2020), sei lá por quê, me lembrei desse texto que escrevi mais de dez anos atrás, em fevereiro de 2010. Deve ser o tédio da quarentena. Não importa. O negócio é: falei merda.
Primeiro, porque não sei o que é ser gay no Brasil, em São Paulo, no Largo do Arouche. Deduzi uma coisa baseada no lugar em que morava, o que é uma bobagem. Evidência anedótica da pior qualidade.
Depois, a segunda parte do texto é coisa típica de cabeça de planilha. As contas estão certas, mas em cima de premissas erradas. Quando se fala do assassinato de gays, ou de feminicídio, esses grupos estão falando de crimes de ódio: gays mortos por serem gays, mulheres mortas por serem mulheres.
Eu pensei em apagar o texto, mas achei melhor deixá-lo aqui, para exibir minha ignorância de dez anos atrás.

Texto original: Vou pedir asilo
É isso mesmo: vou pedir asilo pro Tio Sam e quero ver não me darem. Explico:
Vocês já devem ter lido por aí (se não leram, tem a notícia da Folha só para assinantes aqui e reproduzida aqui): um rapaz de Minas Gerais pediu asilo nos Estados Unidos porque sofre perseguição no Brasil por ser gay. Muito bem. A justiça americana dá brecha (epa) para gays perseguidos mundo afora pedirem asilo por lá. Acho muito certo. Imagino a merda que deve ser a vida de um gay — pior ainda, de uma lésbica — num país muçulmano, por exemplo.
Não é o caso do Brasil. Moro no meio do reduto gay, vejo a bicharada espevitada todo dia na rua. Então não vejo essa perseguição aos gays, mas também não sei da missa a metade. O sujeito lá de Minas é gay, se sente perseguido, foi pedir asilo na gringa, aceitaram. Ponto pra ele.
Palmas pra ele!
Só que aí tem um negócio: diz que a primeira vez que ele sofreu discriminação foi quando recebeu uma repreensão verbal da polícia no Largo do Arouche.
Peraí.

Índio Caçador, ícone do Arouche


Eu moro no Largo do Arouche, já trabalhei no Largo do Arouche, conheço o Largo do Arouche há anos (e não adianta o Arouche dizer que não — *rimshot*). EU sofro discriminação no Largo do Arouche. EU é que sou estranho por lá, passando de mãos dadas com minha marida do sexo oposto. Os policiais daquele posto nem têm como discriminar os gays, pelo simples fato de que são milhares de gays passando por lá o tempo todo. Fora isso, dizer que é perseguido porque levou uma repreensão verbal dos puliça é muita veadagem.
Mas quem sou eu para dizer alguma coisa, né? O negócio é procurar uma fonte confiável nesses assuntos. E quem melhor do que o Grupo Gay da Bahia? Segundo o site deles, o GGB é  “… a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil”. Os caras são respeitados, então a defesa do gayzim mineiro usou dados do GGB para respaldar o pedido de asilo. Segundo eles, o Brasil é um país perigoso porque foram mortos 2.998 homossexuais em — olha só! — 29 anos.
Peraí de novo. Vamos fazer continhas.
Segundo o Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros, do Ministério da Saúde, quase 50 mil pessoas são assassinadas por ano no Brasil. Para ser mais exato, a média entre 2000 e 2006 foi de 48.173 homicídios por ano. Vamos considerar 48 mil por ano, então.  Lembrando: segundo o GGB, foram 2.998 gays mortos em 29 anos — 103 por ano.
Estão acompanhando até aqui? Então. Segundo o próprio GGB (aqui, em artigo assinado por Luiz Mott, presidente do grupo) os homossexuais são 10% da população brasileira. De cada 10 brasileiros, um é gay. E aí vem a distorção: quando se fala de homicídios, essa proporção aí é de 467 para 1. Ué. Nem é tão perigoso ser gay no Brasil. Perigoso mesmo é nascer aqui — gay ou não.
Vou pedir asilo nos EUA dizendo que o Brasil não é seguro para os gordos (ou carecas, ou encardidos). Quero ver quem é que me contesta.

16 comments

  1. As instituições de defesa de grupos minoritários no Brasil são, em sua grande maioria (senão absolutamente) palcos políticos. É lamentável pensar nisso e ver que há quem se aproveite deste tipo de coisa para benefício próprio. Triste.
    Agora, quero ver esse rapaz experimentar ser uma mulher gorda no Rio de Janeiro. Por um minuto só… Se rasgava todim, todim, rs.
    Beijos!

  2. Isso não é nada, perto da notícia de que um dos assassinos do João Victor, que foi arrastado preso pelo cinto de segurança do carro por 7 Km foi libertado, porque era dimenor na época e que pode ser mandado para a Noruega, pois não tem condições psicológicas de viver no Brasil.
    É mole?

  3. Parabéns, Marcão! É muito bom ler o texto de quem escreve bem e saber somar, subtrair, multiplicar e dividir.
    Você não acha que o pessoal da Folha deveria ter feito as contas que você fez?

  4. Quem estiver com medo de ser assassinado, basta virar gay que a probabilidade cai muito.
    Agora, sério:
    Eu vou pedir asilo à Itália por causa do tamanho do meu nariz. Eles vão saber aclher de braços abertos alguém com um nariz assim, porque sentem na pele (na cara) este problema.
    Ou então vou pedir asilo à Rússia porque eu gosto de beber vodka e no Brasil as pessoas gostam de cerveja.
    Na pior das hipóteses, se ninguém me der asilo por isso, pedirei asilo à Argentina porque no Brasil discriminam gente cretina. Eles não vão poder negar.
    No Brasil é que é perigoso ficar, pois a probabilidade de a Dilma ganhar é maior que a de alguém ser assassinado por ser gay. E não há nada pior que isso.

  5. kkkkkkkkkkkkk
    Sorry! Eu sei que para muitos este pode ser
    um assunto sério, mas não posso deixar de
    rir! Se a informação se espalha, o que vai
    ter de macho brasileiro assumindo o lado
    arco-iris da vida não tá no gibi!
    O que mais me impressiona é que os EUA tenham
    aceitado assim tão facilmente o pedido de asilo
    do rapaz! rs
    Interessante seu blog! Gostei bastante!

  6. Agora eu fiquei curioso, pq sera que morre tão pouco homosexual comparada a hetero??? será que o suposto gene da homosexualidade tb gera longevidade???

  7. Huummm!! Será que se ele manifestar seu “homoerotismo” lá no chamado Cinturão da Bíblia ele sai vivo? Imaginem no interiorzão do Alabama ou do Texas um sujeito “levar bandeja”!? Mas, pensando bem, eu também vou pedir asilo. Isso aqui tá inseguro demais!

  8. Olha cara, ser gordo, careca ( como vc disse) encardido ( idem), é normal quando vc por exemplo entra em uma loja, ou prestando serviço em varios condominios do Rio de Janeiro ( meu caso), ou simplesmente ir a banca de jornal, bar etc ou seja ninguem ou muito pouco vai ficar jogando piadinha o tempo td por ter essas caracteristicas acima, exceção? claro, sempre tem algum estupido por ai. Mas imagine um cara legal que nunca fez mal a ninguem, que quer viver normalmente ir ao mercado, ao shopping, a uma loja de materiais de construção onde existem varios ” peos” comprando, e ouvir comentarios, piadas, risos e ás vezez tapas na cabeça e quando olha pra traz vê uns cinco com cara de deboboche e nao poder falar nada! no onibus ver pessoas te olhando e comentando e rindo, e olhando denovo e denovo, e vc chegar ao ponto de ver que tds em tds os lugares te julgam e zoam na cara dura sem medo de vc pois sabem que nao fará nada e ninguem o defenderá! isso meu caro chama-se sofrimento, lagrimas, desconcentração no trabalho, contas, dores como qualquer um, e além de tds os problemas cotidianos soma aí o dobro de preocupação se vc vai em 14 condominios e tentar nao demonstrar efeminidade e por esta atenção nao faz o trabalho direito e o chefe fala: e aí porque nao fez certo o marcha lenta? isso é dor meu amigo. publica aí e agora diz a minha veadagem! mas oro por tí para nao saberes nem aqui e nem em outra vida o que é ser perseguido por tds em tds os lugares por ter uma caracterisca que é encontrada em tds a especies de mundo! ( so quero respeito) Natan: dou respeito e quero respeito. E digo: um dia nçao precisarei estar respondendo comentarios na esperança que alguem leia e sensibilize en tente fazer algo ou me prestar soliedariedade pois sei que nao virá. So me resta um dia eu nao aguentar mais e me matar, tenho 21 anos só e ja tenho tanto rancor que em breve se transformará em treva. Pesso a Deus que salve,.

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