MIA

Cheguei ao aeroporto de Miami ontem, pouco depois das cinco da manhã. Após oito horas espremido na classe econômica, eu já antecipava o conforto de um banho quente, uma boa cama. O vôo para Orlando só sairia às sete, e depois disso eu só precisaria enfrentar mais uma hora de sardinha e pronto.

Inocente que sou, não estava contando com a alfândega. Um negão (por aqui os negões são negões mesmo) me mandou para outra fila, separando-me dos dois colegas brasileiros. É claro que a fila deles andou mais rápido e, para resumir a história toda, perdi o vôo. Fui remarcar e ainda precisei esperar quinze minutos enquanto um brasileiro esperto tentava salivar a moça da American Airlines para que o deixasse entrar no avião que já se preparava para decolar. Quando chegou minha vez, elogiei a paciência da funcionária, disse que estava na mesma situação. Ela foi muito gentil e me informou o horário de partida do próximo vôo para Orlando: 12h10min. Sua colega de balcão entrou na conversa, reclamou dos passageiros mal educados que vivem a pedir que se abra exceções, essas coisas. Pedi desculpas pelo compatriota, expliquei que nem todos os brasileiros são assim (mentirinha à toa).

Bem, eu tenho o costume de chamar as pessoas pelo nome. É uma gentileza besta, que não me custa nada, e que geralmente tem bom efeito. Para isso, estou sempre de olho no crachá de quem me atende. “RAQUEL”, dizia o crachá da primeira, “MIA”, informava o da segunda. Então me despedi de ambas:

— Thank you, Raquel. Thank you, Mia.

Em Raquel, o efeito foi o esperado, e ela abriu um sorriso. Mia me pareceu mais surpresa do que encantada. Nem liguei: saí satisfeito comigo mesmo, com minha gentileza, maturidade e estoicismo.

Ah, mas é claro que eu não vivo sem presepadas. Passeando pelo aeroporto, já preparado para quatro horas de bundagem, reparei que uma parede ostentava a inscrição “MIA” em letras enormes. “Que coincidência…”, pensei, mas lá no fundo uma voz já me dizia que eu tinha feito alguma besteira. Quanto mais eu andava pelo saguão, mais eu via a inscrição por todo canto. Comecei a me sentir um completo idiota, e resolvi tirar a prova. Entrei em uma banca, comprei uma latinha de Altoids, e perguntei à atendente se MIA significava o que eu começava a achar que significava.

— Sim. Miami International Airport.

Olhei para o crachá dela. “MIA”. Do lado esquerdo, o nome dela, Mirza.

— Eu sou um idiota, Mirza. Acabo de chamar uma funcionária da American Airlines de Mia.

A mulher teve uma tal crise de riso que já ia se esquecendo de me cobrar pelas balas. Eu me senti envergonhado e fiquei pensando no que fazer. Depois de vagar por um tempo, resolvi voltar ao balcão e pedir desculpas. “Mia”, que na verdade se chamava Johan, disse que não era necessário, que estava tudo bem. “How sweet…”, disse Raquel. E eu me senti mais idiota ainda.

Mais tarde, após outra confusáo com vôos, essa interação toda se mostrou bastante útil. Mas isso eu conto depois. Por enquanto eu só queria compartilhar com vocês mais este capítulo patético de minha triste vida.

26 comments

  1. Ah, mas a Raquel te deu mole!! Td bem q vc é um cara qse casado e honesto (ou seria qse honesto e casado?), mas sempre faz bem ao ego.

  2. Hehe! Tenho também umas histórias de crachás. Numa feira internacional certa vez estranhei porque os gringos riam de mim. Quando cheguei em casa percebi. Abreviaram minha função: ANAL SISTEM.

  3. Cara, chego aqui por indicação… quando vi, anderson encontrei um blog que se parece com a gente, fui logo ver. Quando vi o nome, pensei: la vem merda. rsrsrsrs.
    Mas gostei cara, e vou colocar lá nos meus favoritos para não perder o próximo post. rsrsrrs
    até.

  4. Minha historinha é diferente da sua, mas no mesmo “bat airport” e com a mesma “bat air company”. Eu vinha de Richmond, após alguns meses de intercâmbio e com uma infecção intestinal que nem overdose de Imosec segurava. Ao chegar no “MIA”, descobri que em Richmond minha mala (as muambas e eletrônicos estavam comigo, porém roupas e bugigangas estavam na mala) foi extraviada. Fui ao balcão da AA, e após muito custo (e um vale ‘almoço’ do Burger King – aliás, ótimo lugar pra quem tava se esvaindo, visitando o banheiro a cada 10 minutos e ficando uns 20 lá dentro) descobriram que minha mala visitou o Texas e eu teria que esperar ou receber minha mala 2 dias depois no Galeão. Só que eu teria muito tempo pra ficar no aeroporto (era hora do almoço qdo cheguei e meu vôo sairia só 11:30 da noite)… adivinhe que horas a mala chegou? Na hora que o check in fechava… e quase perdi o vôo, mas deu tempo de ensinar the brazilian way pra eles… abcs e enjoy ur travel! abcs

  5. Na minha primeira vez no US, em New Orleans, ao passar pela migração uma negona (sim, se Miami eles são de fato, imagine em New Orleans) me pediu meu passaporte para examinar.
    Ao entregar o passaporte, quis ser simpático com a mulher e disse “Hi… how are doing?” Ela: “Hi! Who are you?”. Pensei: “Caralho… a mulher tá perguntando quem sou eu!”. Prontamente, sem querer brincar com a oficial da migração, respondi “I’m Leandro Freitas”! Ela: “oh.. ok… next!”. Sem entender nada, saí do guichê e encontrei um amigo meu rindo muito… Foi aí que ele me explicou: “Ela não perguntou ‘who are you’, mas sim ‘how are you’… ela apenas retribuiu a gentileza”….
    Maldito sotaque do sul…


  6. “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,
    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?” (Fernando Pessoa)
    Esse foi o meu comentário mais chique. Desejo-vos-lhe uma boa viagem, e que vás e voltes em paz, levando a palavra a todos as terras e ilhas. Amém.

  7. Ei, Marco.
    Pois é, eu devia ter falado contigo, mas enfim, coisa de fã envergonhada.
    Da última vez que eu passei por Miami tbm perdi a conexão, é um inferno esse aeroporto. E na fila da imigração eu só pensava “ai, Jesus, não chicoteia com força assim…”.
    Bom, aproveite bastante aí e boa sorte no seu retorno!

  8. hauhauhuahu Mas q nada! Apesar da cagada, vc podia ter descolado o telefone dela ou alguma outra informação ou ‘prestação de serviço’ de uma das duas!
    Ser chicoteado não deve ser desculpa para esquecimento!

  9. Não esquece de ir na Best Buy, ver um monte de coisas q vc adora. vai ter tempo livre para compras? pra sua nova vida de casado, traz lençóis de 300 fios (no mínimo), q aqui custam uma fortuna e aí é barato.

  10. Cara, parabéns pelo blog! Muito show, passo mal de rir ao ler as postagens. Acabou me influenciando a criar um blog tbm, não é assim uma Brasstemp, mas ta indo!
    Abraços!

  11. Mermão… se tu fosse solteiro, tu ia viver um threesome american stile. Só mais 15 minutos de conversa e tava tudo engatilhado.

  12. Foi engraçado!
    Os guardas ainda usam bermudas no aeroporto de Miami?
    Eu também compratilho dessa gentileza de chamar a pessoa pelo nome. Acho importante, menos frio.
    Um bom abraço.

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