Jeú cumpre sua missão

(II Reis 10)

Baal! Baal!
É a festa de Baal
Baal é nosso deus
Um deus muito legal
Amanhã vai ter festança
Vou beber e passar mal
Vai ter música e dança
E um banquete animal
Sacrifício, holocausto
Muito luxo e muito fausto
Lá no templo de Baal
Baal! Baal!
É a festa de Baal…

A população de Samaria já não agüentava mais aqueles alto-falantes sobressaltando a cidade com o jingle em ritmo de funk, composto por Jeú especialmente para a ocasião. A kombi de pamonha alugada pelo rei wannabe estava de volta à capital, depois de vários dias percorrendo todo o Israel para divulgar a grande festa de Baal.
Alguns ficaram desconfiados quando Jeú mencionou a festa pela primeira vez. Ele havia chegado à cidade depois de uma caçada aos descendentes do finado rei Acabe, e muitos atribuíam essa chacina a um zelo excessivo pela religião de Javé. Porém, num rápido discurso feito logo após a matança, Jeú deixara suas motivações bem claras.

Apenas uma semana antes, setenta filhos de Acabe viviam em Samaria, sob os cuidados das autoridades locais. Jeú enviara de Jezreel uma carta aos líderes da cidade:

Prezados chefes de Samaria,
Sei que os senhores estão muito bem aí cuidando dos interesses dos filhos de Acabe. Sei também que vocês têm armas de sobra, cavalos e carros de guerra. Então faço uma proposta: escolham aí o príncipe mais capaz, coloquem o cara no trono, e se preparem para defender a cidade.
Abraços!
Jeú

Os homens fortes de Samaria ficaram apavorados. Jeú tinha acabado de matar dois reis adultos e experientes no campo de batalha; o que faria com um pobre garoto? O encarregado do palácio, o prefeito, os militares, juízes e sacerdotes, todos se reuniram para pensar em uma resposta. Que saiu assim:

Caro rei Jeú,
Somos seus servos, estamos às suas ordens. Não vamos colocar ninguém no trono, o senhor faça o que achar melhor.

Ao receber o bilhete lacônico dos líderes, Jeú sorriu. Aquelas poucas palavras transpiravam medo, e era esse mesmo o efeito que ele queria causar. Então mandou outra carta a Samaria, dessa vez com instruções detalhadas:

Prezados chefes de Samaria,
Fico feliz em saber que os senhores estão do meu lado. Agora quero que provem sua lealdade: se me apóiam mesmo, tragam a cabeça dos filhos de Acabe até Jezreel amanhã.
Jeú

As autoridades leram a carta, releram, discutiram. Seria uma metáfora, uma alegoria? Não, não podia ser. Jeú não era dado a altos vôos de pensamento: se ele pedia cabeças, era isso mesmo que ele queria. E eles acabaram decidindo que era melhor garantir a própria vida. Sendo assim, mataram os setenta príncipes e mandaram suas cabeças em cestos de vime caprichosamente decorados e embrulhados em papel celofane. Depois de alguns momentos constrangedores explicando a remessa ao funcionário do correio, conseguiram mandar as cabeças a Jezreel.
Jeú recebeu a encomenda na noite seguinte e ordenou aseus capangas que empilhassem as cabeças no portão da cidade e as deixassem lá até amanhecer. Ele saiu de manhã e fingiu estar tão surpreso como todo mundo ao ver a cena nas portas da cidade: duas pilhas de cabeças infantis e poças de sangue coagulado sobre os pedregulhos, rostos que guardavam a expressão de surpresa e dor do momento da morte, alguns olhos, orelhas e lábios já removidos pelos abutres do deserto, ossos expostos aqui e ali.
— Vocês estão vendo? Eu comandei a revolta contra o rei Jorão, matei ele e Acazias, mas e esses aí? Quem os matou?
Os jezreelitas reunidos ao redor das pilhas de cabeças mantinham-se em silêncio.
— Do que mais vocês precisam para acreditar no que Javé prometeu? Nosso Deus disse que os descendentes de Acabe seriam varridos da face da terra, e hoje as cabeças dos filhos dele apareceram misteriosamente à nossa porta. É um sinal! Matem todos os parentes de Acabe que moram na cidade, todas as autoridades e sacerdotes ligados a ele!
Levados pela fascinação que vinha em parte do carisma de Jeú e em parte do horror causado por aquelas crianças sem corpo, os habitantes da cidade cumpriram a ordem.
Feita a limpeza em Jezreel, restava a Jeú conquistar a capital, Samaria, e sagrar-se rei de uma vez por todas. Ele juntou seus homens e pegou a estrada. No meio do caminho, ainda encontrou um grupo de pessoas que caíram na besteira de se identificar como parentes do rei Acazias. Eram quarenta e dois; os soldados de Jeú mataram todos. Mais para a frente, encontraram um certo Jonadabe, filho de Recabe, que era simpático à causa de Jeú e se uniu à caravana.

Chegando a Samaria, Jeú tratou de matar os poucos parentes de Acabe que ainda restavam. Depois disso, reuniu o povo na praça principal da cidade e fez seu discurso:
— Vocês estão vendo bem o que aconteceu com a família de Acabe. Isso aconteceu porque ele não foi fiel a Baal, nosso deus. Eu, meus bons samaritanos, sou um servo de Baal, e juro servi-lo por toda a minha vida. Para começar essa nova fase em Israel, vamos fazer uma grande festa no templo de Baal. Todos os adoradores e sacerdotes de Baal estão convidados. Já fiz até uma musiquinha para divulgar a festa. Agora só preciso de uma kombi de pamonha…
E foi assim que, dias depois, todos os baalitas afluíram ao templo de seu deus, alegres e vestindo suas melhores roupas de festa. O templo ficou completamente cheio. Todos conversavam e riam, mas fizeram absoluto silêncio quando a figura de Jeú surgiu no lugar de honra do templo. Jeú desfrutou alguns instantes o efeito, limpou a garganta com um pigarro e disse:
— Atrás de Baal só não vai quem já morreu! [“ÊÊÊÊÊ!”, gritou o povo] Que venham os abadás!
Os sacerdotes de Baal entraram pelas portas laterais, trazendo os mantos sagrados de sua religião e distribuindo-os entre os presentes. Com todo mundo devidamente paramentado, Jeú convidou Jonadabe para juntar-se a ele no altar.
— Viva Baal!
— Viva!
— Todos vocês amam Baaaaaaaaaaaal?
— Sim!
— Alguém aí é servo de Javééééééé?
— Não!
— Quem quer Javééééééé?
— Ninguém!
— Quem quer Baaaaaaaaaaaaaaal?
— EEEEEEEEEEEEEEEEEU!
— VIVA BAAL!
— VIVA!!!
— Agora eu ofereço esses feixes de trigo a quem?
— BAAL!
— Jonadabe mata esses pombos para quem?
— BAAL!
— Nós sangramos esse touro para quem?
— BAAL!
— Esse bando de guardas trucida vocês para quem?
— BA… hein?
Era uma armadilha, e não havia como escapar. Um pelotão dos guardas de Jeú bloqueava as portas, enquanto o resto fazia cantar suas espadas no meio da multidão indefesa. Os soldados empilharam os corpos do lado de fora do templo e destruíram a imagem de Baal que estava no altar. Depois, Jeú transformou o local em um banheiro público.
Javé, desnecessário dizer, ficou inflado de orgulho com a astúcia de Jeú, o novo rei de Israel. Anos depois, porém, Jeú abandonou seu zelo exagerado. O final do capítulo sugere que ele chegou a adorar os bezerros de ouro feitos por Jeroboão. É de se pensar se ele não teria olhado para trás e percebido que, por baixo do verniz das justificativas religiosas, ele não passara de um assassino em série.
Após 28 anos ocupando o trono, Jeú morreu e foi substituído por seu filho Jeoacaz.

9 comments

  1. Tem algo de estranho neste último.
    Tá faltando algo. Não sei se humor, ironia ou sacanagem mesmo.
    Anda triste, Marco?
    Será a vida de casado? hahaha! Brincadeira, hein?

  2. rapá, que texto mais sério dos diachos, cê comeu banana podre? Doeu pra sair? nem terminei… (aliás, nem comecei direito).
    Que tal tirar isso daí, jogar fora e começar de novo?
    um troço arriscado quando a gente aprende técnicas é perder a espontaneidade. Vc fez um texto certinho que nem alemão com dor de dente. Não é vc.

  3. O Eliseu, pelo jeito, não terá trabalho nenhum. Não era para ele matar quem escapasse de Jeu e do rei Sírio (esqueci o nome dele)? Bem, pelo jeito ele não terá tanto trabalho assim.
    Por isso ele aparece pouco nessa história. Ele deve está numa boa, curtindo férias.

  4. Interessante! Será que farias o mesmo com o alcorão e os ditos de chico xavier? Ou o teu ateísmo é vinculante à Bíblia. Ei, tem ainda a maçonaria e ocultismo (blog do sedentário & hiperativo). Vamos lá, mostre seu talento diante o ocultismo do Tio Marcelo Del Debbio. Não sejamos fariseus!

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